Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Mês: outubro 2011 (Page 2 of 3)

Alumbramento. Luz, verdes variados, cinzas, marrons.

É difícil contar um alumbramento, porque ele não é somente histórico, ou abstrato, ou concreto. Não é um transe, nem uma experiência estética, nem extática. Engraçado, tudo que é difícil começa por negativas e continua a ser facílimo de saber-se o que é, embora difícil de contar, para quem não é poeta. E não sou.

É necessário prosear, portanto. Costumava, há vinte anos atrás, mais ou menos, viajar de carro com um tio; umas viagens de 180 quilômetros. De uma cidade no litoral do nordeste brasileiro para o oeste, em linha quase reta. Do húmido e plano ao ageste e semeado de serras baixas, e de volta ao litoral. No mesmo dia e sentado ao lado do condutor.

Quase toda viagem é bonita, mas essas eram mais bonitas na volta. A progressão do litoral ao agreste não é, contra o que o senso comum possa indicar, a mais contrastante. O inverso é verdadeiro, embora possa parecer sem sentido, porque as duas etapas são as mesmas e contrárias evoluções. Mesmas porque contrárias.

Do verde mais aquoso ao menos, do mais plano ao menos, do mais vermelho ao mais marrom e cinzento é a progressão do mais vital ao menos. É, poeticamente falando, a mais impressionante progressão, mas não é para mim. Sim, não sou poeta, digo de novo.

Do oeste para o leste, descendo-se suavemente de algumas centenas de metros até nenhum, a vitalidade da terra cresce, ela deixa-se perceber terra sobre terras e não pedras esfareladas sobre pedra dura. O verde torna-se, a pouco e pouco, mais água, o vento torna-se pegajoso, o azul tem mais brancos entremeados. Essa transição costuma ser mais impressionante.

A ida e a volta, distingui-as porque precisava escrever; hoje sei que são as mesmas coisas. Embora continue achando que o rumo de cima a baixo, de oeste a leste, seja o mais poético; e não sou poeta.

Quero, mas é aproximar-me de um jeito de falar da água do verde e do marrom e cinza dos morros e, ainda mais, da hora. As plantas têm tonalidades diferentes, conforme os sítios onde se enraizam, claro! Mas, por que é claro, se são todas plantas? Ora, as plantas são diferentes, embora sejam todas plantas. Sei disso. Umas são mais verdes, outras menos verdes.

Umas são mais água e outras menos água, é o que vejo. Tenho mania de água. As tonalidades são para mim variações d´água; os tamanhos das folhas e das copas são variações d´água. O ar varia conforme a água. O chão, terra e pedras, esse não varia conforme a água, para minha visão, embora só dependam dela, recebendo-a ou deixando-a correr.

A luz, ela deve ser a responsável por essa sinestesia pouca, poucamente contada em prosa insuficiente. A luz é aquela das quatro e meia da tarde, não há outra mais bonita.

Engraçado, a mais bonita precede por uma horinha a mais triste que há, a dos morcegos a voarem em torno às mangueiras do jesuítas. Quando os morcegos começam a arrodear as mangueiras da Boa Vista, naquele voo de sobe e desce, falta meia hora para o toque da Ave Maria Sertaneja, nos alto-falantes na Universidade Católica: Quando batem as seis horas, De joelhos contra o chão, O sertanejo chora, A sua oração...

Às quatro e meia, longe da Boa Vista, eu vi, cheios de claridade, os topos das serras, cinzentos. As plantas, já a meia aquosidade, a terra marron, e sombras. Elas devem ser parte fundamental da minha impressão.

Às quatro e meia, o sol é claríssimo, mas oblíquo já. Aqui, ele põe-se cedo, pouco importa se é verão ou inverno, que estamos muito perto da linha do Equador. Ele não cai de cima a baixo, como chuva grande sem vento, o que faz ao meio dia. Ele clarifica tudo, meio por trás, mas ainda meio por cima. Ele brilha as coisas e faz sombras. Ele faz contrastes.

Esse sol, essa hora, essa viagem de volta, esse verde só água, esse chão não só cores, fizeram muitos alumbramentos. De que eu tentava falar, com a máxima precisão possível, para um condutor que escutava e que intervinha, às vezes, com o deleite e a condescendência que tinha com as coisas não dissimuladas.

Hoje, fomos almoçar, Olívia e eu, um bacalhau, em João Pessoa. Há, lá, um fulano de Guimarães que faz bacalhaus muito bons e cobra caro por eles e mais caro ainda por alvarinhos que nos teriam custado 3,00 euros do outro lado do Atlântico. Pouco importam o caro dele e os 130 quilômetros de ida e outros de volta. Estavam ótimos, o bacalhau com polvo e o verde barato caro.

