Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Mês: agosto 2010 (Page 1 of 4)

O Brasil e a lei dos grandes números.

O Julinho da Adelaide sugeriu-me o vídeo que ensejou a postagem anterior. Agora, Sidarta fez um comentário àquela postagem que, por sua objetividade, concisão e precisão, torno em postagem, abaixo:

Em matemática, a “lei dos grandes números” é soberana. Com base nela, a China passou o Japão em PIB e a India também vai passar em breve. Há também uma função matemática interessante de ser estudada: é a função “logística”, que cresce e tende a uma saturação no tempo. Economias que cresceram muito no passado – alguns países da Europa ocidental e os USA – já estão no caminho da saturação e, como suas populações não crescem significativamente, não podem se beneficiar da ajuda lei dos grandes números e retardar a saturação.

No Brasil, penso que estamos bem no ramo ascendente da função logística e com um empurrão da lei dos grandes números para gerar consumo. Uma população mantida mais “analfabetizada” e dominada pelas ologarquias tradicionais poderia seguir o mais longo caminho que tem seguido o Paquistão, o Egito ou outro país similar, com a manutenção dos privilégios das classes tradicionalmente dominantes.

Alfabetizaram o povo, internetizaram o interior do país e globalizaram as telecomunicações e as elites dominantes não vão mais ter como manter os direitos divinos que imaginavam ter “ad eternum”. A luta de classes está aberta e a lei dos grandes números está aí para alertar aos que preconizam soluções anticonvencionais (um golpezinho de direita, por exemplo) de que em 1964 éramos uns 65 milhões de habitantes no Brasil e agora somos perto de 200 milhões… e bem mais esclarecidos, inclusive os donos temporários dos canhões e das baionetas.

Porque Dilma Roussef ganha as eleições.

Esse vídeo – recomendação do Julinho da Adelaide – deixa bem claro porque a candidata Dilma Roussef deve vencer as presidenciais de outubro, provavelmente na primeira volta. Porque ela é a candidata do Presidente Lula, que tem aprovação popular em torno aos 75%.

Porque essa é uma eleição entre a candidata que representa o governo do Presidente Lula e o candidato que representa o governo do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso. Porque todos os indicadores sociais e econômicos melhoraram nos dois últimos governos, em relação aos dois governos antecedentes.

Porque o governo do Presidente Lula tomou medidas – isso é um dado objetivo, não um acidente – que minimizaram os efeitos da crise financeira mundial. Realmente, o estímulo ao crédito, a desoneração tributária seletiva de alguns setores, atrelada ao compromisso de manterem-se empregos, fez com que a crise, aqui, fosse mesmo a marolinha que o Presidente previu.

Porque é possível perceber que as oposições queriam o desastre econômico, ou seja, por razões políticas queriam, não só previam, o pior para todos. Contavam com a piora da situação para fragilizar politicamente o governo, apostavam contra todos em benefício próprio.

Terrível é que as oposições não compreendem porque sairão derrotadas. Nessa incompreensão vai implícita sua crença na profunda estupidez das pessoas. Não compreendem porque as pessoas votam a favor de si próprias? Mas, é possível entender porque pensam assim. É porque sempre educaram ou deseducaram as maiorias para não perceberem o que é melhor ou pior para elas.

Começam a perder as apostas. Uma oposição de direita liberal, que atenda pelo nome e tenha consistência ideológica faria bem ao país. Não é a que se tem. A que aí está é apenas um grupo predador, apegado à mentira constante e, no fundo, nada tem de liberal: vive do dinheiro público e discursa pela livre iniciativa.

O mundo sou eu.

A uniformização de pensamentos anda tão avassaladora que a forma de estar na vida enunciada no título é cada vez mais segura. Acho que essa é a regra da atitude psíquica e social mais adotada presentemente. Ou seja, a regra que leva o sujeito a medir a tudo e a todos por si, certo de estar a utilizar a régua correta.

E, de fato, erra-se pouco, já que as padronizações implicam pequenos e marginais desvios. No básico, as maiorias estão a pensar, a temer e a desejar praticamente as mesmas coisas, o que permite a cada indivíduo sentir-se seguro com seu critério auto-refente de julgamentos. Indecente é o diferente, como já se dizia há muito na América do Norte.

