Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Mês: outubro 2010 (Page 2 of 7)

Petrobrás e pré-sal:é isto que está em jogo.

Há muitas formas de ver a história política brasileira, quase todas a partir de certas díades clássicas. Uma delas parece-me a mais esclarecedora e pouco importa-me que os corretores tenham conseguido torná-la assunto proibido: nacionalistas e entreguistas.

Tanto esta é a mais importante que é precisamente aquela contra que mais se laborou. Um verdadeiro bombardeio mediático operou-se para tornar essa díade impensável, para dar-lhe ares de anacronismo, para fazer de quem a aborde um atrasado, um anti-moderno.

Os líderes entreguistas têm razões bastantes para sê-lo: são bem pagos. As pessoas comuns não têm qualquer uma, são mantidas na estupidez e até levadas a repeti-la, embora seja contra elas próprias. São a platéia de um espetáculo que desconhecem.

Há uma camada intermédia que recebe uma e outra migalha em pecúnia e também altas doses de imbecilização. Esses vão dormir tranquilos com alguma tolice modernosa e ambiental e entregam até as mães, se vier um dinheirinho e uma conversinha up to date.

A riqueza do Brasil em óleo é maior que o imaginado pelos leitores de alguma revista Veja da vida. E as possibilidades do mundo deixar de depender de óleo são muito menores que o imaginado pelos leitores da publicação mencionada. Só se deixará de depender dele quando ele acabar.

Essa riqueza é natural, ou seja, não é produto de qualquer trabalho humano. Ninguém pode reinvidica-la com suporte em qualquer tese, embora possa fazê-lo com bombas, é claro. Ela é do país inteiro e, portanto, deve servir a todos os seus cidadãos.

O país tem plena capacidade de explora-la em benefício seu, muito embora isso desagrade aos entreguistas. Tem-na técnica e financeiramente, bastando lembrar que a Petrobrás é a quarta maior companhia do mundo e detém conhecimentos da exploração em alto mar reconhecidos mundialmente.

Os entreguistas apostam na estupidez e no escamoteamento da informação. Dizem que não se exploram riquezas petrolíferas assim como o atual governo quer fazer. É mentira, pura e simplesmente, bastando para percebê-lo apontar o exemplo norueguês da exploração de óleo.

Essa será uma de suas últimas tentativas: oferecer-se aos interesses alheios aos brasileiros, de corpo e alma, como a mais alta aposta. É aposta elevada, porque muitos dos jogadores de fora já aceitam como normal que um país tão rico e tão vasto renda um pouco menos que uma tradicional colonia totalmente esmagada.

Quando já aceitam ganhar menos um pouquinho, surgem corretores do país a dizer-lhes que, caso cheguem ao poder, uma nova rodada de exploração colonial se abrirá e que o maior negócio do mundo será possível. Prometeram vender o pré-sal, claro.

O problema é que até o inquilino da Casa Branca desconfia da possibilidade de um negócio tal a estas alturas do jogo. Ele acha deveras desejável, mas tem dificuldades para crer que seja possível superar as possibilidades de compressão social e de assalto aos outros, nomeadamente quando os outros andam já meio crescidinhos.

Mas, os entreguistas insistem, até com certas doses de fé, que é necessário crer! E indignam-se que os selvagens não queiram aceitar seu mantra entreguista, que não reconheçam seu destino inferior de seres inaptos a cuidarem de si.

Têm medo de não cumprir o contrato, afinal nem celebrado assim tão convictamente pelos contratantes de fora. Têm receio de não poder entregar a seus patrões o que prometeram e ficarem sem patrões! Não se governam senão para servir e, portanto, não podem ficar sem patrões anglófonos, francófonos, germanófonos.

A imprensa brasileira precisa jogar limpo.

Alguns estados brasileiros criam ou estudam a criação de conselhos de acompanhamento dos média. Trata-se de saber se andam dentro da legalidade, pois afinal há leis para este setor.

Obviamente, a imprensa repete o velho e falso discurso de que se pretende atentar contra a liberdade de expressão. Na verdade, a imprensa quer manter a situação de vale-tudo atual.

Hoje, há tanta liberdade de expressão e de imprensa no Brasil como em pouquíssimos países do mundo. A imprensa serve-se disso para vender conteúdos de baixíssimo nível intelectual, para despolitizar as pessoas, para fazer campanha aberta por seus escolhidos e para atacar impiedosamente os inimigos.