Saímos, do litoral ao agreste, às três ou três e meia, sei lá? Do meio do caminho em diante, eram quatro e meia da tarde, a hora do sol brilhante que não agride e ilumina de cima e de lado. O danado do sol das quatro e meia era filtrado por aquelas nuvens pesadas que não dão chuva; passava por grandes buracos da rede de nuvens mal traçadas. Cilindros de sol desciam pelos buracos das nuvens, e quadradinhos de sol desciam meio de lado sobre tudo.

A concentração com que dirijo o carro aumentou, assim como aumentaram minhas olhadelas rapidíssimas da paisagem. O relevo pareceu-me fantástico, serras baixas conhecidas olhadas com o mesmo olhar e com outro resultado. São as mesmas de sempre. Estavam lindas, elas as serras e as pequenas árvores e as lagoas que seguem a estrada. Lindas.

Tinham, além do brilho e das sombras, profundidade. Mais longe, eram mais escuras, perto um tanto mais claras, todas cada vez mais cinzentas. Outras horas não dão percepção de profundidade. As lagoas que se formam ao largo da estrada, eram de pedra. As ondulações da água, pequeninas ondas constantes, eram de pedra, de tão constantes de luz, que era a única coisa a qualificar-lhes.

Bebi a paisagem, gota a gota, alumbrado.

A indignação, os protestos, o anti-conformismo difuso do mocinho satisfeito, a que visam?

Leio no Público que planeiam-se manifestações de protestos em sessenta e sete países, para o dia 15 de outubro próximo. Que o lema dos tais protestos é unidos por uma mudança global e que serão pacíficos e que se referem ao 15 – M, que se dizia o início de uma revolução. Tudo bem, mas vamos olhar as coisas mais detidamente.

A mesma matéria do Público – escrita de forma confusa, diga-se – refere que a coisa toda começou na Espanha e que repercutiu em outros países, notadamente europeus. Na Alemanha, a organização do movimento de protesto segue o lema a democracia não está à venda. Na Espanha, seu berço, o movimento quer lembrar aos políticos que o 15 – M continua vivo. Tudo será combinado por meio de redes sociais, a dependerem da internet.

Reclamar é preciso e saber contra quê também é preciso.

O bem-estar social que há na Europa e, em menor escala, nos EUA, foi conquistado com muita reclamação e com a cumplicidade das circunstâncias históricas, que recomendavam descompressão e criação de mercados consumidores. E foi também possível porque o restante do mundo pôs-se a trabalhar para torna-lo viável.

É meio dramático dizer que houve mais recebimento que conquista, nos últimos sessenta anos, mas é verdade. Para agradar uma parte do mundo, havia que deixar caírem mais migalhas das mesas fartas. E havia também a necessidade de contrapor-se às possíveis seduções do tsarismo místico que se instalara na Rússia ganhadora da segunda grande guerra.

Não saiu caro para os donos do dinheiro permitirem aos europeus em geral – em momentos diferentes – viverem razoavelmente ou mesmo bem. Dar-lhes condições de conviverem em pouco espaço sem a necessidade de acertarem suas discórdias violentamente e dar-lhes a aparência da condução de seus processos políticos foi opção inteligentíssima.

As massas européias e norte-americanas acreditaram que tinham situações estáveis, que viviam as condições a elas destinadas divinamente e imutáveis, portanto. Ao ganharem mais que conquistarem, acederam à pior das possibilidades, a de gritar e gritar, sem saber mesmo o que era gritado.

É curioso que tenham gritado contra os colonialismos, que permitiram suas vidas relativamente boas. Que tenham gritado contra os políticos, que eleitos por elas vendiam-se e vendem-se a interesses contra elas. Que tenham gritado contra as bombas nucleares, enquanto elas eram semeadas em seu solo. E que tenham gritado e gritado mais e as coisas continuassem a andar da mesma forma.

Mais curioso ainda, é que gritantes não mataram ninguém. Gritantes, não pensaram. Gritantes, cometeram uma e outra pequena deliquência a ser ajustada pelas regras formais. Gritantes, reclamaram de muita injustiça ao redor do mundo, mas essas injustiças eram o desvio de riquezas para seus senhores, riquezas que eles usavam para dar-lhes o alimento do grito.