Uma e outra vez, contudo, o indivíduo que assim se põe diante das atitudes dos outros surpreende-se. Surpresa, creio, profundamente tola e que somente poderia resultar de um hermetismo levado muito adiante. Ou seja, surpresa que poderia atender pelo nome de ignorância, sem mais atenuadores.

A descrição dessa postura é relativamente simples, porque ela consiste na redução das possibilidades aceitas, em decorrência da redução objetiva e subjetiva do conhecimento da realidade. Por outro lado a busca das motivações de sua extensa e vitoriosa difusão é tarefa a recomendar estudo mais cuidadoso. Eu arrisco-me a supor que a conveniência de se terem populações acríticas e utilizadoras de reduzido repertório de idéias tem um papel importante como motivação.

Essa atitude mental leva a situações desagradáveis, embora com pouca frequência. São os momentos em que o mundo não é o eu do julgador e ele e seu interlocutor ficam em suspenso, um na imensa surpresa de ver algo diferente, outro sentido-se quase ofendido pela arrogância de certas suposições.

Não sou propriamente um modelo acabado de desvio das uniformizações, mas não sou tampouco a confluência dos padrões dominantes de gostos. E acontece algo frequentemente de surpreender as pessoas sem querer, apenas porque elas sentem-se tão seguras de serem o feixe definitivo de padrões de julgamentos que me vêm perguntar coisas, podendo ficar simplesmente caladas.

Um dia desses, um sujeito, sem mais nem menos, fora de qualquer propósito de uma conversação já iniciada, perguntou-me por que eu não comprava uma TV de 50 polegadas, daquelas bem fininhas e extremamente caras. Primeiramente devo dizê-lo sem arrodeios – isso é um gesto de profunda arrogância. Sim, porque supõe que sua esfera pessoal possa ser diretamente invadida por alguém que parece conduzir os destinos da sua vida.

Eu fiquei profundamente desconcertado e desconfortável com a pergunta, por mais que ela pareça inofensiva e boba. Pode parecer inofensiva e boba quanto a uma TV, mas para passar de uma televisão a outros assuntos é apenas um passo. Fiquei mesmo com raiva do meu interlocutor e, depois da primeira suspensão do pensamento, cogitei de uma imediata resposta agressiva. Pensei em perguntar ao meu interlocutor porque ele não tinha uma biblioteca, assim mesmo, direta, simplesmente e arrogantemente.

Cogitei também fazer o mais comum, ou seja, dar alguma desculpa daquelas que se aceitam comumente, porque no fundo são alegações de fatos alheios que não excluem uma suposta comunhão de vontades. Diria que falta tempo para escolher a TV, que pesquiso os preços, que acho caro e todo um rol de evasivas que agradariam o interlocutor, porque no fundo eu desejaria a TV como ele e não a tinha por mero acidente.

Acontece que viver a dissimular cansa. Ora, eu não tenho uma TV de 50 polegadas porque não quero, pura e simplesmente. Se quisesse, tinha. E acontece também que as respostas mais sinceras podem ser as mais agressivas, embora a isso não se destinem. Teria sido melhor devolver a pergunta da biblioteca, que as pessoas, de tão brutalizadas, preferem as agressões pensadas àquelas involuntárias.

Disse então que não tinha a merda da televisão enorme porque não queria e foi pior. Meu interlocutor não apenas tomou-se de uma surpresa imensa como seguiu adiante na sua lógica de medir o mundo por si mesmo e sentir-se à vontade para os comportamentos mais invasivos possíveis. Ele perguntou-me então por que eu não o dava meu dinheiro!

Quer dizer, não podem ter algum dinheiro as pessoas que não queiram ter aquilo que todas querem. É terrível imaginar a que uma forma tal de pensar pode levar, quando as coisas vão a extremos. A invasão é justificada pelo gosto vulgar, médio. Todas as violências e proscrições são justificadas por algum desvio da vulgaridade que habita a cabeça do selvagem médio.

E assim segue seu curso a revolução das massas.

A Terceira Lâmina, de Zé Ramalho.

É aquela que fere
Que virá mais tranqüila
Com a fome do povo
Com pedaços da vida
Com a dura semente
Que se prende no fogo de toda multidão
Acho bem mais do que pedras na mão
Dos que vivem calados
Pendurados no tempo
Esquecendo os momentos
Na fundura do poço
Na garganta do fosso
Na voz de um cantador

E virá como guerra
A terceira mensagem
Na cabeça do homem
Aflição e coragem
Afastado da terra
Ele pensa na fera que o começa a devorar
Acho que os anos irão se passar
Com aquela certeza
Que teremos no olho
Novamente a idéia
De sairmos do poço
Da garganta do fosso
Na voz de um cantador

Canção Agalopada, de Zé Ramalho.

