Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Mês: junho 2011 (Page 2 of 3)

Um saber que é poder e faz-se por via do inquérito.

Quase todas as palavras do título farão pensar em Foucault. E, realmente, usei-as por conta de as ter visto demasiado em a Ordem do Discurso e na Microfísica do Poder. Mas, quero ficar somente com as palavras, não nesessariamente com os conceitos foucaultianos e não me proponho a fazer qualquer análise de Foucalt, nem a partir dele. Seria presunçoso, difícil e, ademais, não é o que pretendo.

Há uma forma de saber que se baseia menos na ordenação que na recolha de dados esparsos e quase sempre profundamente associados. Talvez por estarem já associados – ou melhor dissesse por serem previsíveis – eles prestem-se a serem recolhidos e aqui recolhidos propriamente, mais que colhidos. Sim, porque a preexistência é notória, tanto nos modelos, como no próprio recolhedor.

A recolha, por meio do inquérito, não é atitude epistemológica, nem momento pré-epistemológico. Não será a coleta de dados que embasarão uma taxonomia, porque ela já está feita, inclusive ela é antecedente, no inquiridor, da postura inquisitorial. Essa atitude está na mão invertida, porque os elementos serão postos onde têm que estar, ou seja, eles não formarão ou delimitarão um lugar de estada para eles, segundo alguma classificação.

A postura visa, é claro, construir uma verdade em julgamentos. Os parâmetros desses juízos são uma certa moralidade e a detenção de algumas categorias pessoais ou tipos básicos de personagens sociais, elementos que o inquisidor maneja, sem os ampliar ou reduzir. Nesse sentido, a recolha expõe sua essência não epistemológica muito evidentemente, porque o material recolhido não influi na base de análise dele.

O saber do inquérito é inapto para alterar a lógica do inquérito, que segue sempre a mesma, sempre referente a si própria, mecânica e incapaz de desconfiar de si mesma a partir do que recolheu. Trata-se, em muito, da construção de juízos por semelhança e dessemelhança, sem espaços para a sutileza, considerando-se uma alternância entre o contínuo e o descontínuo.

Por essa construção, o inquisidor sentirá pertencimento ou ausência, formará estimas ou repulsas, adequará as coisas ao seu acervo prévio de instrumentos de julgamento, estes sempre imutáveis.O inquérito perde, assim, muito do seu espaço com uma aceleração dinâmica da vida, que parece sugerir sua incompatibilidade com os utilitarismo que, por sua vez, reivindicam a posição de forma excelente contemporânea.

O inquérito mostrava-se bom elemento de poder quando se distinguiam como fortes os que podiam recolher mais coisas e dados, informações, afinal. Em certo momento histórico, os que mais inquiriam estavam nas posições políticas em que a recolha significava tanto uma necessidade tática, como estratégica. Além de associada à posição preeminente, a postura inquisitorial realimentava-se como distinção, por efeito simbólico.

Quando os eixos do exercício do poder deslocam-se, os resquícios dos modelos anteriores anacronizam-se e dispersam-se rumo às periferias. Se é verdade que o fato mais avassalador de uma história recente de cento e cinquenta a duzentos anos foi a urbanização, também é que os resquícios anacrônicos ficaram nas culturas rurais, tornadas em âmbito periférico.

Lá ficaram o saber e o poder pelo inquérito, como elemento curiosíssimo de arqueologia social. Na maior parte das situações, é postura matizada ou que se vai matizando e atenuando, por mescla com novas formas de construção de verdade, de apreensão das coisas e de formação do discurso. A persistência é possível muito porque seu caráter de forma de poder recuou quase a nada, tornando o inquérito em hábito ou somente forma de um saber, ou seja, sem pretensões e, portanto, sem conflitos.

Todavia, há contatos diretos em que o anacronismo não se percebe assim e então atua positivamente. Na verdade, ele – nem qualquer outra postura de construção do saber e do poder – quase nunca se reconhece como uma forma, somente como a forma. Em um jogo social em que todos os jogadores utilizam a mesma tática, a comunicação e o estabelecimento da relação de poder é possível e as coisas transcorrem, digamos assim, normalmente.

Quando modelos diversos entram em contato, a comunicação é pouca, os resultados obtidos são esparsos, a dominação não advém como se esperaria da ação modelar. Surgem, ou o conflito, ou o estranhamento e o desconforto.

 

O inteligente alcáide de San Sebastian leva Castela a mostrar os dentes, sem disfarces…

A inteligência da atuação fora do quadrado é a única coisa que desconcerta o político profissional do grande esquema, seja ele de esquerda, direita, centro ou de onde for.

Leva-o a reagir quase instintivamente, como quem percebe atavicamente a ameaça. Quase uma reação natural ao fogo, reação sem disfarces, inicialmente irrefletida, súbita. Eles percebem os perigos reais, que são precisamente os que merecem as reações mais enérgicas e menos racionais.

O terror, a paranóia do terror, da segurança, é a coisa mais preciosa que existe para uma imensa maioria de governos no mundo. Ela precisa existir, pois justifica a contínua exceção.

Pois o alcáide de San Sebastian, Juan Karlos Izagirre, do partido Bildu, resolveu que as medidas de segurança na cidade, tais como detectores de metais, escaneres, a possibilidade de políticos terem escoltas e guarda-costas, serão levantadas!

Já o foram em outras localidades vascas, como Mondragon, Lasarte-Oria e Andoain.

Ele diz que não se justificam, pelo menos no nível atual. Que políticos não devem entrar em escritórios públicos com escoltas nem guarda-costas. Óbvio!

O governo espanhol, por meio de Rubalcaba, reagiu imediatamente, ameaçou represálias, falou em leis, falou em fazer leis específicas.

Desnudou-se o imperialismo do estado de exceção, veio a público sem os véus do discurso cortês e aparentemente racional. Abriu a boca, mostrou os dentes caninos, rosnou, falou em leis…

Está claro que Castela nunca temeu a ETA, que lhe serve muito bem. Teme a inteligência.

 

Riscos e juros. O Brasil, definitivamente, não é um país sério.

Os CDS – Credit Default Swaps norte-americanos estão mais caros que os brasileiros, eventualmente e pela primeira vez na história!!!

Significa que, hoje, reputa-se mais arriscado um descumprimento de pagamentos norte-americanos que brasileiros!

Nada obstante, a malta banqueira nacional obriga o governo a pagar juros de 12% ao ano. Para quê? Para nada, além de enriquecer os rentistas.

Esse não é um país sério, definitivamente.

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