Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Mês: março 2010 (Page 1 of 6)

A justiça brasileira é muito cristã? Que tal feriado de Páscoa desde a quarta-feira para todos ou para ninguém?

A Páscoa é a época mais importante para os adeptos da religião do Galileu, pois nela celebra-se sua ressurreição. Ele terá sido morte, por crucifixão, na sexta-feira e terá ressuscitado no domingo. A Páscoa judaica é uma celebração da passagem da morte, que, entretanto, poupou os filhos de Israel.

O Galileu morreu no primeiro dia de Páscoa. Foi logo enterrado, porque não se podiam fazer funerais no dia seguinte, o principal da celebração judaica. E, no domingo, ressuscitou.

A celebração da Páscoa cristã assumiu enorme importância nos países de maioria dessa religião. Na ortodoxia, inclusive, é nitidamente mais importante que a celebração da natividade, que ocorre por ocasião do solstício de inverno do hemisfério norte. Exatamente por isso, tornaram-se a sexta feira e o domingo feriados.

Em países de maioria cristã, embora laicos, faz sentido que sejam datas comemorativas e, portanto feriados no calendário legalmente estabelecido. Todavia, deve haver alguma relação entre o intuito de celebrar a Páscoa e a condição de feriado legal desses dias.

No colosso tropical sul-americano, a Páscoa implica em feriado na sexta-feira e o domingo, esse já é legalmente dia de folga. Todavia, o poder judicial brasileiro não funciona desde a quarta-feira, diferentemente do restante dos mortais brasileiros! Serão os funcionários da justiça mais cristão que o restante da população? Enfim, essa não é uma pergunta tão boba em um país que proclama, na sua constituição, tanto a laicidade, quanto a igualdade.

Portugal mantido a crédito.

No ano passado, em Portugal, tive a percepção de que muitas pessoas viviam além de suas posses. Apenas uma reunião de indícios, de impressões, nada, enfim, de científico ou fundado em pesquisas. Mas, bastava observar a voracidade com que se adquiriam os telemóveis e os computadores portáteis mais novos, os automóveis mais recentes, os lançamentos imobiliários. Por outro lado, as rendas do trabalho permaneciam bastante deprimidas, comparando-se à Espanha, por exemplo.

Quer-se consumir como o restante da Europa sem, contudo, produzir o equivalente. O ambiente estimula a crença nessa possibilidade. As estradas com portagens, por exemplo, são muito boas e cortam o país todo. Isso leva a crer em um país de automobilistas condutores das mais recentes máquinas. As telecomunicações, também boas e abrangentes, levam o consumidor a crer numa total integração aos padrões de consumo de outros países.

Leio, no DN, que o endividamento médio do português vai a € 18,3 mil euros, frente à banca estrangeira. E que essa dívida representa 111,7% da riqueza produzida pelo país, ou seja, que o pais está hipotecado aos bancos. Ora, não é exclusividade de Portugal dever mais do que produz e há variados exemplos disso. Os mais eloquentes veem dos EUA, que devem mais do que têm. Acontece que eles também possuem, a par com toda a dívida, as maiores forças armadas do mundo e isso permite a festa.

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O Pantocrator e uma controvérsia anacrônica no nascimento.

Pantocrator, mosaico de Hagia Sophia.

O Islão não admite imagens, em postura coerente com o sistema que representa. O judaísmo – de que o islamismo é muito próximo conceitualmente – também não nas admite. Para uns e outros não houve personificações da deidade e os profetas – ou o único deles – não eram mais divinos que os comuns dos homens. Logo, o abstrato apreensível apofaticamente não pode ser representado, assim como seu próprio nome não pode ser dito. E não pode por razões lógicas, não se tratando de simples proibição normativa.

Os que seguem a corrente do segundo contrato com deus, celebrado mediante um sacrifício humano e aberto à adesão de quantos queiram, assumem que uma pessoa teria participado da deidade. E que essa participação não teria afastado sua historicidade, ou seja, terá havido quem viu essa pessoa. Claro que é algo complicado de se enunciar e que se perdeu a ocasião de ficar com a melhor saída, o arianismo. Todavia, quem foi visto pode ser representado.

Em decorrência da proscrição de imagens pelo Califa Jesid, instaurou-se uma tremenda polêmica na cristandade e no Império Bizantino. Imperadores acharam a ocasião politicamente favorável a aderir à proscrição ditada pelo Califa. O Imperador Leão III teve sérios problemas por seguir a proibição e tentar impô-la nos domínios bizantinos. Em 787, o segundo Concílio de Nicéia proclamou o fim da questão e a permissão das imagens.

