Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Mês: agosto 2011 (Page 1 of 3)

Zé Dirceu mete medo na Veja.

Aconteceu um episódio que mistura patifaria e ridículo, em doses imensas. Um repórter da revista Veja – o maior lixo editorial brasileiro com pretensões informativas – tentou invadir o apartamento do Zé Dirceu, no hotel em que ele hospeda-se, em Brasília.

Sim, o fulano tentou enganar a camareira, dizendo-se o hóspede daquele apartamento e que tinha perdido as chaves. Uma estratégia tosca, que não deu certo, porque a camareira sabia muito bem quem era o hóspede costumeiro do quarto.

Desmascarado, pois a camareira avisou à gerência do hotel, o tal repórter saiu às pressas, sem pagar a conta! Mas, o agente semi-secreto da Veja tornou à carga. Retornou ao hotel, identificou-se com outro nome, disse que era assessor de um certo prefeito e que precisava deixar uns documentos importantes no quarto do Dirceu. Novamente, a ação dessa mistura de Clouseau com empregado de Corleone resultou mal.

O hotel apresentou queixa formal, na polícia, por tentativa de invasão.

Está claro que se ia produzir um escândalo, essa coisa difusa de que vivem meios de comunicação do nível da Veja. Ou iam implantar escutas no quarto, ou forjar documentos acusadores ou qualquer coisa desse jaez mafioso que está por trás da falta absoluta de limites e atuação clara no âmbito mafioso.

Zé Dirceu é um sujeito inteligente, muito tenaz e político vinte e cinco horas por dia. Tem, além dessas características, outra muito interessante: mete-se em tudo e assume os riscos correspondentes. Nesse sentido, não é um canalha, porque joga as regras do jogo e fá-lo com mais desenvoltura que a enorme maioria dos políticos.

Ele foi alvo – o que não carrega juízo de culpa ou inocência – de uma manobra bem orquestrada para fragilizar o ex-presidente Lula, no início de seu primeiro mandato. A imprensa contrária ao ex-presidente criou uma coisa chamada mensalão. Essa coisa seria um esquema governamental de pagamento mensal e constante por apoio parlamentar.

A criação da farsa baseou-se em duas coisas existentes. A primeira é o financiamento ilegal – por fora – de partidos políticos, que gastam nas campanhas eleitorais muito mais que o declarado oficialmente. Outra, foi a filmagem de um  pedido trivial de suborno, por parte de um funcionário subalterno da Empresa de Correios, que nenhuma ligação a Dirceu tinha. O valor é bastante esclarecedor, pois esse imenso meliante recebeu R$ 3.000,00! Sim, a república devia ser abalada por um pedido de U$ 1.500,00, feito por um subalterno!

O público recebe a bomba já armada, tudo misturado e uma versão final pronta e já com os acusados condenados. Todavia, Lula e Dirceu estão muito longe de serem estúpidos. O ministro poderosíssimo afastou-se do cargo e cuidou de defender-se. O presidente afastou de si o tal escândalo e o mundo seguiu seu rumo.

O problema desses escândalos é precisamente sua vacuidade e a diferença entre alguma base fática e a versão oferecida pelos media. São instrumentos táticos que servem à uma estratégia maior, de longo prazo. Assim sendo, destinam-se a terem vida curta e a sucederem-se, uns aos outros. Então, ou bem um desses escândalos tem massa crítica suficiente para uma total derrubada do alvo, ou bem vai esvair-se aos poucos, à espera do próximo.

O lastro do mensalão são coisas diversas do que se acusou Dirceu e o governo em geral. Trata-se do fluxo de caixa dos partidos políticos e envolve a todos eles. O mensalão, como foi vendido, é profundamente improvável, embora fosse uma grande idéia, caso posto em prática, porque comprar continuadamente é mais barato que esporadicamente.

O caso é que o problema do financiamento ilegal de partidos, se levado às últimas consequências, implicaria enormes prejuízos em todo o espectro político partidário e isso não convinha, obviamente, a um escândalo desencadeado por visões politico partidárias. E Dirceu, evidentemente, sabe disso e sabe de muito mais.

