Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Mês: fevereiro 2010 (Page 1 of 7)

O Citroën DS da Rua de São Victor.

Quase todos os dias, passávamos pela Rua de São Victor, em Braga, a caminho do Centro. Um desses dias, reparei no DS da fotografia acima, em uma garagem. Tirei a foto com a câmera do telemóvel, coisa rara, que eu não tenho propriamente entusiasmo por fotos. Não me lembrava mais onde tinha metido a tal fotografia e, agora, minha mão enviou-ma por e-mail.

É um automóvel lindo. Elegante nas suas formas esguias e inovador na sua época. Ele foi produzido por vinte anos, entre 1955 e 1975. Inaugurou as fantásticas suspensões hidropneumáticas dos Citroën e a utilização de farois direcionais, entre outras inovações.

Remissão ou fim do mundo?

O Chile foi palco de outro terremoto devastador, digo outro por dois motivos, primeiro porque na década de 60 ocorreu lá, o mais forte terremoto registrado, de 9,5 pontos na escala ritcher. Segundo, porque esse ano houve já, um grande terremoto de dimensões catastróficas, no Haiti.

A notícia que correu o mundo ontem, foi provavelmente a notícia do terremoto do Chile, com vídeos no youtube e cobertura online dos quatro cantos do mundo, afinal tragédia alheia vende pacas, e eu fui um dos que comprou, talvez não bastante, mas o suficiente. Mas além dessa, houve outras, não tão quentes, mas reveladoras.

Duas dessas notícias eu li porque, por acaso, caiu em minhas mãos um Jornal do Comércio, a primeira é que fernando cardoso, num desses eventos criados para sua presença (provavelmente), fez, a meu ver, uma coisa inusitada, defendeu a descriminalização não só da maconha, como de outras drogas, pois “a política de guerra às drogas não está funcionando”. E ainda chamou reacionários aos que são contra a idéia, especificamente setores da ONU que são contra essa posição na américa latina. Está na página 11 do caderno Brasil do JC.

Não bastasse essa notícia, no mesmo caderno na página 16, diz que a Corte Constitucional Colombiana, rejeitou proposta feita por Uribe, aquele mesmo do futebol de cabeças, para realizar um consulta popular a respeito de um possível terceiro mandato. O impressionante na matéria, é que ele aceitou a decisão da Corte, e segundo está escrito, disse que era “preciso respeitar a norma legal”.

Quando soube da catástrofe no Haiti, torci para a natureza subir, leia-se, um furacãozinho nos Estados Unidos, ou algo parecido, quem sabe o segundo grande terremoto do ano ser lá??? Não deu certo, desceu, veio pro Chile, e depois dessas duas notícias fico pensando, será que o fim do mundo começou por aqui (como se já não tivéssemos problemas suficientes)? E se não, porque  será que esses dois estão buscando? Remissão? Redenção? (Enganação?)

Ai fico danado lembrando da letra dos “Strokes“, o fim, não tem final

Severiano Miranda

O que não conheço não existe!

Essa frase, a do título, exprime uma atitude mental bastante comum. As pessoas confundem a ignorância com a inexistência. Muito embora seja difícil atribuir essa postura somente às conveniências pessoais e sociais, é certo que a auto-justificação desempenha um grande papel nesse engano.

Vejamos o caso brasileiro. Este país tem as maiores desigualdades sócio-econômicas das Américas, medidas pelo índice de Gini. Significa que as distâncias entre os mais ricos e os mais pobres são imensas e, consequentemente, que há demasiados pobres, com tudo que vem a reboque da pobreza.

As pessoas, em geral, não se comprazem com a pobreza alheia, mas não querem vê-la, também. Elas querem estar à vontade para praticar uma indiferença sem culpas. Elas precisam não ver a pobreza, portanto, ou vê-la suficientemente disfarçada, menos escandalosa, menos acusadora. Vê-la, enfim, somente até o ponto de não dar insônia.