A imprensa em geral tem mau caráter, é vil e dissimulada. Devia afirmar às claras o que quer: a completa falta de limites e a total desregulação do setor.

Seria menos infamante que seguir esse rumo de hipocrisia e desfaçatez, dizendo-se isenta e amante das regras, o que não é.

Devia parar de representar, pois as funções teatrais chegam a um fim. A peça acaba-se, os atores despem-se de suas personagens e deixam de atuar.

Não há qualquer ameaça à liberdade de imprensa, nem se está a urdir qualquer uma. Pretende-se fazer valer as normas que estão aí há muitos anos e são desprezadas absolutamente.

A grande imprensa não quer a eficácia dessas normas contra que não se manifesta simplesmente porque elas não são aplicadas.

Por que não deixam de mentir e não dizem claramente que gostariam do fim das regras?

A tristeza do lusco-fusco.

Neste momento em que me ponho a escrever tenho dúvidas se já não disse o mesmo, antes. Parei a pensar e não saí da dúvida, resolvi não verificar. Busquei lembrar e não consegui, talvez por ter pensado tanto nisso que pareceu-me ter escrito já.

Estive por mais de dez anos em um colégio jesuíta, em Recife. Era enorme e no bairro da Boa Vista. Tinha prédios, uma igreja a Nossa Senhora de Fátima, dois campos de futebol, três quadras para handebol, basquete e futebol de salão e vólei.

Tinha árvores: mangueiras enormes ao redor dos grandes espaços vazios, que eram os campos de futebol. Chamo-os assim porque não eram gramados, eram campos de terra. Não perderia a ocasião de chama-los relvados, assim poeticamente, se fossem.

Morava mesmo em frente ao colégio, precisamente em frente à parte mais histórica dele, o Palácio da Soledade, ou Palácio dos Bispos, ou dos Governadores. Este prédio acolhia as classes do que se chamava curso científico, os três últimos anos do ensino regular antes de alguma faculdade.

À distância de um atravessar de rua, ia muito ao colégio à tarde, embora sempre tenha tido as classes pela manhã. Íamos jogar bola, futebol, no campo grande em frente ao prédio do ginásio.

O futebol estendia-se até ao terrível momento em que já não é tarde nem noite. Nessa altura, jogávamos por insistência juvenil, porque já não se via bola nem muita outra coisa.

Viam-se as mangueiras grandes e ainda a fazerem tímidas e escuras sombras e os morcegos que voavam de uma a outra árvore. Morcegos herbívoros refestelavam-se de mangas e desviavam-se das gentes, naquele voo estranho de mamífero.

Essa hora de lusco-fusco é para mim tristíssima. A piorar havia uns auto-falantes da universidade católica, contígua, também dos jesuítas, que tocavam uma ave-Maria às seis horas. Era angustiante essa hora e essa ave-Maria.

O lusco-fusco na Boa Vista sempre foi para mim parecido, estivesse no colégio a jogar bola, estivesse na rua, em outros tempos, já depois de sair do colégio.

Não sei se no colégio era mais triste que depois, ou antes ao contrário. Imagino que a memória mais antiga e juvenil tenha fixado o que eram as realidades associadas àquela hora de transição. As mangueiras, os morcegos, o futebol interrompido pelo escurecimento, minha pouca idade.

Não me entristecem mais os lusco-fuscos, como faziam antes, mas sei o que eles são ou, melhor dizendo, sei o que eles foram e lembro-me de suas imagens, porque é difícil lembrar de sensações.

Quase trinta anos depois – e queria saber quantos anos vive uma mangueira – o lusco-fusco entristeceu-me. Não é que seja ruim, as palavras é que não são suficientemente precisas, mas era parecido com outros crepúsculos.

Sai da residencial, dirigi-me a um mercadinho perto, para comprar vinho. Resolvi antes dar uma volta à quadra, para quê não sei, talvez para ter a sensação que tive.

Passei em frente a dois colégios, mas isso não basta, como não bastam só a hora ou só os morcegos, ou só as mangueiras, que aqui não há. O lusco-fusco entristeceu-me aqui em Braga, hoje.

Durante um ano em que aqui estive não me ocorreu isso, embora soubesse que era aquela hora estranha já conhecida. Sabia de memória e de razão, mas não sentia os efeitos, que, adianto logo, não são qualquer tragédia.