Levaram o caso ao supremo tribunal. O ministério público denunciou algumas figuras políticas, entre elas o Zé Dirceu, pelo que seria o mensalão. Ou seja, denunciou pelo que não aconteceu, mas pode levar, ao menos hipoteticamente, a descobrir-se o que acontece…

Da forma que se fez a denúncia e tratando-se de réus poderosos e dispostos a defenderem-se adequadamente, parece claro que redundará em absolvição. Não sei se os media, Veja principalmente, terão coragem de apostar ainda mais e atacar o tribunal, a insistir na inexistência que encobre outra coisa. Por isso, a tentativa de invasão – prova da possibilidade da convivência da patifaria com o ridículo – faz bastante sentido.

A publicação precisa de alguma coisa, e qualquer uma serve e qualquer meio é para ela possível, para manter a pressão sobre Dirceu. Não pode haver um Zé Dirceu absolvido e sempre sabedor das coisas e disposto ao combate.

 

Lampião corpo fechado. Um livro de Ivonaldo Guedes.

Três livros seguidos de Foucault – o último ainda não terminado – afastaram-me dos prazeres da ficção e da narrativa não ensaística. Eis que uma conversa com Bebé e Cacá fez-me conhecer a obra do título. Depois que eles falaram do livro, fiquei realmente interessado, porque tudo indicava ser bastante interessante, e é. Comprei o livro e o li em dois dias, que a prosa de Ivonaldo Guedes é agradável e bem fluente e o assunto bem escolhido.

Apressei-me a classificar o livro como romance histórico, embora melhor dissesse romance sobre uma hipótese histórica. A hipótese, nesse caso, é tão plausível quanto a história oficial, o que abriu um campo vasto para a ficção, aproveitado com talento pelo autor. Ele fez arte, propriamente, porque recriou o que pode ou poderia ter sido.

O autor não é pretensioso, mas é audacioso e obtém bom resultado da sua audácia. Ele é personagem do livro! Não é muito fácil o autor inserir-se no livro, porque as plausibilidades históricas de várias versões não funcionam para a historicidade efetiva do autor. Enfim, é complicado fazer ficção consigo próprio, exceto se não for ficção…

O caso é que Lampião foi o cangaceiro mais famoso dentre vários deles, atuantes em um período de aproximadamente cento e trinta anos, nos sertões do nordeste brasileiro. Virgulino Ferreira da Silva atuou na última etapa do cangaço e, talvez por isso mesmo, tenha chamado tanta atenção.

O cangaço é coisa que daria ensejo a páginas e páginas escritas, mas aqui não é o lugar e essas páginas já existem. Basicamente, foi um tipo de banditismo circunscrito a certa área geográfica. Dizer banditismo, por um lado, é bastante limitador, porque as formas de reação ao cangaço eram-lhe semelhantes em quase tudo.

A base cultural encontra-se nos códigos de honra de raízes ibéricas. As bases históricas, em um Brasil ainda predominantemente rural que via o empobrecimento de alguns grupos acontecer dentro da mesma classe social. Quer dizer, a certos declínios econômicos imediatos não correspondiam necessariamente os mesmos declínios sociais. A tudo isso, junta-se a existência do Estado como mero símbolo e agente repressor a serviço de muito poucos.

É interessante tentar dissociar um pouco o econômico do social, ao menos em um corte temporal pequeno, para ver o descompasso das duas escalas a gerar conflitos. No Brasil de finais do século XIX, a sociedade ainda era culturalmente rural, com pequenas exceções.

A exclusão de alguns indivíduos de uma classe social leva mais tempo que a exclusão destes indivíduos de uma classe econômica. E a noção de pertencimento à mesma e única situação persiste nas pessoas forçadas à mobilidade social. No ambiente rural a exclusão social é rápida, por decesso econômico, mas a percepção e aceitação delas é mais demorada, porque a base cultural é muito homogénea.

Imagine-se que dois fazendeiros são vizinhos confrontantes e que um deles vê seus negócios minguarem bastante, seus bois e plantações morrerem. Se o vizinho mantiver-se próspero, vai comprar as terras do falido e submetê-lo e à sua família e aos seus agregados à vassalagem. Uns vão pôr outros – de origens sociais semelhantes – em posições de senhores e vassalos.