Então, criam-se fantasias visuais para diminuir esses contrastes tão agressivos e impudicos. Claro que não se devem reduzir os contrastes a ponto de todos parecerem mais ou menos iguais, senão as identidades sociais terminam por ficar muito tênues e os mais ricos não podem ser identificados. Esse seria o imenso erro e tiraria o emprego de muito colunista social. Há que se buscar o termo razoável, ou seja, algo como o sepulcro caiado, bem apresentável por fora e pútrido por dentro.

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Um calor assassino.

Esse texto não tem qualquer pretensão científica e não é uma afirmação do aquecimento global. Ele existe mesmo, com texto ou sem ele. Por não se chegar a um consenso sobre quem pagará a conta, adiamos a abordagem do problema. Enquanto isso, chuvas de mais e de menos, frios de mais e de menos, calores avassaladores vão nos destruindo a vida.

Quero enfatizar é o nível de desconforto que se vive, dia e noite, todo o ano, sem tréguas, aqui nestas plagas. É um calor quase tangível materialmente, como se fosse algo corpóreo, táctil. Provoca uma irritabilidade tremenda, uma indisposição para tudo, uma situação doentia. Não há exagero possível nas adjetivações, com tanto exagero nas temperaturas.

Alguém que viva nas grandes latitudes não compreende totalmente isso que digo. Nelas, há variações, e aos calores sucedem os frios, com etapas intermédias, dando ritmo às passagens do clima e à vida. As pessoas desenvolvem o fascínio do calor, porque ele afasta as dificuldades do frio. Mas, contam com a volta da estação fria e recebem-na satisfeitos, porque afasta a opressão do calor.

Isso aqui é a ante-sala da loucura e da inviabilidade da vida, como seria algum sítio em que fosse inverno todo o tempo. Essa é a comparação adequada, porque aponta o aspecto central. Ou seja, além de estar nitidamente mais quente, está quente o ano inteiro, sempre.

Ao contrário do frio, para o calor não há defesa. Andar nu ou semi-nu não é solução para o calor, é exibicionismo corporal, apenas isso. O mal-estar que se sente com uma camiseta de mangas curtas ou sem ela é o mesmo. Há uma diferença, na verdade, sem a camisa ainda se toma o sol, queimando fundo a pele.

Caminha-se um pouco e transpira-se a ponto de encharcar a camisa e sentir o colarinho pregado ao pescoço. Sai-se de um ambiente refrigerado e corre-se para o automóvel com ar refrigerado, para ir a qualquer canto que tenha também ar refrigerado. Se algum trabalho impõe os trajos completos, camisa, gravata e paletó, então é quase um martírio, além do ridículo, é claro.

Dilma Roussef, José Serra e o Google. Como pensa o brasileiro de classe média?

O que as pessoas pesquisam atualmente no Google sobre Dilma Rousseff e José Serra?

Vamos admitir que os resultados do Google são dados por relevância do termo pesquisado. Vamos admitir que o Google – embora nada o impedisse – não comercializa a relevância desse ou daquele termo, alterando seu algoritmo. Vamos admitir que o Google – uma empresa como qualquer outra, visando a dinheiro – não tem interesses políticos imediatos.

Depois de admitir essas premissas, passemos a outras, entretanto. Interesses pessoais revelam-se por perguntas, por pesquisas, enfim. Acesso a meios de pesquisa dependem da extração sócio-econômica do pesquisante. Propaganda mediática feita no formato subliminar de jornalismo influencia o que os destinatários buscam como informação não-jornalística.

Por fim, admitamos que palavras adjetivas vêm carregadas de valores e que não são axiologicamente inertes nem abstratas. Há delas que revelam uma aparente neutralidade, que é de valoração positiva, há delas que revelam qualificações negativas. Continue reading

Mordechai Vanunu, a bomba atômica israelense e o Nobel.

Mordechai Vanunu foi indicado para o prêmio Nobel da paz. Escreveu uma carta para a Academia de Estocolmo e disse que não o queria. Disse que não pretendia figurar numa lista de agraciados que inclui Shimon Peres, o artífice das bombas nucleares israelenses. É raro alguém rejeitar laúreas dessas, com argumentos tão incisivos, que deixam evidente o quanto há de aleatório e de hipócrita no famoso prêmio sueco.