Aos gritos, receberam seu pequeno suborno Mas, é ótimo que os subornados a preço baixo gritem; é melhor que ficarem calados. Escravos calados, ou estão em transe e não trabalham, ou conspiram contra os senhores.

Então, a Europa jovem vai mobilizar-se em protestos contra a mercantilização da democracia – como se tivesse sido de outra forma – contra a situação global – aqui, mistura de ignorância com hipocrisia – contra os impostos que se destinam a pagar aos bancos? E, que tal se destruíssem os tais bancos?

Que tal se se propusessem a assumir os lugares do tais políticos e deixassem de ser escravos dos bancos? Têm coragem? Ou se trata de mais um pedidozinho de suborno?

Os plurais foram-se da língua falada no Brasil.

Há tempos a abolição dos plurais na língua falada pelos brasileiros chama minha atenção. Realmente, agrada-me bastante pensar em coisas de pouca ou nenhuma utilidade prática; assim, penso mais livremente, certo de não estar a promover coisa alguma, a propor nada.

A princípio – além de um falar feio – parecia-me a renúncia a uma possibilidade riquíssima da língua: a flexão em número. Renúncia como outras tantas, que implicam perda de precisão, algo como usar uma mesma e única chave inglesa, ainda que se disponha de todo o jogo de chaves, cada uma com sua abertura específica.

Se assim fosse, provavelmente iríamos no caminho de outras supressões, como, por exemplo, a de gênero. E nada indica isso, antes, ao contrário, a língua falada no Brasil é bastante marcada por flexões de gênero. A tal ponto que parecem mais vincos semânticos que flexões de classes de palavras, de nomes e de qualificativos de nomes.

Por outro lado, nunca me pareceu que fosse algo como um uso coloquial, ou seja, como se usam termos diferentes em locais diferentes, para chamar a mesma coisa. Mas, tem, no fundo, a mesma desimportância das diferenças de usos de termos locais. Pode ter alguma relação com os usos locais, em termos de pronúncia, da mesma forma que algumas vogais suprimem-se na língua falada.

Na enorme maioria das vezes, o falante brasileiro não flexiona o substantivo em número, mas flexiona os artigos definido e indefinido. Ou seja, há plurais, indicados pelos artigos. É comum ouvir-se as casa e os carro. Está claro que se fala de mais de uma casa e de um carro, embora os substantivos estejam no singular. Mas, também está claro que o erro é meramente normativo, formal, e, não lógico.

De certa forma, o falar coloquial inseriu uma declinação, a depender somente dos artigos. Diferentemente acontece com a ausência dos plurais nas pessoas verbais. Essa ausência, além de parecer-me ainda mais feia, suscita mais pensamento.

Eles foi é construção um pouco mais difícil de perceber como ajuste perfeitamente lógico, embora simplesmente infrator de alguma regrinha formal. Uma maneira de assemelhar as explicações seria dizer que as ações tomam-se como substantivos. Mas, isso é falso, pois as pessoas não igualam, no falar, nomes e ações. Elas usam a mesma lógica que supõe a flexão somente nos artigos para supo-la apenas nos pronomes.

Somos simplificadores ao extremo e mal educados, formalmente. Nenhum problema com isso, todavia. Nem mesmo sob perspectiva gramatical, uma vez que a cada pessoa – sujeito, terceiro, singular ou plural – só pode corresponder uma ação. Eu é, tu é, ele é, nós é, vós é, eles é, são formas logicamente possíveis. Inclusive, em algumas línguas, as flexões não têm diferenças sonoras.

Problemas surgem se quisermos falar sem pronomes e artigos, o que é possível, como pode ser percebido neste período. E, vistas por este ângulo, as supressões de plurais são, sim, um empobrecimento. São uma renúncia a possibilidades mais amplas, embora não comprometam a comunicação, nem agridam a lógica da língua.

Limite.

Em certo sentido, não há Estados nacionais, é preciso dizê-lo. É preciso ainda tornar esta assertiva mais precisa, mais próxima do significado. É de tempo que se trata e de quase nada mais.

É, pois, de um momento que se trata, do momento em que a pressão é tão grande que promove a fusão; do momento imediatamente após àquele em que a abertura da válvula seria ainda eficaz; do momento imediatamente anterior à abertura da válvula, agora já eficaz para deixar aparecer outra coisa.

O Estado nacional permite atingirem-se dois objetivos: primeiro, a dominação de outros estados, a disfarçar-se a dominação interna; segundo, dar aparência de legitimidade a modelos políticos, sejam quais forem, ou seja, fazê-los parecerem-se necessários.