Tais posições não se aceitam facilmente quando os novos vassalos comungam do mesmo código de honra e valores. Um fazendeiro rico não viola a filha de um ex-fazendeiro reduzido a rendeiro pobre como violava a filha de um escravo. Não cobra uma dívida de um homem que um dia foi da mesma classe, econômica e socialmente, da mesma forma que a cobraria de um antigo rendeiro seu. Não com as mesmas consequências.

Isso, além de mais inúmeros fatores, está na base do cangaço nos sertões do Nordeste. Além do mais evidente, outra coisa chama a atenção. Os grupos de cangaceiros eram hierarquizados e basicamente eram-no a partir de velhos esquemas de origens sociais. Claro, havia espaço para o que hoje se chama ascensão por meritos, aferidos segundo a valentia e a fidelidade aos códigos de honra lavada com sangue.

E os mesmos modos de agir encontravam-se no cangaço e nas forças públicas que o combatiam, o que prova ser possível matar e roubar, dentro ou fora da lei. E prova, mais que isso, que matar e roubar obedeciam a leis muito próprias e não escritas.

O livro gira em volta da possibilidade de Lampião, o modelo de valentia e honorabilidade que foi execrado pela república crescentemente urbana, não ter sido abatido pela forças volantes do tenente João Bezerra, na Grota do Angico, em 1938. E, sutilmente, evidencia que pode ter sido abatido – ou pode ter fugido – por um cerco que não teve as características de coragem e tenacidade exaltadas nas versões oficias.

No livro, o Capitão Virgulino Ferreira – de patente oficial das Forças Patrióticas – escapou ao cerco do Angico, em Sergipe, e foi para o sertão da Bahia viver uma vida de fazendeiro rico, ele que tinha escondido tesouros em botijas enterradas. Teria seguido sua vida de criador de gados, confortavelmente, com outra identidade.

Um dia, precisamente o 20 de julho de 1934, ele sonhou um sonho que tinha um roçado todo morto, tudo morto pela seca, e um homem de preto, que não falava. Era o Padre Cícero que, por um lado, avisava-o de sua morte e, por outro, comunicava-lhe mais morte. Era o sinal que devia retirar-se daquela vida e dado pelo santo de quem ele era devoto. Em vários 20 de julho ele sonhou sinais importantes, comunicou-se com o Padre Cícero.

Ele teria sido vítima de uma rede de traições e covardias, ao contrário da versão consagrada do combate na Grota do Riacho Angico, e teria escapado vivo. Isso é muitíssimo plausível, pelo menos no que diz respeito à valentia e honorabilidade das forças volantes. Essas inclinações humanas são das mais constantes fontes de confusão que há.

Valentia e honra, assim absolutas, são irrealidades. Elas acontecem dinamicamente, não estrategicamente. Assim, tanto cangaceiros, como volantes, nunca se derem ao combate inutilmente, em franca desvantagem. Nunca deixaram de buscar escapar e fugir, quando isso era o óbvio, para evitar o extermínio puro e simples.

No livro, há uma deliciosa suposição – que imagino muito próxima ao que pode ter sido a realidade – de que o tenente João Bezerra, famoso vencedor do grupo de Lampião, era um frouxo, como se diz. O líder da força volante vencedora vendia armas a Lampião e conhecia seus coiteiros. Seria, basicamente, um oficial corrupto e hipócrita, a fazer um papel teatral. Teria sido levado pelas circunstâncias, mais que por vontade do combate.

A hipótese, inteligentemente levantada pelo autor, é de recurso a meios vis, indignos da valentia propagandeada pelos vitoriosos e repercutida em todas as versões de história oficial. A volante teria servido-se de uma rede de coiteiros com inclinação à delação e à traição e envenenado vários dos cangaceiros acampados no Angico.

Lampião usava seus coiteiros como atravessadores na compra daquilo que não podia obter simplesmente indo à feira e aos armazéns. E comprava carnes, leite, feijão, farinha e bebidas, basicamente. Então, um dos coiteiros foi cooptado por um suboficial da força volante e levou para o bando do Capitão Virgulino Ferreira umas garrafas de Cinzano com veneno.