Mas, a linguagem é muito limitada. Como vou dizer que era e não era o efeito do lusco-fusco de Recife, de há vinte e tantos anos? Sim, porque não era, porque não é há vinte e tais anos e não é em Recife e não há mangueiras, nem morcegos. E, no entanto, é uma percepção parecida, embora não angustiante.

E o que é? Vou pensar.

E voltando pra política… Vídeo do projétil lançado contra Serra!

Tomara que Serra passe a andar de capacete, ou pelo menos tenha medo daqueles que jogam sapatos a partir de agora. “Marcha soldado, cabeça de papel…”

Desse episódio ficam algumas frases colhidas a dedo pelo Twitter sob a hashtag de #serrarojas (alusão ao goleiro chileno Roberto Rojas, que por temer a desclassificação do Chile nas eliminatórias da Copa do Mundo de 1990, fingiu ser atingido por um sinalizador):

* – Exame de “bolística” determinou que o projétil saiu de uma resma de papel A4…

* – Serra, o único ser humano que é avisado por telefone que está sentindo dor de cabeça.

* – Ainda bem que foi uma bolinha de papel, se fosse bolinha de sabão, Serra diria que o PT usa armas químicas.

* – Serra mandou balas, bombas, gás de pimenta…nos professores. E se faz de vítima com uma BOLINHA DE PAPEL???

* – Atenção, médico diz que Serra está contaminado depois da agressão sofrida, a bolinha era de uma página da Veja!!!

* – Será q @joseserra_ enfrentou a ditadura com a mesma bravura que enfrenta bolinhas de papel?

* – Exclusivo: imagem da tomografia do Serra após ser atingido pela bolinha de papel:

Imagem da tomografia de Serra
Imagem da tomografia de Serra

A orquestra sinfônica jovem da Venezuela.

Thiago Loureiro, algum tempo atrás, me enviou um vídeo de um maestro chamado Jose Antonio Abreu, trata-se de um maestro venezuelano, que fundou e dirigiu a Orquesta Sinfónica Simón Bolívar, e a Orquesta Sinfónica Nacional Juvenil. Ele ganhou o TED prize (Tecnologia, Entretenimento, Design), que premia “idéias que valem a pena ser difundidas”. Trata-se de fundação norte americana, que teve início no vale do sílicio, logo o prêmio era para novas tecnologias, porém logo foi ampliado para outras áreas, como ciência e cultura.

A difusão do prêmio é feita pela internet, por meio de vídeos com aproximadamente 18 minutos de duração. O vídeo de Jose Abreu, que ganhou o prêmio em 2009, vale a pena ser visto:

Dessa orquestra, saiu um outro maestro, chamado Gustavo Dudamel, também venezuelano, que veio a conduzir as melhores orquestras do mundo. E para além do vídeo do prêmio, há um outro, de conferência com Dudamel durante o recebimento do prêmio de Abreu, onde Dudamel lhe rende uma homenagem. Conduzindo a Sinfônica Jovem da Venezuela, com duas lindas músicas. Na segunda, a osquestra toda está vestindo jaquetas nas cores do país (venezuela claro), e eles tocam a música Danzón no. 2 do compositor mexicano Arturo Márquez (a quem interessar possa). E se vale a pena ver o vídeo de Abreu falando sobre seu trabalho, vale mais ainda ver o resultado:

Observação: O primeiro vídeo tem legendas em inglês e está falado em castelhano, o segundo está falado em inglês e não tem legendas. Logo antecipadamente peço desculpas aqueles que não compreenderem os idiomas, sem no entanto deixar de frisar que pode-se escutar a música de Arturo Márquez, que é belíssima.

Serra é vítima de um atentado: uma bolinha de papel na cabeça!

Leio que José Serra foi atingido na cabeça por uma perigosíssima bolinha de papel, em uma caminhada no Rio de Janeiro.

E que, por conta da gravidade do episódio, teve que abandonar o evento da campanha e submeter-se a uma tomografia!

É natural que candidatos, conforme o momento, ora queiram mostrar-se agressivos, ora queiram o papel de vítimas. Mas, assim é mesmo ridículo.

Pelo menos Serra teve o motivo para deixar de fazer o que não gosta, andar em meio a povo e os jornais e TVs tiveram o motivo para criar um drama em torno a uma bolinha de papel.

José Serra é capa da revista Istoé (homenagem a revista Veja).