Desde 1814 manda o dinheiro. Não que tenha tido papel secundário em outras épocas, mas não era capaz de reivindicar a primeira posição inconteste e, mais constante. Outras forças compunham com o dinheiro o exercício do poder e com ele revezavam-se nos períodos de proeminência de umas e outras.

Sempre que me ponho a pensar mais detidamente sobre algo, seja a sério ou não, acabo por lembrar-me de Ortega y Gasset. Resisto, às vezes, a ir busca-lo na estante, para ter a certeza das palavras exatas de que me lembrei. Resisto porque já fiz isso demasiadas vezes e porque já não tenho muita paciência para citar e transcrever.

Isso de mandar ou não o dinheiro está na Rebelião. Ortega é a antítese dos enigmas a serem decifrados; ele é claro e direto, pois, diferentemente de um estilo cultivado por muitos, hoje, que se escondem por trás de falsos enigmas e segredinhos de jogos de palavras.Este autor agride muitos leitores porque é honesto ao oferecer ao leitor todas as premissas dos seus raciocínios. Ora, a desonestidade e a superficialidade não perdoam a coragem dos que pensaram…

Ele diz com todas as palavras que nem sempre o dinheiro mandou sozinho e refere o óbvio exemplo dos judeus na idade média, que tinham o dinheiro, mas eram a escória da sociedade. Mais adiante, não lembro mais se no mesmo ensaio, ele diz que mandam as montras, as vitrines. Di-lo por volta de 1926. Explica muito simplesmente que o dinheiro nem sempre mandou porque não havia tantas coisas a serem compradas por meio dele.

Reúnam-se o dinheiro, seus detentores, as montras e o tempo. Antes, porém, vejamos que as montras são o modelo da exposição, ou seja, da venda ostensiva de tudo que passa a existir abundantemente para ser comprado; modelo que implica a massiva propaganda mediática, algo de que a montra em si é precursora.

Quando passa a haver montras cheias de produtos, o dinheiro passa a ser um imenso significante daquilo exposto. E as idéias – logo percebe-se – também podem ser postas nas montras, e também podem ser vendidas, compradas, desejadas, tornadas obsoletas, podem ser idéias de inverno, de verão!

O aumento vertiginoso da produção manufatureira, desde o início do século XIX, encontrou vastos campos de amortecimento dos seus inevitáveis efeitos concentradores. Encontrou-os porque este aumento foi ele mesmo concentrado em alguns Estados nacionais, o que permitiu transferir a compressão para a periferia do mundo e dar alguma capacidade para os trabalhadores do centro buscarem a sedução das montras.

Acontece que o processo é mesmo triunfante e, assim sendo, espalhou-se na periferia. Não poderia ser diferentemente, pois mercados são necessários, sempre mais e mais. Essa expansão leva os traços delineadores do Estado nacional a se tornarem mais tênues, mais enevoados, menos discerníveis. Mais nítida torna-se a diferença entre o 01% e os restantes 99%, mais e mais…

O dinheiro manda e mandam seus detentores, agora eles mesmos menos receosos de se irem expor nas montras. Elas ganharam para eles a aceitação ampla e difusa que é possível nos modelos uniformizadores triunfantes. O turbilhão da vida em função das montras, essa valsa incessante, permite que tudo se diga, se faça e nada se perceba, enfim.

Seria profundamente tolo, nesse ponto, supor que o dinheiro ocupou um espaço que foi de alguma moralidade que lhe fazia de rival. Ora, o dinheiro ocupou a posição que lhe cabia, independentemente de qualquer moralidade, porque passou a haver coisas que ele pode significar em termos de trocas. Lembremos, para nos afastarmos da superficialidade sempre insinuante, que não houve confronto entre dinheiro e moralidade, no Mercador de Veneza, mas entre duas moralidades diferentes.

O dinheiro gosta que alguma moralidade seja apresentada como sua antítese, porque dela se apropria muito facilmente, hoje. Não que as compre, assim pura e simplesmente, mas porque sabe que não são coisas antagônicas e, portanto, que uma não ameaça a outra! São coisas diversas, coexistiram longamente, não se comunicam e não se anulam reciprocamente.

O dinheiro só teme a desconcentração, ou seja, o momento do não-dinheiro. Como isso é praticamente inconcebível, é natural que nada tema, portanto. Realmente, essa coragem tem razões de ser, porque é relativamente fácil manter-se o modelo do poder do dinheiro concentrado, bastando para tanto uma e outra descompressão.