Assim, na ocasião do ataque, muitos já morriam envenenados, inclusiva a esposa de Lampião, Maria Bonita. E o Capitão acabou por fugir, percebendo que não havia como resistir àquele ataque. Fugiu, foi para a Bahia, viveu de criar gados, até que em 1944, em um 20 de julho, sonhou com Antonio Silvino.

Antonio Silvino foi o nome adotado por Manoel Baptista de Morais, o cangaceiro mais conhecido, depois de Lampião. Silvino foi preso em 1914 e passou 23 anos preso no Recife, até ser indultado, em 1937. Depois de solto, Silvino veio viver em Campina Grande, na casa de uma prima. Ele morreu em 30 de julho de 1944.

Pois bem, Lampião resolveu visitar Silvino, que nunca conhecera pessoalmente. Teve ocasião ainda de conversar uma vez com ele. Na segunda vez que foi à casa simples em que Antonio Silvino vivia, encontrou já o velório do ex-cangaceiro. Lampião teria se agradado da cidade, então pujante por conta da riqueza que resultara do comércio do algodão, e decidira-se a vir morar no Planalto da Borborema.

Estabeleceu-se em Campina Grande, viveu discreta e ricamente, sob outro nome, sempre. Reuniu um grupo, que compôs uma irmandade protetora de ex-cangaceiros e de filhos e parentes de ex-cangaceiros, vítimas reais de um estigma social que se estabeleceu fortemente. Passados muitos anos, desse grupo restaram Lampião, com 97 anos, um integrante de seu bando e um soldado que fez parte da força volante do tenente João Bezerra e esteve no cerco – farsa, no livro – de Angico.

Eles pedem ao autor, personagem do livro, que escute a revelação, tome-a a termo e guarde segredo até à morte do Capitão Virgulino. Um sonho no dia 20 de julho tinha levado Lampião ao autor do livro, que encerra a obra a contar o enterro de Lampião, em Campina Grande, em 21 de julho de 1997, em sepultura simples ao lado da de Antonio Silvino, no cemitério do Monte Santo.

Esse é o livro, que vale a pena ser lido, realmente. De minha parte, espero uma sobra de tempo para ir ao Monte Santo, um dia desses, buscar a sepultura de Antonio Silvino – e não sei se esta sepultado com esse nome ou com o real – e ver quem está enterrado ao lado…

Aproveito para fazer uma sugestão a Ivonaldo Guedes, caso veja essa sugestão de leitura do seu livro, e é que leia Padre Cícero, Poder, Fé e Guerra no Sertão, de Lira Neto. Imagino que gostaria do livro.

Saúde pública e o lugar-comum do problema de gestão.

Um resquício interessante de positivismo é o discurso que aponta os problemas de gestão como pontos centrais. Quase cento e sessenta anos depois do surgimento da ideologia que aceitava ser chamada assim, ela continua a servir de mote aos que chamam atenção para os detalhes e – agora – não querem ser classificados como ideológicos.

O pessoal que aponta os problemas de gestão pretende que não há problemas de outra categoria, ou seja, que tudo passa por administrar os recursos de forma ótima, por definir estratégias, por reduzir os custos unitários das utilidades produzidas e oferecidas.

O encanto que a ideologia tinha nos seus inícios é quase o mesmo que vem gerando hoje, embora não se oponha, presentemente, às escatologias. Ela própria, a ideologia positivista, tornou-se salvífica, o que significa que se transformou no que era para ser: uma religiosidade com traços de ciência.

Quando se enfatiza a gestão de alguma coisa desvia-se o olhar das escolhas que devem acontecer previamente. Sim, porque a gestão é, de certa forma, a negação da política ou a política a negar-se. Ou seja, quem fala em gerir deixa de falar em escolher.

Não estou a negar a possibilidade de ganhos de eficiência, sejam marginais, sejam grandes, que os processos e serviços possam ter. Mas, a dizer que é preciso antes escolher os serviços que se querem oferecer e gastar o necessário. Percebe-se que o discurso enfatizador da gestão também é, de certa forma, negador dos preços e profundamente religioso no que tem de promessa de êxito incondicionado.

O Brasil gasta menos de 04% de seu PIB com o Sistema Único de Saúde, o que é insuficiente para custeá-lo, excepto se se reduzirem as metas de universalização.Basta comparar o dispêndio brasileiro com os valores de outros países mantenedores de sistemas universais para observar a insuficiência de recursos destinados a saúde pública aqui.