Vanunu é filho de pai rabino e foi criado em ambiente ortodoxo. Afastou-se, contudo da ortodoxia. Trabalhou, em posição meio subalterna, no complexo nuclear de Dimona, no Sinai. Essa usina de tecnologia francesa foi o princípio do rapidíssimo desenvolvimento da tecnologia nuclear bélica de Israel. Enriquecendo e comprando clandestinamente urânio, chegaram às estimadas 200 ogivas nucleares.

Em certo momento, Vanunu foi para a Inglaterra e vendeu a um jornal uma estória interessante. Tratava-se de pormenores do programa nuclear israelense, desenvolvido em Dimona, onde ele trabalhara. Acontece que o dono do jornal era judeu e o Mossad não levou muito para encontra-lo, findando por sequestra-lo em Roma. Continue reading

Viagem ao fim da noite, de Céline.

É preciso falar pouco sobre esse livro, tão grande o livro. Ele é do tempo entre guerras, do século passado, é inegável. Do entre guerras e da prosperidade material, não vivida então, mas fartamente anunciada pelos triunfos da técnica. Os começos e os finais de épocas são complicados, neles não há certezas, há dissolução. O século XX começou em 1918, depois da imensa guerra européia, e essa obra não se entende sem a guerra.

A Viagem ao fim da noite tem uma nota fortíssima de intranscendência. Sim, porque a desesperança pode ser transcendente, pode ser até indiferente, mas pode ser intranscendente. Aqui, ela não anuncia qualquer possibilidade de purgação – não quer isso. Não é tragédia, pois os deuses não intervêm. A catarse não está em jogo, pode até existir, mas não é a questão.

Sugiro, para que se perceba por outros estímulos o que esse livro pode ser, que se escute a Valsa, de Ravel.  Além, é claro, do próprio livro, muito bom.

Zorba, o grego, dança!

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– … Se eu tiver vontade, você sabe, só se eu tiver vontade. Trabalhar para você está certo, quando quiser. Sou homem seu. Mas o santuri é diferente. É um animal selvagem e precisa de liberdade. Se eu tiver vontade, eu toco e chegarei mesmo a dançar. E dançarei o zeimbekiko, o hassapiko, o pendozali – mas, digo desde logo, só se eu tiver vontade. Bons entendimentos fazem bons amigos. Se você me forçar, acabou-se. Para essas coisas, é preciso que você saiba, sou um homem.

– Um homem? O que quer dizer com isso?

– Pois bem, livre!

Fernando Pessoa e a liberdade.

Gosto muito dos livros em edições de bolso. Encontrei o Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa, neste formato, da editora Companhia de Bolso, na livraria Saraiva em Recife. Desde então, ando lendo-o. Hoje, deparei-me com este belíssimo texto, cuja lucidez não se encontra muito comumente:

“A liberdade é a possibilidade do isolamento. És livre se podes afastar-te dos homens, sem que te obrigue a procurá-los a necessidade do dinheiro, ou a necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade, que no silêncio e na solidão não podem ter alimento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo. Podes ter todas as grandezas do espírito, todas da alma: és um escravo nobre, ou um servo inteligente: não és livre. E não está contigo a tragédia, porque a tragédia de nasceres assim não é contigo, mas do Destino para si somente. Ai de ti, porém, se a opressão da vida, ela própria, te força a seres escravo. Ai de ti, se, tendo nascido liberto, capaz de te bastares e de te separares, a penúria te força a conviveres. Essa, sim, é a tua tragédia, e a que trazes contigo.

Nascer liberto é a maior grandeza do homem, o que faz o ermitão humilde superior aos reis, e aos deuses mesmo, que se bastam pela força, mas não pelo desprezo dela.