Foi um tempo que o tempo não esquece
Que os trovões eram roucos de se ouvir
Todo um céu começou a se abrir
Numa fenda de fogo que aparece
O poeta inicia sua prece
Ponteando em cordas e lamentos
Escrevendo seus novos mandamentos
Nas fronteiras de um mundo alucinado
Cavalgando em martelo agalopado
Eviajando com loucos pensamentos

Sete botas pisaram no telhado
Sete léguas comeram-se assim
Sete quedas de lava e de marfim
Sete copos de sangue derramado
Sete facas de fio amolado
Sete olhos atentos encerrei
Sete vezes eu me ajoelhei
Na presença de um ser iluminado
Como um cego fiquei tão ofuscado
Ante o brilho dos olhos que olhei

Pode ser que ninguém me compreenda
Quando digo que sou visionário
Pode a bíblia ser um dicionário
Pode tudo ser uma refazenda
Mas a mente talvez não me atenda
Se eu quiser novamente retornar
Para um mundo de leis me obrigar
A lutar pelo erro do engano
Eu prefiro um galope soberano
A loucura do mundo me entregar

Mia Couto: O jet-set moçambicano.

Esse texto de Mia Couto é delicioso e ao mesmo tempo trágico. Delicioso na sua mordacidade cortante, na sua precisão, na sua ironia. Trágico por sua verdade aplicável não apenas a Moçambique.

A submissão aos modismos, a falta de educação e de modos, a superficialidade e ao novo-riquismo são correntes e dominantes lá como aqui e como em todos os sítios.  Segue o texto:

Já vimos que, em Moçambique, não é preciso ser rico. O essencial é parecer rico. Entre parecer e ser vai menos que um passo, a diferença entre um tropeço e uma trapaça. No nosso caso, a aparência é que faz a essência. Daí que a empresa comece pela fachada, o empresário de sucesso comece pelo sucesso da sua viatura, a felicidade do casamento se faça pela dimensão da festa. A ocasião, diz-se, é que faz o negócio. E é aqui que entra o cenário dos ricos e candidatos a ricos: a encenação do nosso “jet-set”.


O “jet-set” como todos sabem é algo que ninguém sabe o que é. Mas reúne a gente de luxo, a gente vazia que enche de vazio as colunas sociais.


O jet-set moçambicano está ainda no início. Aqui seguem umas dicas que, durante o próximo ano, ajudarão qualquer pelintra a candidatar-se a um jet-setista. Haja democracia! As sugestões são gratuitas e estão dispostas na forma de um pequeno manual por desordem alfabética:


Anéis – São imprescindíveis. Fazem parte da montra. O princípio é: quem tem boa aparência é bem aparentado. E quem tem bom parente está a meio caminho para passar dos anéis do senhor à categoria de Senhor dos Anéis O jet-setista nacional deve assemelhar-se a um verdadeiro Saturno, tais os anéis que rodeiam os seus dedos. A ideia é que quem passe nunca confunda o jet-setista com um magaíça*, um pobre, um coitado. Deve-se usar jóias do tipo matacão, ouros e pedras preciosas tão grandes que se poderiam chamar de penedos preciosos. A acompanhar a anelagem deve exibir-se um cordão de ouro, bem visível entre a camisa desabotoada.


Boas maneiras – Não se devem ter. Nem pensar. O bom estilo é agressivo, o arranhão, o grosseiro. Um tipo simpático, de modos afáveis e que se preocupa com os outros? Isso, só uma pessoa que necessita de aprovação da sociedade. O jet-setista nacional não precisa de aprovação de ninguém, já nasceu aprovado. Daí os seus ares de chefe, de gajo mandão, que olha o mundo inteiro com superioridade de patrão. Pára o carro no meio da estrada atrapalhando o trânsito, fura a bicha**, passa à frente, pisa o cidadão anónimo. Onde os outros devem esperar, o jet-setista aproveita para exibir a sua condição de criatura especial. O jet-setista não espera: telefona. E manda. Quando não desmanda.