Daí que os problemas evidentes de má gestão sejam colocados em primeiro plano, para que não se pense nas decisões de onde o estado deve gastar. O discurso só funciona se for aplicado isoladamente a tais e quais áreas, sem a interligação evidente que a política faz supor. Por exemplo, a decisão de gastar-se mais em saúde pública ou, antes, de gastar-se mais na remuneração dos rentistas não se aborda, nem se resolve a partir de modelos de gestão.

Aliás, a opção de pagar-se muito em renda do dinheiro pretende-se amparada em uma ciência oculta ou, melhor dizendo, em uma pseudo-ciência que oculta sua natureza real de predação misturada em modelos matemáticos. O problema destes últimos é que o modelado tem realidade própria e sempre de acordo à vontade prévia dos modeladores.

O modelo reproduz uma vontade; ele não antevê uma possibilidade do real. Todavia, tem que se afastar a todo custo dessa palavra vontade, porque ela representa e é representada pela palavra política. Ora, em política nada é impossível, inevitável ou obedece a sólidos limites prévios. O âmbito político tem a dinâmica do imprevisto e do incondicionado, tem uma abertura que não se apreende muito simplesmente pelos modelos.

Ele precisa então ser substituído pela gestão, essa forma de farisaísmo anacrônico, em que uma classe sacerdotal maneja processos indiscutíveis, de origens imperativas e finalidades desconhecidas. É interessante observar que, relativamente às finalidades, as coisas vão se esfumaçando mais e mais, quando são analisadas a partir da perspectiva de gestão, até que o fim confunda-se com os meios.

Esse discurso com ênfase na gestão é parente colateral imediato daquele que afirma não haver mais ideologias, não haver direita nem esquerda. São discursos que pretendem instalar a idéia da falta radical de opções, da inexistência de alternativas, ou seja, da política previamente condicionada e exercida pela classe sacerdotal merecedora de ratificação automática do povo distante.

Esse feixe ideológico que nunca aceita a marca ideológica é um subproduto curiosíssimo do liberalismo. Trata-se de um direitismo clerical, que não se confunde com aristocracia ou tecnocracia. A falta de identidade é sua marca, uma não-marca é seu emblema.

Ele é cool  pelo que apresenta de negativas reivindicadas como signos de sua modernidade: ele não é de esquerda, não é de direita, não é uma ideologia, não é uma ciência, não é uma ditadura, não é tampouco o que chamará de velha democracia, não é contra ninguém, não é coisa de políticos…

É fascinante que uma coisa assim tão religiosa, tão evidentemente teocrática, seja chique, hoje! Sim, hoje que a religiosidade que atendia pelo nome de socialismo soviético foi decretada superada, inviável, impossível, anti-natural e outras qualificações negativas mais.

Fascina, mas não pode surpreender, porque a face religiosa de alguma política e ideologia tem que opor-se a outra religiosidade, da mesma forma que os trens podem ir em sentidos diferentes, mas nunca fora dos trilhos.

Assim, não surpreende que a gestão seja o discurso do político que não quer fazer política e, portanto, não quer falar em opções. Ele quer partir de imperativos categóricos e discutir todas as lateralidades de algum processo em andamento; terá que evitar, a qualquer custo, que se pense em outros processos. E, como não poderia ser diferente, recorrerá à desonestidade intelectual.

Ele dirá que mais ou menos do mesmo é o diferente ou engendrará o diferente. Ele fará crer que pequenas diferenças quantitativas acarretam diferenças qualitativas, o que é falso, de falsidade conhecida pelos clérigos nas posições mais elevadas. Eles sabem, os graduados, que a mudança quantitativa somente é qualitativa quando é imensa nas grandezas.

Por essas coisas, é anátema algum sujeito dizer que se gasta pouco com saúde e muito com juros, por exemplo. Tal proposição foge ao modelo, sugere opções que não implicam a gestão, senão como instrumento posto no seu lugar de simples instrumento. Ela não aceita sua condição instrumental, porque quer uma condição de revelação.

Quem matou Kennedy.

