Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Mês: janeiro 2010 (Page 2 of 3)

Uma tirinha… Engraçada?

E.M. e as idéias
E.M. e as idéias

O que aconteceria se os personagens da tirinha fossem reais???
Já pensou se algum político de repente tem essa mesma idéia? E se de repente o cara contrata suas empresas para fazer segurança privada… Pra onde iria o dinheiro dos impostos? Esse político teria idoneidade para decidir sobre os rumos da segurança pública? Humm…

PS1: É sim uma tirinha engraçada… No mínimo dá calafrios… =)

PS2: E se o filho do político dissesse quase sem querer, de onde saiu o dinheiro de um certo castelo?

Tirinha direto do Malvados.com.br.

Todo dia ela faz tudo sempre igual…

É a gata das orelhas amarelas que todo dia faz tudo sempre igual. Por isso lembrei da música de Chico Buarque. A gata, todos os dias, entra no quarto e pula em cima da cama, à volta das seis e meia. Começa a passear por cima da gente, sem cerimônias. Acomoda-se em algum cantinho e cochila um pouco.

Acorda, levanta-se e continua o passeio, cheirando tudo. Começa a puxar os lençóis e a meter-se por baixo deles. Depois começa uma cantoria de miados bem altos, como se dissesse acorda! Estou aqui! Tá na hora de comer e beber água. Sim, porque ela gosta de beber água corrente, então é preciso abrir uma torneira, deixar escoar um filetezinho de água e esperar que ela beba.

Os gatos são muito metódicos e seguem uma cronologia diária muito bem marcada. Tem hora de dormir – a maioria – tem hora de brincar, de comer, de beber água, de miar insistentemente.

Afinal, é um belo despertador e não dá para ficar com raiva.

Alfonsina y el mar. De Ariel Ramírez, interpretada por Leopoldo Betancourt.

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A melodia já é tristíssima. Então, interpretada por Mercedes Sosa fica demasiado pungente. Só ao piano é claríssima.

Alfonsina Storni era poetisa. Argentina nascida na Suiça. Consta que suicidou-se caminhando mar a dentro, em 1938. Três dias antes de morrer, enviou a um jornal de Mar del Plata o soneto Voy a dormir.

Dientes de flores, confía de rocío,
manos de hierbas, tú, nodriza fina,
tenme puestas las sábanas terrosas
y el edredón de musgos escardados.

Voy a dormir, nodriza mía, acuéstame.
Pónme una lámpara a la cabecera,
una constelación, la que te guste,
todas son buenas; bájala un poquito.

Déjame sola: oyes romper los brotes,
te acuna un pie celeste desde arriba
y un pájaro te traza unos compases
para que te olvides. Gracias… Ah, un encargo,
si él llama nuevamente por teléfono
le dices que no insista, que he salido…

A armadilha da auto-referência. O exemplo dos cartórios no Brasil.

Auto-referência é a atitude consistente em mascarar uma finalidade pessoal ou corporativa, que deveria ser pública. Quer dizer, fazer por si e pelo grupo o que deveria ser feito pelo conjunto todo da sociedade, de forma velada. Ela sempre se apresenta como um tremendo elemento de confusão e de deslocamento de qualquer discussão do centro do problema.

Atualmente, por exemplo, discutem-se os cartórios no Brasil. Chovem lugares-comuns: estruturas arcaicas, feudos dominados por meia dúzia de privilegiados e por aí vai. Isso tudo é verdade, mas é curiosíssimo notar que a discussão, no momento seguinte, é capturada pela lógica auto-referente e encaminha-se no sentido por ela desejado.

Ao invés de se discutir a utilidade dos cartórios, que são estruturas redundantes, partiu-se para discutir a forma de obter-se a titularidade de um deles. Inseriu-se um elemento de moralismo redentor e desviou-se o foco do centro da questão. Ora, se um cartório bem podia não existir, que importa que o titular seja nomeado ou aprovado em um concurso público?

Importa é saber se deve haver cartórios, se eles são necessários. Depois disso, discute-se a forma de obtenção deles. Para a vastíssima maioria da população, o dono de um cartório é um privilegiado, pouco importando a forma de obtenção do privilégio. E a qualidade dos serviços tampouco dependerá disso. A discussão nesses termos só interessa ao grupo auto-referente dos potenciais detentores de cartórios.

Tome-se um exemplo. As prefeituras tem cadastros da propriedade imóvel, a partir de que lançam o imposto predial urbano. Resulta que a detenção dos mesmos registros por cartórios é redundante. Ora, se a coisa for vista com clareza, fica claro que as prefeituras podiam muito bem registras as transferências de propriedade e que os cartórios na verdade existem a bem deles próprios!

O problema não é o hardware. É, sim, o carro sem combustível.

