Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Mês: junho 2010 (Page 1 of 5)

Futebol, barbárie, bombas e cornetas.

Futebol é esse jogo que está em evidência por conta do campeonato mundial realizado pela Fifa. Barbárie é algo mais complicado de definir-se. O termo sugere oposição a civilização e revela uma forma de caracterização de uma civilização dominante.

Os gregos da idade de ouro chamavam bárbaros a todos os não-gregos, exceto a alguns persas, a quem chamavam medos, apenas para provocá-los. Algum respeito devia haver nisso. Os romanos chamavam bárbaros àqueles que estavam além do Reno e do Danúbio, basicamente. Aos da bacia do Mediterrâneo chamavam pelos nomes, embora não os considerassem iguais.

Os chineses, esses que precisamos começar a perceber melhor, não chamavam aos outros especialmente; faziam a suprema forma de auto-elogio. Chamavam-se a si mesmos de Império do Meio e os outros são os outros.

A palavra, hoje, tem sentido que vai além de simples dominação. Uma das significações possíveis é educação para a vida em comum. Ou seja, adoção e crença em algumas regras que conduzem a convivência a um mínimo de conflitos por invasões das esferas privadas. Ou que, talvez, signifiquem que as esferas privadas não vão resolver seus conflitos por mais conflitos.

O fato é que espetáculos – não apenas o futebol, mas vários outros – levam as pessoas a manifestarem seu júbilo de forma bárbara, ou seja, de uma maneira que não leva em conta eventuais contrariedades ao formato da festa. Aqui, entra em cena outro aspecto interessante. Às vezes, a forma bárbara de júbilo é tão maioritária e as insatisfações tão poucas, que se trata de um verdadeiro triunfo democrático da barbárie. Os insatisfeitos que se mudem!

Coincidem o mundial de futebol e as festas de São João. Estas últimas caracterizam-se, entre outros costumes, por um farto uso de bombas, daquelas que se acedem os pavios, lançam-se adiante e ouvem-se as explosões. Esses artefatos não produzem qualquer beleza – pois não se trata dos fogos de artifício que desenham imagens caleidoscópicas no céu – e geram apenas barulho.

Muito barulho, na verdade, e muito risco. Nesse período, os hospitais recebem feridos por explosões de bombas às fartas. Não somente as crianças, habituais desfrutadores dessas maravilhas explosivas, mas adultos de infâncias tardias. O que já foi tradição e brincadeira comum, tornou-se em prazer tolo de bombas que devem dar inveja ao exército norte-americano.

Junta-se às explosões sucessivas de bombas o canto fanho e insuportável das cornetas. Como nós, brasileiros, temos uma irresistível propensão a sermos colonizados culturalmente, chamamos essas cornetas de vuvuzelas, embora sejam a mesma e única coisa, para que já havia nome.

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Brasil 3 x 0 Chile.

A equipe brasileira faz 3 x0 no Chile e avança para topar-se com a Holanda. Os jogadores talentosos fizeram a diferença, porque a equipe brasileira é competente, mas no mesmo nível de outras também eficientes. Talento, para explicar a fartura no uso da palavra, é o que explica o chute a gol de Robinho.

O Chile foi o que vinha sendo, rápido, insinuante e ingênuo. Não se pode dizer que foi adversário fraco, mas foi superestimado.

Vou achar muito interessante se o Brasil ganhar o mundial e a imprensa brasileira, notadamente a Globo, for pedir entrevista ao treinador Dunga, impiedosamente atacado apenas por não ser subserviente aos caprichos arrogantes da Globo.

Ele teria, então, uma bela ocasião de evidenciar o que é ser treinador, por um lado, e o que é viver a farsa do patriotismo ufanista de ocasião, por outro.

Ele, o Dunga, formou uma equipe, no mínimo, no mesmo nível das outras que se consideram fortes candidatas ao título. Poderia ter levado jogadores mais habilidosos? Poderia, claro. Poderia jogar um futebol bonito? Poderia, evidentemente.

Mas, não foi por falta de talento ou por feiúra futebolística que foi demonizado, porque a Globo não está dando a menor importância a isso. Foi por ter separado trabalho de treinador e festa mediática.

No fundo, o melhor que faria Dunga, caso vencesse o mundial, era dar nenhuma entrevista e ir confraternizar-se com os seus. Afinal, o que se fez se viu.

Os erros de arbitragem.

Pelo menos duas partidas importantes das oitavas de final da Copa do Mundo 2010 foram marcadas por erros de arbitragem. A partida da Alemanha e Inglaterra, e a da Argentina com o México.

Não fosse prejudicial por si só, esse tipo de erro na Copa é tanto pior pois desestabiliza o time que sofre o gol, é notável o abatimento dos times que levam o primeiro gol, tanto que há poucos casos de virada. Muito pelo contrário, geralmente o time que leva o gol geralmente tem que sair ao ataque e acaba levando outros.

No jogo com a Argentina, no primeiro gol marcado, Tevez estava em posição irregular, e no jogo com a Inglaterra, houve um gol inglês que não foi marcado e gerou controvésias, do meia Lampard, esse não foi erro, não foi gol mesmo, como mostra a figura:

Gol de Lampard
Gol de Lampard

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Una musica brutal, de Gotan Project.

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Tango, a dança mais bonita que há?

Os espanhóis perderam a ocasião de transformar uma bela dança de morte entre um homem e um touro em uma dança belíssima entre um homem e uma mulher. Quem observa o dançarino de tango percebe que ele é um derivado do toureiro.

Argentina 3 x 1 México. A diferença é o talento.

Carlos Tévez

Não tenho qualquer ilusão de que diminuirá a avalanche de lugares-comuns e dentre eles aquele da fragilidade da defesa argentina. Ora, dessas equipes que passaram da primeira fase nenhuma tem defesa propriamente frágil. Hoje, a defesa é uma obsessão de todas as equipes, que jogam de forma muito parecida por isso mesmo.

A defesa mais eficiente do mundo voltou para a península sem classificar-se! A Inglaterra, que não tem defesa ruim, tomou quatro dos alemães. A diferença, para quem quiser percebê-la, é dispor de algum talento do meio para frente, pois as defesas em muito se equivalem.

A diferença dos alemães são os médios Özil e Podolski, além de uma irritante capacidade de guardarem as posições corretas, é claro. E a diferença da Argentina é quase a equipe toda. Deve ser um jogo memorável.

Cogito disso aqui apenas por diletantismo, porque é impossibilidade óbvia. Mas, se fosse possível, trocaria todos os Gilbertos, Felipes Melos e Júlios Baptistas por um Verón.

Autobahn, por Kraftwerk.

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Uma banda alemã, por razões óbvias. Tudo está no lugar em que aparentemente devia. No futebol, a mesma coisa, eles estão precisamente nos lugares certos do campo. Quando a equipe é relativamente talentosa, individualmente, como atualmente é, acontece o que se viu no jogo de hoje. Acabam o adversário.

Hoy, es como si yo fuera uruguayo.

Suárez

Uruguay 2 x 1 Coréia do Sul. Agora, a Celeste vai aos quartos-de-final. É uma boa equipe, considerando-se a aridez futebolística reinante. Não há aquela correria toda e ingenuidade do Chile, nem o talento argentino, mas é bastante regular e conta com Forlan e Suárez em boa fase.

Sou um anacrônico cultivador de identidades e sou, por isso, parcial. Espero que os sudacas, nós, continuemos em frente.

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