Obama não quer ficar assim…

O título é assim mesmo, sem interrogação. Primeiro, não visa a provocar falso suspense; segundo, sabe-se, pelo menos, porque mataram Kennedy, o que abrevia a questão de quem o fez.

Como não foi acidente, nem obra de Lee Oswald, evidentemente, a questão é por que e não exatamente quem. E a questão vem um tanto a calhar, hoje, quando as finanças testam os limites de tensão da corda.

O Presidente Obama não quer o mesmo fim, portanto cede…

O trecho adiante foi extraído do texto Who Killed JFK, de Dean Henderson e é bastante claro e direto:

Kennedy had angered the US military establishment but his death sentence was signed by the international bankers.

Kennedy had announced a crackdown on off-shore tax havens and proposed increases in tax rates on large oil and mining companies. He supported eliminating tax loopholes which benefit the super-rich. His economic policies were publicly attacked by Fortune magazine, the Wall Street Journal and both David and Nelson Rockefeller. Kennedy’s own Treasury Secretary Douglas Dillon, who came from the Bechtel-controlled Dillon Read investment bank, voiced opposition to the JFK proposals. [386]

Kennedy’s fate was sealed in June 1963 when he authorized the issuance of more than $4 billion in United States Notes by his Treasury Department in an attempt to circumvent the high interest rate usury of the Eight Families Federal Reserve international banker crowd. President Lincoln had made a similar move 100 years earlier and suffered the same consequences.

The wife of accused assassin Lee Harvey Oswald, who was conveniently gunned down by Jack Ruby before Ruby quickly died in prison, told author A. J. Weberman in 1994, “The answer to the Kennedy assassination is with the Federal Reserve Bank. Don’t underestimate that. It’s wrong to blame it on Angleton and the CIA per se only. This is only one finger on the same hand. The people who supply the money are above the CIA”.

David Cameron e a degeneração da classe dominante. Ou, Menelau ao contrário.

Em Esparta, a educação era dura para quem a tinha. Dez ou quinze por cento da população tinham que dominar os restantes pela espada. Eles, os espartanos, eram retirados de suas famílias muito novos.

As mães, ao entregarem seus filhos à educação estatal, davam-lhe o escudo e a espada e diziam-lhes para retornarem, ou com a primeira em punho, ou deitados sobre o segundo. Ou vitoriosos, ou mortos! Claro que, mães que eram, diziam-no obrigadas.

Os jovens espartanos eram estimulados, nessa educação, a tudo fazerem, a tudo arriscarem, a matarem, se quisessem, um escravo ou estrangeiro. Mas, se fossem descobertos, levavam uma surra que os deixava a beira da morte, eram largados a esmo, depois de espancados, para morrerem. Ou seja, tudo era possível, desde que desse certo, desde que não fossem descobertos. Havia risco e o erro não se pagava com dinheiro, mas com dor de pauladas mortais.

A emulação atual de aristocracia tomou de Esparta a parte fácil. Tornou em privilégio o que era ensino de bravura e de assunção de riscos. Um rapaz oriundo de Eton – escola inglesa que se diz aristocrática – fazia o que eles fazem: vandalismo de ricos. É interessante notar, falando-se de ingleses, que não brigavam nas ruas, propriamente.

Enchiam-se de cerveja ou uísque e saiam quebrando as lojas vizinhas. Chegava a polícia e os prendia. Chegavam os pais deles – ou seus prepostos – e pagavam indenizações pelos danos causados por brincadeiras juvenis!

Disso saem primeiros-ministros da Inglaterra. Assim como saíram do grupo dos desertores Presidentes dos EUA, como George Walker Bush e William Clinton. E vândalos como Cameron chamam de vândalos quem faz o mesmo, no que diz respeito às quebras de vidros…

Strauss-Khan: a canalhocracia é moralista. E os fatos? Há fatos?

Aconteceu qualquer coisa entre Dominique Strauss-Khan e a camareira Nafissatou Diallo, no hotel de múltiplas estrelas novaiorquino. Um estupro, um quase estupro, violência física… Há um processo pára apura-lo, porque acredita-se em processos para se descobrirem as coisas, embora sirvam pára construi-las e condenar alguém, que pode ser o autor ou o réu.