A morte é uma libertação porque morrer é não precisar de outrem. O pobre escravo vê-se livre à força dos seus prazeres, das suas mágoas, da sua vida desejada e contínua. Vê-se livre o rei dos seus domínios, que não queria deixar. As que espalharam amor vêem-se livres dos triunfos que adoram. Os que venceram vêem-se livres das vitórias para que a sua vida se fadou.

Por isso a morte enobrece, veste de galas desconhecidas o pobre corpo absurdo. É que ali está um liberto, embora o não quisesse ser. É que ali não está um escravo, embora ele chorando perdesse a servidão. Como um rei cuja maior pompa é o seu nome de rei, e que pode ser risível como homem, mas como rei é superior, assim o morto pode ser disforme, mas é superior, porque a morte o libertou.

Fecho, cansado, as portas das minhas janelas, excluo o mundo e um momento tenho a liberdade. Amanhã voltarei a ser escravo; porém agora, só, sem necessidade de ninguém, receoso apenas que alguma voz ou presença venha interromper-me, tenho a minha pequena liberdade, os meus momentos de excelsis.

Na cadeira, aonde me recosto, esqueço a vida que me oprime. Não me dói senão ter-me doído.”

Olívia Gomes

Um dos motivos porque acredito que Serra está fadado ao fracasso.

Abaixo vai trecho da entrevista que Fernando Cardoso deu a revista veja, onde diz claramente, “-O Serra é estati…”, acredito eu que o final fosse “…zante” (estatizante), ele fala isso como se fosse bom. E ainda diz que foi Serra que quis a privatização da Vale e da Light. Muito bem.

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Eu já disse isso, e repito, alguem precisa realmente dizer a ele que o pensamento está equivocado, se ele quer eleger Serra, tem que dizer o contrário.

Direto aos fatos: as telefônicas foram vendidas (entregues) a preço de banana, e pagas “na valsa” com o lucro, e o dinheiro emprestado pelo próprio governo. Beleza, agora Luiz Inácio diz que vai reerguer a Telebrás para difundir banda larga no país, principalmente onde as empresas privadas não tem interesse econômico. Não é segredo para ninguem que o serviço prestado pelas telefônicas nas áreas que deveria investir são péssimos (banda larga e telefonia celular), já que as linhas fixas foram praticamente herdadas do sistema antigo.

E quando Lula fala sobre a Telebrás, a Folha de São Paulo, veículo de comunicação sabidamente vendido, faz uma pesquisa sobre a aprovação popular da medida. A pesquisa folha, indica que dentre 10.391 pessoas (até o momento em que escrevo), 9.790 pessoas (94%) são a favor da reativação da Telebrás, e 601 pessoas são contra (4%), há algumas considerações em torno desse percentual a que se pode chegar, ninguém gostou das privatizações das telecomunicações (ou quase ninguem, afinal temos 601 pessoas contra a Telebrás), bom, caso o percentual de aprovação das privatizações seja maior, então fato é que, há muita gente insatisfeita com o trabalho de quem comprou as tele. As empresas não funcionam, prova disso é a telefônica ter sido proibida de vender speedy (seu plano de banda larga ADSL), o serviço prestado é de péssima qualidade.

Bom, notável que a coisa talvez vá  funcionar melhor quando o governo entrar no jogo. Mas é cômico ver o presidente da telefônica, Antônio Carlos Valente, cobrar incentivo à banda larga, a definição de políticas públicas, além de desoneração tributária para produtos e serviços. Oras, ele já não teve o suficiente recebendo a empresa de graça e nunca investindo de volta nem um tostão do lucro obtido na empresa? Em 2005 o lucro foi de $6.184 bilhões USD. Isso só em 2005, em 2009 ocorreu a proibição de venda do speedy, ou seja, ele simplismente não investe, ele quer dinheiro do governo para investir, é como se dissese, essa é a parte do meu patrão, se voce  governo brasileiro quer melhora no serviço, pague voce mesmo pela melhora. Que tipo de empresa é essa??? Hááá!!! Uma sem concorrência… Entendi.

Severiano Miranda.

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