Cabelo – O nosso jet-setista anda a reboque das modas dos outros. O que vem dos americanos: isso é que é bom. Espreita a MTV e fica deleitado com uns moços cuja única tarefa na vida é fazer de conta que cantam. Os tipos são fantásticos, nesses vídeo-clips: nunca se lhes viu ligação alguma com o trabalho, circulam com viaturas a abarrotar de miúdas descascadas. A vida é fácil para esses meninos. De onde lhes virá o sustento? Pois esses queridos fazem questão em rapar o cabelo à moda militar, para demonstrar a sua agressividade contra um mundo que os excluiu mas que, ao que parece, lhes abriu a porta para uns tantos luxos. E esses andam de cabelo rapado. Por enquanto.


Cerveja – A solidez do nosso matreco vem dos líquidos. O nosso candidato a jet-setista não simplesmente bebe. Ele tem de mostrar que bebe. Parece um reclame publicitário ambulante. Encontramos o nosso matreco de cerveja na mão em casa, na rua, no automóvel, na casa de banho. As obsessões do matreco nacional variam entre o copo e o corpo (os tipos ginasticam-se bem). Vazam copos e enchem os corpos (de musculaças). As garrafas ou latas vazias são deitadas para o meio da rua. Deitar a lata no depósito do lixo é uma coisa demasiado “educadinha”. Boa educação é para os pobres. Bons modos são para quem trabalha. Porque a malta da pesada não precisa de maneiras. Precisa de gangs. Respeito? Isso o dinheiro não compra. Antes vale que os outros tenham medo.


Chapéu – É fundamental. Mas o verdadeiro jet-setista não usa chapéu quando todos os outros usam: ao sol. Eis a criatividade do matreco nacional: chapéu, ele usa na sombra, no interior das viaturas e sob o tecto das casas. Deve ser um chapéu que dê nas vistas. Muito aconselhável é o chapéu de cowboy, à la Texana. Para mostrar a familiaridade do nosso matreco com a rudeza dos domadores de cavalos. Com os que põem o planeta na ordem. Na sua ordem.


Cultura – O jet-setista não lê, não vai ao teatro. A única coisa que ele lê são os rótulos de uísque. A única música que escuta são umas “rapadas e hip-hopadas” que ele generosamente emite da aparelhagem do automóvel para toda a cidade. Os tipos da cultura são, no entender do matreco nacional, uns desgraçados que nunca ficarão ricos. O segredo é o seguinte: o jet-setista nem precisa de estudar. Nem de ter Curriculum Vitae. Para quê? Ele não vai concorrer, os concursos é que vão ter com ele. E para abrir portas basta-lhe o nome. O nome da família, entenda-se.


Carros – O matreco nacional fica maluquinho com viaturas de luxo. É quase uma tara sexual, uma espécie de droga legalmente autorizada. O carro não é para o nosso jet-setista um instrumento, um objecto. É uma divindade, um meio de afirmação. Se pudesse o matreco levava o automóvel para a cama. E, de facto, o sonho mais erótico do nosso jet-setista não é com uma Mercedes. É, com um Mercedes.


Fatos – Têm de ser de Itália. Para não correr o risco do investimento ser em vão, aconselha-se a usar o casaco com os rótulos de fora, não vá a origem da roupa passar despercebida. Um lencinho pode espreitar do bolso, a sugerir que outras coisas podem de lá sair.


Óculos escuros – Essenciais, haja ou não haja claridade. O style – ou em português, o estilo – assim o exige. Devem ser usados em casa, no cinema, enfim, em tudo o que não bate o sol directo. O matreco deve dar a entender que há uma luz especial que lhe vem de dentro da cabeça. Essa a razão do chapéu, mesmo na maior obscuridade.


Simplicidade – A simplicidade é um pecado mortal para a nossa matrecagem. Sobretudo, se se é filho de gente grande. Nesse caso, deve-se gastar à larga e mostrar que isso de país pobre é para os outros. Porque eles (os meninos de boas famílias) exibem mais ostentação que os filhos dos verdadeiros ricos dos países verdadeiramente ricos. Afinal, ficamos independentes para quê?


Telemóvel
– Ui, ui, ui! O celular ou telemóvel já faz parte do braço do matreco, é a sua mais superior extremidade inferior. A marca, o modelo, as luzinhas que acendem, os brilhantes, tudo isso conta. Mas importa, sobretudo, que o toque do celular seja audível a mais de 200 metros. Quem disse que o jet-setista não tem relação com a música clássica? Volume no máximo, pelo aparelho passam os mais cultos trechos: Fur Elise de Beethoven, a Rapsódia Húngara de Franz Liszt, o Danúbio Azul de Strauss. No entanto, a melodia mais adequada para as condições higiénicas de Maputo é o Voo do Moscardo.