De início, Strauss-Khan foi submetido à indignidade pública, o que foi visto como vingança social, porque a indignidade momentânea de um poderoso foi vista como contrapartida da servidão histórica da outra, a vítima.

Houve as suposições habituais, quase todas esquizofrênicas e a girarem em torno ao mesmo ponto central do modelo. Para uns, os absurdos de um poderoso encontravam, enfim, punição no linchamento moral nada súbtil, mas imediato, transmitido direto para meio mundo. Pára outros, houve um golpe orquestrado cuidadosamente, com base em interesses escondidos e a servir-se de uma oportunista relacionada com pequenos criminosos.

A segunda idéia veio a parecer mais sagaz, para os que se querem sagazes. Depois que se descobriram contatos da vítima com criminosos comuns, estabeleceu-se que ela não era vítima. Esqueceu-se – a partir de alguns fragmentos de informação – que a reputação da vítima nada tinha com a ocorrência ou não da agressão.

A reputação da vítima, coisa elaborada segundo os critérios do agressor, tornou-se no ponto chave do caso. A vítima comunicava-se com pessoas suas semelhantes, étnica e socialmente. A vítima já se tornava culpada de ser quem era e de estar onde estava. A agressão desapareceu…

Isso vai muito além do antigo argumento tu quoque, que permite a dois bandidos igualarem suas situações, porque já fizeram o mesmo.Vai além, porque o mesmo só acontece em situações similares. É o argumento de dois frequentadores de Eton, que quebraram lojas, depois de bebedeiras, afastaram-se ligeiramente na política e reencontraram-se no parlamento, a responderem por delinquências comuns à classe.

Agora, diz-se que o laudo médico-legal aponta a existência de agressão física a Diallo, por Stauss-Khan. O tal exame não diz que Diallo amiga de fulano ou sicrano, encarcerado por isso ou aquilo, foi agredida e violada por Strauss-Khan. Diz que ela foi vítima de agressão, narra a existência de traumatismo na região pélvica…

Esses traumatismos físicos, essas evidências de violação com agressão física deixam de existir por conta das amizades da vítima?

Para o pessoal que reclama de carga tributária, por conta da Veja ou da Bobo.

 

Essa tabela, achei-a no blog do Brizola Neto, que sempre merece uma visita. Diz o que a maioria nega, porque a maioria alimenta-se de rede bobo e revista veja. A moda brasileira é falar mal da carga tributária. Até quem vive de predar o Estado, que vive da tal carga tributária, fala mal dela.

O meritocrático funcionário de classe média alta fala mal da carga tributária, dela que, para ele, além de baixa é regressiva…

Bem mais que 36 Rafales e 05 submarinos…

É terrível que a ingenuidade afirmativa tenha-se tornado postura bonitinha, cool, como se diz em inglês. Digo afirmativa, com o qualificativo a distingui-la marcadamente, porque ela é o disfarce voluntário, ou seja, é a festa à fantasia.

Agora, que temos um Ministro da Defesa que não trabalha para a Embaixada dos Estados Unidos da América no Brasil, algumas coisas podem ser levadas a sério de forma mais evidente.

Estamos muito envolvidos a discutirmos as formas de submissão financeira e a esquecermos as tradicionais, como se a primeira excluísse as segundas. Ou seja, vemos sofisticação na primeira e praticamente aceitamos-la como  inevitável; isso dá-nos a confortável impressão de superação das formas clássicas de roubos materiais, como se uma etapa rude tivesse sido vencida.

Petróleo, minérios sólidos e outras coisas classificáveis como recursos naturais roubam-se e precisam serem roubadas, senão seriam compradas a preços elevadíssimos. Não convém compra-las a preços altos nem rouba-las de forma a que os saqueados percebam-no claramente. Por isso, a indústria de convencimento dos roubados a se deixarem roubar é a terceira maior existente, atrás somente do dinheiro de promessa de pagamento e dos armamentos.

Por isso, há todo um suporte discursivo para a inexistência de fronteiras, para a difusão da idéia de recursos naturais sem donos, patrimônio da humanidade. Por isso, difundem-se as identidades culturais seletivas; difunde-se o progresso material e tecnológico, como se não tivesse qualquer suporte material e como se a energia que sai da tomada viesse do nada.

