Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Mês: maio 2011 (Page 1 of 4)

Fernando Henrique Cardoso, maconhófilo.

Agora eu percebo as coisas. Fernando Henrique Cardoso, o Sábio, falava sempre em código, por Sábio, naturalmente. Deixava caírem gotas de sua sapiência, a serem recolhidas somente por iniciados que participassem do mundo da sabedoria e, portanto, pudessem decodificar a mensagem.

Fernando Henrique é a figura que escreveu dois ou três livros postulando coisas difíceis de entender, talvez porque não dissesse nada, afinal.

Passados anos, faz-se presidente da república e clama pelo esquecimento de tudo quanto escrevera, talvez em estalo de arrogância, a supor que muitos o haviam lido.

Presidente por oito anos, Fernando Henrique alinhou-se à política de war on drugs, aquele embuste norte-americano que serve às companhias de armas e de serviços mercenários. Além de ter destruído vastas plantações de milho e batatas, na Bolívia, no Peru e na Colômbia.

Agora, nove anos sem ser presidente, Fernando Henrique surge como um grande maconhófilo, defensor da liberação ampla e irrestrita dos entorpecentes ilícitos!

Não vou mentir, estranhei e inclinei-me a crer que era pura e simples impostura. Mas, nada que um pensamento mais calmo não afastasse.

Percebi que duas coisas se ligavam, na obra e trajetória do Sábio. Ligavam-se por fios tênues e sutis, como são as coisas sábias.

Quando Fernando Henrique dizia que esquecessem seus escritos, já estava aí o Fernando Henrique maconhófilo! O grande homem já nos dava o enigma e a chave dele!

Fumem maconha, relaxem e esqueçam o que escrevi, era a mensagem que só hoje, tardiamente, percebo…

Décadence sans élégance: Berlusconi.

Pôr em segundo plano o ridículo de uma conduta de sedutor – mediante pagamentos – de um septuagenário de cabelos impecavelmente pretos, que ocupa o cargo de primeiro ministro da Itália, parece-me até uma salutar tolerância de quem não se baliza pelo moralismo pequeno burguês, tão forte nos EUA, por exemplo.

Não significa, claro, achar engraçados ou toleráveis crimes como orgias com menores de idade. Isso é outra estória. Mas a parte patética deve ser visto assim mesmo, como os sapatos altos de Sarkozy, por exemplo.

Todavia, decadência dos infra-humanos não se limita ao estético ou comportamentalmente folclórico. Ela vai além, até porque o pior é sempre o que está por vir. Enquanto o bufão está bem na política, destacam-se somente as ridicularias e, eventualmente, os crimes que afetam a vida privada.

Sucede que Berlusconi está em vias de perder as eleições municipais em Milão, sua origem política. Sua candidata, Letizia Moratti, do partido de extrema direita PDL – Povo da Librdade – perdeu as eleições na primeira volta e tudo aponta que perderá definitivamente. O candidato Giuliano Pisapia deve vencer o pleito, catalisando apoios que vão da esquerda aos centros.

Não há como disfarçar-se que uma vitória de Pisapia, homem sóbrio e de pouca experiência política, é uma derrota de Berlusconi, e grande. Ante a iminência do insucesso na sua terra, a mais rica da Itália, Berlusconi despe-se das poucas máscaras que usa e revela-se plenamente. O homem recorre à estratégia fascista clássica: a mentira, o medo, o ódio ao diferente, mesmo que seja um diferente improvável, difuso, talvez inexistente.

A campanha de Moratti recorre ao expediente de afirmar que Milão será transformada em uma ciganópolis, se Pisapia vencer. Ou seja, busca na xenofobia mais pura e brutal um argumento de campanha eleitoral, busca disseminar o medo, coisa que em tempos de crise econômica costuma revelar-se eficaz. Isso é incitação à barbárie, algo que se sabe como começa, mas quase nunca se sabe como termina…

Berlusconi disse que, caso Pisapia vencesse, Milão iria converter-se em “uma cidade islâmica, um acampamento de ciganos, cheia de romenos e assediada pelos estrangeiros, aos quais a esquerda tem dado o direito de votar”.

O diário Il Giornale, de Berlusconi, afirmou que na hipótese da vitória de Pisapia, o Islã marcharia sobre a Catedral de Milão!

Dizer que estão a passar dos limites seria, além de lugar-comum, uma imensa tolice, porque já venceram todos os limites há muito. Esse acirramento atual é como o recuo súbito da febre e a alegria inexplicável que precedem a morte. Chegados a tal nível de estratégias fascistas, eles anunciam seus fins. Mas, o perigo está na chegada aos fins, aos limites da estratégia, porque depois só o golpe!

The american dream, de Ted Lumpkin e Harold Uhl.

Fantástico! É precisamente esse o mecanismo que pôs não só os norte-americanos de joelhos, mas boa parte do mundo. Não é o Estado norte-americano quem imprime dólares; não é o Estado norte-americano quem empresta esses dólares ao governo e aos demais tomadores.

É um sistema privado, o FED, que tem o Estado, o povo, os bancos menores, a indústria, como seus reféns.

Eles financiaram todas as guerras, quebraram os aparentes vencedores e compraram-nos baratos.

Eles pouco importam-se que o governo mantenha uma aparência de governo, que aparentemente faça leis. Eles são credores do governo…

Há meses, falei aqui um pouco sobre Kennedy e mencionei o ato executivo 11110. Pouco se fala desse ato executivo, que permitia ao Estado norte-americano emitir dinheiro. Isso acabaria o sistema. Kennedy morreu seis meses depois da assinatura. Jonhson revogou-o e o jogo voltou ao seu rumo. Nixon acabou o ouro, e o jogo subiu de patamar.

A única coisa plausível, seja para daqui a dez, vinte ou trinta anos – sabe-se lá precisamente quantos – é a destruição total.

« Older posts