Última sugestão: nunca desligue o telemóvel! O que em outro lugar é uma prova de boa educação pode, em Moçambique, ser interpretado como um sinal de fraqueza. Em Conselho de Ministros, na confissão da Igreja, no funeral do avô: mostre que nada é mais importante que as suas inadiáveis comunicações. Você é que é o centro do universo!

Mia Couto

O terrorismo patrocinado pelos EUA.

Um documento da CIA, da unidade Red Cell, foi vazado na Wikileaks – http://wikileaks.org. Não é propriamente revelador, mas é totalmente confirmador de algo sempre sabido e sempre negado. Os EUA são a origem de muita atividade terrorista e, para consumo interno das altas esferas, trata do assunto com todos os nomes, sem a hipocrisia usual do discurso para o público geral.

Diz o documento, entre outras coisas, que “… ao contrário do senso comum, a exportação americano de terrorismo ou terroristas não é um fenômeno recente, e nem tem sido associado unicamente a radicais islâmicos ou pessoas de origens étnicas do Oriente Médio, África ou Sul da Ásia.”

Segue, nesta deliciosa linguagem direta que eles usam entre si: “… esta dinâmica desmente a crença americana de que nossa sociedade multicultural livre, aberta e integrada diminui o fascínio dos cidadãos americanos pelo radicalismo e pelo terrorismo.”

Fatos relatados no documento, sem as precariedades de uma tradução livre:

In November 2008, Pakistani-American David Headley conducted surveillance in
support of the Lashkar-i-Tayyiba (LT) attack in Mumbai, India that killed more than
160 people. LT induced him to change his name from Daood Gilani to David Headley
to facilitate his movement between the US, Pakistan, and India.


– Some American Jews have supported and even engaged in violent acts against
perceived enemies of Israel. In 1994, Baruch Goldstein, an American Jewish doctor
from New York, emigrated to Israel, joined the extremist group Kach, and killed 29
Palestinians during their prayers in the mosque at the Tomb of the Patriarchs in
Hebron which helped to trigger a wave of bus bombings by HAMAS in early 1995.


–  Some Irish-Americans have long provided financial and material support for violent
efforts to compel the United Kingdom to relinquish control of Northern Ireland. In the
1880s, Irish-American members of Clan na Gael dynamited Britain’s Scotland Yard,
Parliament, and the Tower of London, and detonated bombs at several stations in
the London underground.In the twentieth century, Irish-Americans provided most of
the financial support sent to the Irish Republican Army (IRA). The US-based Irish
Northern Aid Committee (NORAID), founded in the late 1960s, provided the
Provisional Irish Republican Army (PIRA) with money that was frequently used for
arms purchases. Only after repeated high-level British requests and then London’s
support for our bombing of Libya in the 1980s did the US Government crack down on
Irish-American support for the IRA.

Lula e a imprensa: o episódio da Folha de São Paulo em 2002.

Lula é um sujeito muito inclinado à conciliação, muito tolerante. É tratado impiedosamente por amplos setores da imprensa brasileira, nomeadamente pela Folha de São Paulo, pela TV Globo – e sua revista semanal de péssima qualidade, a Época, e pela editora Abril e sua revista abaixo da crítica, a Veja.

Apesar de ter sido alvo de ataques constantes, pessoais, e muitas vezes vis, quase sempre fundados em suposições e opiniões travestidas em matérias jornalísticas, nunca partiu para o ataque contra essas extensões dos partidos de oposição atuantes sob o nome de imprensa.

Parece que perdeu a paciência com esses senhores que se escondem sob uma afirmada e inexistente imparcialidade jornalística. Em comício na cidade de Campo Grande, no Estado do Mato Grosso do Sul, o Presidente contou um episódio revelador.

Disse que em 2002, antes das eleições presidenciais, foi almoçar na Folha de São Paulo. E que, na ocasião, o dono do jornal, Otávio Frias Filho, perguntou a ele se sabia falar em inglês. E emendou perguntando como ele queria ser presidente sem saber falar em inglês! Ele, Lula, respondeu ao Frias perguntando-lhe se alguém cobrava do Bill Clinton o fato dele não falar português. Disse que tinha ido lá almoçar, não dar entrevistas, e retirou-se. Esse é o Presidente do Brasil com aprovação popular de 70%, muito merecidos, por sinal.