Por isso, todas as massas inclinam-se a pensar que correm somente o risco de serem assaltadas, na esquina, por algum meliante comum. Por isso, as classes médias dos em desenvolvimento pensam que o mundo é único, embora abaixem as calças para umas apalpadelas dos agentes alfandegários de Miami, quando vão comprar perfumes, roupas feitas ou gravatas coloridas.

O Brasil é, talvez, o país mais roubável do mundo, considerando-se sua vulnerabilidade. Claro que o país mais apetecível do mundo é a Rússia, mas essa tem 3.000 bombas e uma máfia interna – abstraindo-se dos que foram para a Inglaterra e dos que foram desaparecidos – que cuida das bombas e pensa em russo ou em grego, o que dá no mesmo.

Já é evidente que haverá uma redução marginal no consumo de óleo e minerais nos EUA e na Europa, que empobrecem. Mas, é claro, mesmo que não seja evidente para as massas, que tal redução do consumo de uns não significa a redução global. Também é claro que a redução pequena de consumo norte-americano e europeu não significa que aceitarão preços maiores.

Já é evidente que temos uma das cinco maiores reservas de óleo e de minerais, ferrosos e raros, do mundo. Evidência atrás da outra, a próxima é que teremos que negociar essas coisas como donos delas. Excepto se for possível dar outra volta no parafuso da compressão social, o que parece, hoje, um tanto complicado.

De oito anos para cá, produziu-se um efeito interessantíssimo no povo brasileiro. Passou a viver um pouquito de nada melhor, sem que os dominadores de sempre tenham passado a viverem pior. Ou seja, dificilmente aceitarão um regresso…

Mas, como esse povo entende nada do que acontece, uns julgam que é possível dar a nova volta ao parafuso, contando com desinformação e repressão. Ora, em escalas como as brasileiras, pode dar muito errado, principalmente com o desenho atual. Volto a dizer, a genialidade de Lula foi reduzir minimamente a miserabilidade de quem já tinha condições de perceber o sem razão de sua exclusão total. Nunca o perdoarão por isso, por ter criado uma massa que não aceitará retornos.

Para que não haja retornos, será fundamental apropriar-se do resultado da venda do que abunda nestas plagas. E, se não houver quem compre estas riquezas, que sejam consumidas aqui.

Garantir isso implicará muito mais que os declarados 36 Rafales e 05 submarinos nucleares que o Brasil deve comprar. A aquisição deve ser muito maior que isso, embora não precise aproximar-se da escala selenita das compras militares que se vêm por aí.

A oportunidade fantástica que se abre é de tornar brasileiros setores que nunca o foram. E não se trata apenas de dar um porta-aviões de presente à Marinha de Guerra, ou aviões de segunda linha à Aeronáutica ou ainda tanques e obuses velhos ao Exército. Tampouco, trata-se de fazer uma emulação mais pobre do complexo industrial-militar que tomou metade do poder nos EUA.

Trata-se de tornar uma riqueza potencial em atual e distribuída e de fazer nascer um setor interessado na defesa do país, profissionalmente. Ao contrário de um setor que vai às festas à fantasia, recoberto de medalhas de glórias supostas, e funcionário de interesses outros, dócil a um embaixador norte-americano.

Não será tarefa fácil por 50 caças de ultima geração e 15 submarinos nucleares a operarem como defesa de quem eles podem matar. Mas, é tarefa única a ser elegida, porque a outra é torna-los apêndice dos tentáculos dos ladrões.

Nova fábrica FIAT em Goiana, Pernambuco.

Trata-se de uma unidade que construirá à volta de 200 mil automóveis por ano, a partir de 2014. Empregará, diretamente, à volta de 3.500 pessoas. Implicará o surgimento de um pólo industrial, na divisa dos Estados de Pernambuco e Paraíba. Gerará uma imensa demanda por serviços, também.

Mas, já tem muita gente achando chique falar mal…

Originalmente, esta fábrica seria instalada no complexo portuário de Suape, na região sul de Pernambuco. Acontece que o Governador Eduardo Campos fez questão de evidenciar que não é burro. Negociou com a Fiat a transferência para a divisa com a Paraíba. Os efeitos econômicos se desconcentram e atingem mais gente.

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