Se a decisão tivesse sido outra, teríamos sido privados de muitas belíssimas obras de arte, como o Pantocrator da fotografia. Tive ocasião de vê-lo, em Hagia Sophia, a basílica erguida em Constantinopla, em homenagem à sabedoria de deus. Venceu, afinal, o bom gosto.

Habanera, por Maria Callas.

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A Carmen, tem essa esplêndida ária, a Habanera. Essa ópera de temática espanhola foi realizada por Georges Bizet, um basco francês. Poucos cantaram o amor com inteligência, muitos, certamente, com pieguice e lugares-comuns.

Quand je vous aimerai?
Ma foi, je ne sais pas,
Peut-être jamais, peut-être demain.
Mais pas aujourd’hui, c’est certain

L’amour est un oiseau rebelle
que nul ne peut apprivoiser,
et c’est bien en vain qu’on l’appelle,
s’il lui convient de refuser.
Rien n’y fait, menace ou prière,
l’un parle bien, l’autre se tait:
Et c’est l’autre que je préfère,
Il n’a rien dit mais il me plaît.
L’amour! L’amour! L’amour! L’amour!

L’amour est enfant de Bohème,
il n’a jamais, jamais connu de loi;
si tu ne m’aimes pas, je t’aime:
si je t’aime, prends garde à toi!
Si tu ne m’aimes pas,
Si tu ne m’aimes pas, je t’aime!
Mais, si je t’aime,
Si je t’aime, prends garde à toi!
Si tu ne m’aimes pas,
Si tu ne m’aimes pas, je t’aime!
Mais, si je t’aime,
Si je t’aime, prends garde à toi!

L’oiseau que tu croyais surprendre
battit de l’aile et s’envola …
l’amour est loin, tu peux l’attendre;
tu ne l’attends plus, il est là!
Tout autour de toi, vite, vite,
il vient, s’en va, puis il revient …
tu crois le tenir, il t’évite,
tu crois l’éviter, il te tient.
L’amour! L’amour! L’amour! L’amour!

L’amour est enfant de Bohème,
il n’a jamais, jamais connu de loi;
si tu ne m’aimes pas, je t’aime:
si je t’aime, prends garde à toi!

Nem tudo está à venda.

Grigory Perelman, matemático russo.

Uma das infâmias mais repetidas é que tudo está à venda, variando-se apenas os preços. Ora, muita coisa está, sim, à venda, mas não tudo. Chega a ser bastante arrogante enunciar uma verdadeira lei – o que acontece com uma proposição que tenha sempre ou tudo – reveladora das propensões humanas, sem exceções. Nem tudo está à venda, na verdade.

É desconcertante para as pessoas que vivem a precificar tudo constatar que as vontades podem reger-se por mais que regras de comércio. Perdem a certeza que tinham da existência de uma regra válida, imutável e segura, que pusesse as reações humanas como pressões por recompensas, apenas.

Quando alguém tem um comportamento que desmente a regra do tudo está à venda, é considerado louco, em maior ou menor grau. Essa é a única porta de saída aberta pelo sistema social. Para manter válida a norma e não tirar o chão debaixo dos pés das pessoas, os comportamentos que a contrariam são tachados de loucura. Pode ser diretamente, ou por meio de insinuações.

O indivíduo da fotografia acima desvendou a Conjectura de Poincaré, e desenvolveu uma solução algébrica que tornou-a em teorema. Esse problema era considerado um dos sete maiores do século e, por isso, o Instituto de Matemática de Clay instituiu um prêmio de um milhão de dólares para quem o resolvesse.

Grigory Perelman desdenhou do prémio que lhe foi atribuído e não o fez porque já fosse rico e por isso não precisasse do dinheiro.  Em outra ocasião ele deixou de ir a uma cerimônia em que seria homenageado e agora, quando jornalistas do Daily Mail o procuraram para falar do assunto, nem abriu a porta e disse tenho tudo que quero.

Ele representa a grande ameaça. Enquanto é um ou são dois ou três, deixam-se ficar com o rótulo de loucos que não gostam de dinheiro. O rótulo anuncia-se discretamente por meio da enumeração de pequenos fatos denunciadores de excentricidades. Mas, se o número dos excêntricos se multiplica, há reação e de loucos passam a subversivos que devem ser eliminados.