A Portugal, de Jorge de Sena.

Sena teve as razões dele, claro. Dele e de um tempo dele. É amaríssimo o poema abaixo.

Esta é a ditosa pátria minha amada.
Não, nem é ditosa porque o não merece,
nem minha amada, porque é só madrasta
nem pátria minha, porque eu não mereço
a pouca sorte de ter nascido nela.
Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta
Quanto esse arroto de passadas glórias.
Amigos meus mais caros tenho nela
Saudosamente nela,
Mas amigos são por serem meus amigos
e mais nada.
Torpe dejecto de romano império,
Babugem de invasões,
Salsujem porca de esgoto atlântico,
Irrisória face de lama, de cobiça e de vileza,
De mesquinhez, de fátua ignorância.
Terra de escravos, de cú para o ar,
Ouvindo ranger no nevoeiro a nau do Encoberto.
Terra de funcionários e de prostitutas,
Devotos todos do Milagre,
Castos nas horas vagas, de doença oculta.
Terra de heróis a peso de ouro e sangue,
E santos com balcão de secos e molhados,
No fundo da virtude.
Terra triste à luz do Sol caiada,
Arrebicada, pulha,
Cheia de afáveis para os estrangeiros,
Que deixam moedas e transportam pulgas
(Oh!, pulgas lusitanas!) pela Europa.
Terra de monumentos
em que o povo assina a merda
o seu anonimato.
Terra-museu em que se vive ainda
com porcos pela rua em casas celtiberas.
Terra de poetas tão sentimentais
Que o cheiro de um sovaco os põe em transe.
Terra de pedras esburgadas,
Secas como esses sentimentos
De oito séculos de roubos e patrões,
Barões ou condes.
Oh! Terra de ninguém, ninguém, ninguém!
Eu te pertenço.
És cabra! És badalhoca!
És mais que cachorra pelo cio!
És peste e fome, e guerra e dor de coração!
Eu te pertenço!
Mas seres minha, não!

Antigas e novas andanças do demônio, de Jorge de Sena.

Gosto muito de contos, que reputo um gênero difícil. Ele não admite facilmente o razoável, oscila entre o bom e o ruim, é traiçoeiro com escritores mal-dotados.

Achei de conhecer Jorge de Sena, muito tardiamente, pelos contos reunidos nas Antigas e novas andanças do demônio. As diferenças entre as duas partes do volume são nítidas, até porque eram dois livros diferentes. Posteriormente, o autor resolveu publica-los juntamente em um só livro.

Ele escreve prosa como um poeta. Não que traga consigo uma métrica que sempre insinue a poesia, mas que se percebe ser principalmente poeta. Um prosador que não faz poesia também tem um caráter singular, que se percebe. Todavia, é muito interessante notar isso em um autor lusófono, porque nesta língua poucos são os que não escrevem nas duas formas.

Algumas coisas nas andanças do demônio, alguns contos, enfim, lembraram-me Guy de Maupassant, o maior contista que já li. Há um traço de extraordinário lúcido e, ao mesmo tempo, apaixonado. Há uma profunda erudição e conhecimento histórico em linhas simples, concisas e quase herméticas.

Houve uma lembrança de algo que fazia quatorze anos que ouvi. Uma estória, ou um mito, que é cara à gênese do cristianismo está mencionada no conto A noite que fôra de natal. Um mito ou episódio caro a esta gênese, mas pouco falado e relativamente pouco conhecido. Plutarco conta o episódio.

Um autor que a ponha em ficção, em um formato menor que a novela ou o romance, com resultado bom, é um autor invulgar. O grande Pã morreu, dizia-se no Egeu. Dizia-se, ou antes ouvia-se, em vozes cavas, chorosas, vozes sem falante, que os pescadores ouviram.

Essas vozes falaram-se ou ouviram-se na época em que Tibério era Imperador. Época que se convencionou dizer do nascimento de uma nova religiosidade e morte de uma anterior. Ninguém sabe se foram mesmo faladas e se foram ouvidas. Não chegou a ser constatado, embora Tibério tenha ordenado investigações.

Uma estória dessas, pouco importa que seja verdadeira ou falsa. Falar dela em ficção importa talento.

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