Duas dificuldades apresentam-se, todavia: a primeira é saber os momentos das descompressões e suas extensões; a segunda é acreditar que elas são necessárias!

É interessantíssimo notar que uma sociedade em que as pessoas tenham casas para morarem e algum dinheirinho para um café são imensamente propensas ao conservadorismo e à cegueira. Ou seja, uma sociedade em tais condições oferece sua servidão voluntária, com um e outro espasmo, aqui e acolá, que não oferecem maiores riscos.

Essa sociedade deixou de ver qualquer outra coisa além do que lhes revelam as montras e está apta a saber da imensa concentração como sabe de algum fato consumado e enfim impossível de ser diferentemente.

Todavia, se o limite é passado, as coisas assumem ares de imprevisibilidade. É notável – por quaisquer aspectos que se lhes observem –  que haja manifestações como essas do End the FED e Occupy Wall Street, nos EUA. São notáveis, inclusive, comparadas à insatisfação política dos movimentos espanhóis das praças, que se voltaram contra nada, porque voltar-se contra a política é visar um não-alvo.

Norte-americanos, as pessoas singularmente mais dispostas à passividade interna, reúnem-se contra o dinheiro! Não é contra guerras ou contra a política – que isso não lhes afeta – é contra o dinheiro concentrado excessivamente, que lhes tira as casas e os empregos. Esses foram os mais eloquentes alertas da chegada do ponto de descompressão e é bom que os mandantes do mundo percebam-no.

Sobre concentração e limite, lembro-me agora de uma estorinha engraçada, que não se conta realmente a propósito de problemas sociais e econômicos, mas é bastante reveladora.

Enfim, a estorinha diz que um inglês, muito introspectivo e dedicado às ciências empíricas, percebeu que a necessidade do seu cavalo de comer era algo muito limitador, além de custoso, é claro. E percebeu que muitas coisas são feitas por condicionamento, mais que por necessidade propriamente. Então, resolveu ensinar seu cavalo a não precisar comer. As lições começaram e andavam bem mas, quando o bicho estava quase aprendendo, morreu!

O coitado do inglês ficou sem cavalo, o que certamente custou-lhe mais que um cavalo que comia, até porque, na época, podia mandar a conta da ração para a Índia e para a África. Sucumbiu à ciência toda-poderosa, que lhe apontou a inexistência de limites e a possibilidade de ter cavalo e não ter custos.

Pois os cavalos em que o 01% dos donos do dinheiro andam montados precisam comer alguma coisa, até para poder suportar-lhes o peso. E precisam dormir, os infelizes, de preferência em algum estábulo de que não sejam expulsos no meio da noite.

O forró, o “for all” e a kizomba.

De uns anos pra cá, geralmente na época do São João, surge uma estória de que o nome “forró” seria o aportuguesamento de “for all”, e que seria usado por soldados americanos para falar de festas “para todos” (tradução ao pé da letra de “for all”) onde tocava a música que hoje se conhece por forró… Logo o nome do nosso estilo musical nordestino, nos teria sido presenteado, até isso, pelos americanos.

Acho que além de inverídica, para não dizer estapafúrdia, a estória contada nos deprecia… O que se chama de cultura, e nos chega desde os Estados Unidos da América, não é exatamente algo que eu diga que tenho orgulho da influência, em nossos regionalismos, sabendo que, hoje em dia, há até mesmo cópias de músicas em inglês, adaptadas apenas ao nosso ritmo. Esse tipo de estória aparece, e fica nessa obscuridade, até por improbalidade, não se pode provar o contrário, e talvez por isso mesmo, ganhe ares de coisa séria.

A kizomba é uma dança africana, de Angola, onde há um baile muito parecido ao de nosso forró, apesar do ritmo ser bastante diferente. Isso é fácil de ver e provar. Mas penso que dizer que forró é “for all”, e que veio dos EUA, gera, para algumas pessoas, mais estatus, do que dizer que aprendemos a dançar com os africanos e que o forró parece MUITO com a kizomba!

Deixo vocês com uma pequena aula, olha só o “passo base” e diz se não é forró direitin! =)

A única solução. Retirado do texto The Dynamics of Doom: Why the Eurozone Fix Will Fail, por Charles Hugh Smith.

The only real solution to the Eurozone end-game is massive debt forgiveness and the resulting destruction of “too big to fail” banks, and a return to national currencies, which will enable structural imbalances to be resolved via currency devaluations. This will of course destabilize the German export economy; but that is inevitable.

“Extend and pretend” is an endgame, not a fix.

 

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