Semana passada (edição 2186 de 09/10/2010)  a revista Veja saiu com a seguinte capa:

Capa da Veja sobre Dilma e o Aborto
Capa da Veja sobre Dilma e o Aborto

Numa clara intenção de fazer a campanha baixar o nível e trazer a tona dessasuntos como esse do aborto e/ou religião, afinal o que se pretende eleger aqui é um presidente, um padre ou uma parteira? Oras, não é de se estranhar, vindo da Veja, que já saiu com essa capa também (edição 1513 de 17/09/1997):

Eu fiz aborto.
Mulheres de três gerações enfrentam a lei, o medo e o preconceito e revelam suas experiências

Mas capas da revista Veja, hoje em dia são desimportantes por si só. Esse post é em homenagem a capa da Revista IstoÉ dessa semana (edição 2136 de 20/10/2010):

IstoÉ José Serra
Capa da IstoÉ de 20/10/2010

Capa que copia deslavadamente a capa da Veja, apenas com José Serra como ator principal. Sinceramente não acho a IstoÉ um primor de jornalismo, apenas estou gostando de ver fogo contra fogo. Afinal até que um dia nego cansa de só apanhar.

Mitos Tucanos 3: A vulnerabilidade externa

Recebi por email, não por acaso do próprio Andrei, a seguinte carta do professor Ricardo Carneiro* com tema já descrito no título.

Costumo, por via das dúvidas, sempre verificar a veracidade dos correios que recebo, para que não aconteçam coisas como essa: “Arnaldo Jabor” escreve um texto, que não é dele e tem que se desculpar ao vivo pela CBN… E ainda há quem aceite o referido texto muito bem. Não querendo defender Jabor claro, mas o texto não é dele, simples assim. Parece que as pessoas pensam que se escondendo por trás de qualquer nome de artista vão dar mais credibilidade ao que escrevem, sentindo-se livres para escrever qualquer bost… Bom, de forma que pelo menos o Ricardo Carneiro é realmente professor da Unicamp… E como o texto também está disponível no Blog de Nassif, que considero sério, resolvi publicar na íntegra. Espero que esteja tudo nos conformes.

Dentre os vários mitos alardeados pelos tucanos nos últimos anos está aquele que afirma que o Governo Lula recebeu como herança uma economia sólida e sem fragilidades, sobretudo no front externo. Nada mais falso. Há vários indicadores que podem mostrar isto. Escolhemos o mais sintético deles, o das reservas internacionais possuída pelo país.

O gráfico abaixo reconstitui o valor das reservas desde 1998. Faz uma distinção importante entre o que de fato eram reservas próprias e disponíveis e aquelas reservas que correspondiam aos empréstimos do FMI – as reservas emprestadas. Essa distinção era, aliás, uma exigência do Fundo com base no argumento de que na prática esses recursos deveriam ser devolvidos a curto prazo.

Como se pode constatar o volume de reservas é relativamente baixo, para uma economia aberta como a brasileira durante todo o segundo mandato de FHC. O dado mais significativo, porém é que essas reservas são declinantes. Elas eram de US$ 34,4 bilhões em 1998 e caem a menos da metade ao final de 2002. Ou seja, o Governo Lula herda desse ponto de vista uma situação crítica: reservas de US$ 16,3 bilhões, além de um acordo com o FMI.

A recuperação das reservas se faz de maneira continuada e significativa desde o primeiro ano do Governo Lula. Foi isto que permitiu já no terceiro ano do primeiro mandato pagar o empréstimo do FMI e, mesmo assim, manter um nível muito mais elevado de reservas próprias de cerca de US$ 53,8 bilhões. Apenas para ficar mais claro o significado desses números, o Brasil pagou em 2005 cerca de US$ 25 bilhões que devia ao FMI e ainda ficou com US$ 53,8 disponíveis, cerca de quatro vezes mais do que o herdado de FHC.

De lá para cá as reservas internacionais só tem aumentado; os últimos números apontam um valor em torno de US$ 270 bilhões. Elas constituem um importante seguro contras as turbulências externas como, aliás, se pode observar em 2008 e 2009. Não só inibiram um ataque especulativo contra o real como possibilitaram a reconstituição das linhas de financiamento do comércio exterior brasileiro. A conclusão desses números é portanto inequívoca: o Governo lula herdou uma economia fragilizada do ponto de vista das suas relações com o exterior e, reduziu substancialmente essa fragilidade.”

Grafico reservas internacionais

Grafico reservas internacionais

* Ricardo Carneiro é professor livre-docente do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (Cecon) deste instituto.

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