Caro Severiano, quando vires essa postagem, toma como um convite para saíres da preguiça e voltares a escrever. E não leves a mal esse chamamento meio público, mas nesses assuntos tu tens muito mais talento e conhecimento que eu.

Voltei-me a essa matéria porque estamos na iminência de ter os serviços da GVT em Campina Grande. Trata-se de uma empresa de telecomunicações, recentemente adquirida pela Vivendi, francesa, que tem ofertado prestações de conexão de internet muito boas, se comparadas ao que se tem atualmente.

Essa questão das conexões, muito ruins, traz à mente a absurda desproporção entre a oferta de hardware e de conectividade. Embora computadores e outros petrechos tecnológicos sejam caros, no Brasil, esse não é propriamente um grande problema. São caros, mas não são impossíveis. Além disso, para a maioria das coisas a que serve de ferramenta um computador, para o usuário comum, o que existe vai bem.

O gargalo são as conexões, realmente muito ruins. Há que se insistir nisso. Eu, por exemplo, uso uma conexão 3g em casa, dessas de celular, da operadora Claro, do multimilionário mexicano. No preciso momento em que escrevo essas linhas, a conexão nada tem de 3g. Está lentíssima, operando em sinal 2g e caindo sempre. Lenta e instável, portanto.

A parte que me cabe, nessa estória, está sendo cumprida, quer dizer, as contas são pagas. E não só eu, mas todos cumprem sua parte, até porque se não pagar o serviço é suspenso. Quem não age corretamente são as empresas e o governo regulador. As empresas vendem e não entregam, sob o olhar complacente do regulador.

E veem-se muitos preocupadíssimos em ter computadores de última geração, telefones com mil e um recursos, o mais recente lançamento da Apple, o Blackberry mais poderoso e por aí vai. Acabam por ser um Jaguar sem gasolina no tanque, ou uma Ferrari em piso esburacado!

Exclusão é método que gera reação em cadeia. São Paulo é uma inviabilidade coletiva.

Exclusão, aqui, está em sentido mais amplo que o meramente econônimo. Quer dizer um modelo que, tão entranhado, vive-se como se nada mais houvesse alternativamente. E conduz ao suicídio coletivo, antecedido por níveis de desagregação social crescentes.

O fulano médio que se encontre em um engarrafamento de 150 Km, em São Paulo, por exemplo, sonha com um helicóptero. Inserido em um mar de absurdidade, de tempo perdido, de energia despendida, de potência que não se realiza, de destruição da paciência, de destruição da saúde mental e física, sonha com um helicóptero.

Sonha e não no terá, nunca. O fulano é incapaz de sair de quanto a propaganda inseriu-lhe na mente, de perceber que as maravilhas da mobilidade social são menos reais do que lhe fazem crer. Eventualmente, lembrará que a frota de helicópteros de São Paulo cresceu vertiginosamente. Não lembrará, é certo, que o crescimento foi vertiginoso, mas muito menos que o das pessoas e dos carros.

Não lembrará que a maravilhosa São Paulo, autoproclamada cosmopolita e oferecedora dos melhores serviços, dispõe de uma rede de metro cuja extensão é de um terço da que tem a cidade do México, outro bom paradigma de caos urbano. Não lembrará que a verdadeira riqueza é locomover-se de carro se isso for um desejo. Ou seja, riqueza é poder ir caminhando, se assim o quiser o fulano, ou de bicicleta, ou de metro, ou de ônibus, ou ficar em casa!

Não lembrará que os habitantes dos bairros pobres e das favelas – talvez o fulano médio nem se lembre que isso existe – estão insatisfeitos com suas vidas. E que, deseducados há gerações, reagirão como sabem, ou seja, selvaticamente. E essa reação pasmará o fulano, que acreditava na passividade daquela gente sem nome, que é pobre e desassistida porque quer, enfim. O fulano acredita nisso, sinceramente. Por isso mesmo, coerente consigo próprio, acredita que pode ter o helicóptero.

Entrou tão fundo na sua alma a propaganda de que ele pode ser o que quiser, desde que siga os manuais de prosperidade, que ele destroi-se em culpa. E, bem instalado na lógica da exclusão hierarquizada, quer a destruição de quem está abaixo dele e ousa reclamar, quando o certo era ler o manual e resignar-se.

Forte na sua colecção de idéias feitas, o fulano rejeitará qualquer coisa que vise a melhorar a vida em comum. Como um viciado, busca a solução em mais veneno e quer que todos tomem os mesmos venenos. O fulano não perceberá que menos exclusão, que a real prestação de educação pública, que a real prestação de assistência médica gratuita, que a real prestação de serviços de transportes públicos não são, aqui, uma questão de partido político ou coloração ideológica. São uma questão de inteligência ou burrice.

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