Quando a regra é a vida privada exposta a preço certo, a indignidade elevada a norma, a competição selvática por duas moedas de prata, o despudor, um fulano que simplesmente não está interessado em um milhão de dólares, nem em dar entrevistas a jornais é uma exceção valorosa.

Dois moradores de rua espancados até morrer, em São Paulo.

Uma notícia diz que dois moradores de rua foram mortos a pauladas, ontem à noite, na Praça Presidente Kennedy, na cidade de São Paulo. Não é a primeira vez que isso ocorre. E não é apenas em São Paulo que acontecem barbaridades como essas.

A violência extrema é praticada tanto horizontalmente, como verticalmente e essa constatação é assombrosa. Horizontalmente quer dizer na mesma classe ou no mesmo grupo. Moradores de rua brigam e matam-se por insignificâncias aparentes, por pequenas dívidas de álcool ou drogas ilícitas, por espaço. De certa forma, reproduzem nos estratos mais baixos o que se passa nos mais altos.

Verticalmente a violência pratica-se de forma quase lúdica, de cima para baixo, socialmente. Alguns agressores assimilaram a noção que o predomínio sócio-econômico autoriza a prática da violência contra os inferiores nessa escala. Isso reproduz um comportamento animal, ou seja, de relações predador-vítima, mas entre seres que são racionais.

A propósito da violência lúdica vertical, há espaço para lembrar um episódio que se deu em Brasília, há treze anos. Em 1997, cinco jovens de classe alta de Brasília, atearam fogo em um índio pataxó – Galdino Jesus dos Santos – que dormia em uma praça na capital da república. Ele morreu queimado.

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Eu sou ruim, mas eu sou limpinho!

Bush limpa a mão na camisa de Clinton, após cumprimentar haitiano. No Haiti para avaliar esforços para a reconstrução (notícia de mentira), Bush e Clinton foram lançar um site (Clinton Bush Haiti Fund), efetivamente para colar imagem de Bush a imagem de Clinton, que tem passe livre por ai. Alguem da família de Bush com certeza foi hostilizado por ai para que ele “se submeta” a esse tipo de situação. Ele mesmo não foi, pelo menos já deu provas visíveis que não se preocupa com hostilidade alguma (pelo menos não enquanto era presidente, e podia responder na bala).

Bush cumprimenta haitiano durante visita

Bush cumprimenta haitiano durante visita

É tão ultrajante que chega mesmo a beirar o absurdo. Também, os haitianos saem por ai apertando a mão de qualquer um… Dá nisso.

http://www.youtube.com/watch?v=PAPIzInz1qY

Infelizmente os esforços para tornar Bush palatável, serão em vão, acredito eu, já que como dizem por ai, não existe limite pra estupidez, e Bush é um exemplo vivo disso…

ONU: Água poluída mata 2,2 milhões por ano.

A ONU divulgou esta semana um relatório afirmando que a falta de água limpa mata 2,2 milhões de pessoas e cerca de 1,8 milhão de crianças com menos de 5 anos de idade, anualmente. A causa da poluição é o despejo de resíduos sólidos que chegam a contaminar 2 bilhões  de toneladas de água diariamente. As consequências diretas são o envenenamento da vida marinha e a contaminação de doenças.

A maior parte do despejo de resíduos acontece nos países em desenvolvimento: 90% do esgoto sem tratamento é lançado em rios e mares.

Agora pare e lembre daquele seu vizinho que usa água potável para lavar a calçada ou para abaixar a poeira da rua. Estamos bem, não estamos?

Binyamin Netanyahu é bastante sincero.

Se eu me esquecer de ti, Jerusalém,

que me seque a mão direita!

Que me cole a língua ao paladar,

caso eu não me lembre de ti,

caso eu não eleve Jerusalém

ao topo da minha alegria!

Salmo 137: 5-6

Um sionista de verdade é muito melhor que todos os dissimulados. Põe em cheque os seus funcionários na Casa Branca, que gostariam dos habituais discursos apaziguadores.

Pois o Primeiro Ministro de Israel, Binyamin Netanyahu disse, sem meias palavras, que Jerusalém não é um assentamento, é a capital de Israel. Disse-o como a rechaçar toda a pressão que sofre por conta dos mais recentes capítulos da contínua violência israelense nos territórios palestinos. Disse, enfim, que não há limites.

Ele foi ao ponto. O que se fez na modalidade de Josué, far-se-á de qualquer maneira e o recurso à violência é desprezível. Não há recuos possíveis, embora tenha havido décadas de discursos sobre os recuos estratégicos.

A Casa Branca fará de conta que não entendeu?

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