Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Mês: novembro 2012 (Page 1 of 2)

Oblivion.

A beleza vem da graça, da proporção e da violência. Não da brutalidade fria que o vulgo confunde com a força vital que é a violência.

Não vem de qualquer coisa moralizante, nem de qualquer anacronismo mediato ou imediato; portanto não vem de arremedos infantilizantes ou senilizantes.

Vem de formas graciosas. Não dramáticas, mas trágicas. Vem de esforço, não de abandono.

Obama e a aposta certa na massificação.

Todos os governos norte-americanos desde o Presidente Jonhson apoiaram incondicionalmente o sionismo e trabalharam basicamente para os interesses de três complexos econômicos: o sistema financeiro, a indústria bélica e a indústria químico-farmacêutica.

Não é que me esqueça do complexo mediático, mas que o ponha na condição de intermediário entre o poder real e o poder político, o segundo desepenhado por empregados escolhidos pelo primeiro. A imprensa não é propriamente um complexo para que os governos trabalhem, mas a voz dos três grandes grupos onde está o poder real.

Essa voz permite que exista a aparência que é o jogo democrático, falsa peleja que só pode ser encenada com massas não apenas incapazes de pensar, mas incapazes de ter acesso a fatos.  Claro que estágios mais avançados da imbecilização espetacularizante chegam até a permitir a livre circulação de fatos, tal é o nível de lógica de partido e cegueira a que se terá chegado.

Hoje, de certa forma, atingiu-se o nível ideal de espetacularização para que o domínio seja quase pleno. É possível que evidências passeiem às vistas das pessoas e sejam percebidas exatamente como se não tivessem ocorrido ou, pior, que delas se extraiam conclusões contrárias ao que um ser mais ou menos livre extrairia.

Pois bem, o Presidente Obama disse, a respeito de mais uma erupção do afã matador israelense, que nenhum país tolelaria mísseis vindos de fora a cairem no seu território. A proposição é irretocável, sob um prisma abstrato, formal e sem quaisquer aparentes juízos de valores a turvarem o entendimento. O evidente da frase, deixemos para lá: que Obama simplesmente quer defender Israel, pois é natural defender o patrão.

Não me parece inteligente supor que Obama é pouco inteligente e que ele mesmo age e pensa como os destinatários da fórmula, de resto tão lógica. Ele não é burro; ele é um empregado bem formado, que consegue demonstrar simplicidade e sofisticação com certa naturalidade e por isso foi escolhido para o posto. Ele é muito mais serviçal e violento que os brutos, exatamente porque não age com brutalidade, mas com sutileza.

Recorrer às formas para esconder a matéria é usual. No âmbito político, implica público ignorante de história e já deformado para ter o campo de opiniões reduzido ao maniqueísmo mais binário possível.

A redução do público ao homem massa total – aquele que até a linguagem perdeu – e ao homem massa aparentemente não-massa  – aquel que detém a linguagem, alguma lógica formal, mas obra já no maniqueísmo atemporal – foi trabalho levado a cabo pelo cinema, pela TV, pela imprensa escrita e pelos escritores a soldo de um público inculto e da academia.

Obama diz que nenhuma nação aceita chuva de bombas extrangeiras, o que é o mesmo que dizer que não aceita invasão externa. Os palestinos constituem uma nação. Assim, os palestinos não é suposto que aceitem invasão e usurpação de suas gentes e territórios pelos israelenses, há cinquenta anos.

O trágico em Obama não é sua lógica, mas que a possa usar para extrair aplausos por ser tão lógico, de um público tão massificado que não perceba que a fórmula serve para qualquer situação.

Picanha estufada com alhos.

A picanha é um corte bovino ótimo para a brasa; sua grande e regular camada de gordura dá-lhe imenso sabor à medida que derrete sob o calor de um braseiro forte e distante. Sua dificuldade principal é retirar a camada de pele encontrada na face de baixo da peça, aquela contrária à camada superior de gordura. Se essa pele não for retirada, resulta mal até no melhor braseiro.

A picanha na panela não é novidade e talvez seja perda das potencialidades dessa peça tão boa de carne bovina. Sim, porque a famosa capa de gordura, se a carne é estufada, resulta numa consistência que sabe mal e fica dura. Porém, essa godura dá sabor ao estufado e basta retirá-la depois.

Comprei um peça de um quilo de picanha, relativamente magra, de gado zebuíno, certamente. Essa raça, muito adaptada ao clima brasileiro, de origens indianas ou africanas, não sei, é magra e de carnes menos tenras que as raças de origens européias, tão bem adaptadas ao Uruguai e à Argentina. Aqui, um parêntesis: a melhor carne do mundo come-se no Uruguai.

A picanha, em termos planos, é um triângulo-retângulo. Em termos espaciais é forma que ganha altura à medida que se afasta do vértice da hipotenusa com o cateto maior. Por isso, convém fatiá-la perpendicularmente a uma linha imaginária que sai da metade desse ângulo entre a hipotenusa e o maior cateto.

Pois bem, fatiei a peça assim e a pus a descansar imersa em molho de soja. Essa, talvez seja a melhor maneira de salgar uma carne para panela, sem usar sal e com a vantagem do leve sabor ao referido molho. Uma horita será suficiente.

Entretanto, piquei em pedaços bem pequenos duas cabeças de alho. Sim, é bastante alho, mas não resultará mal, que alho demais faz parte. Cortei em fatias bem fininhas um molho de cebolinha, também. Nada de cebolas, portanto.

Na caçarola, qualquer coisa de azeite, que isso vai de olho e não de peso, ou colheres. Quente o azeite, põe-se dentro o alho e a cebolinha, baixa-se o fogo e tampa-se a panela. Melhor que abrí-la para mexer é sacudí-la fechada.

A panela fechada hidrata o refogado com seus próprios vapores, mas convém ficar atento ao momento em que os alhos e cebolinhas començam a pregar-se ao fundo da panela. Nessa altura, sobe-se o fogo e despejam-se os cortes de picanha, sem o molho. Os pedaços já entrarão suficientemente molhados em seu próprio sangue e no molho de soja.

Os primeiros minutos são de panela aberta e fogo alto, que carne tem que tomar calor e soltar seus sucos e receber a invasão do alho desfeito em azeite fervente. Principalmente, a godura da picanha tem que tomar o choque do refogado quente.

Logo ao depois, baixa-se o fogo e tampa-se a panela, depois de virar os pedaços e mexer bem, para que alhos e cebolinhas impregnem tudo.

Isto não dura vinte e cinco minutos e serve-se com arroz e abacaxi em rodelas. No caso de hoje, como o tempo estava adequado, com um tinto alentejano barato por aqui, o que significa um tinto alentejano qualquer, vulgar, mas de seus 13º. Depois a certeza de que para cada inclinação um deus e para cada sono uma só coisa: a rede.

Juiz Joaquim Barbosa perpetra mais uma aberração.

O juiz do stf Joaquim Barbosa, na sua fúria persecutória aos réus da ação penal 470, dá mais uma volta no parafuso das aberrações jurídicas da perseguição seletiva: manda cassar os passaportes dos réus, que ainda não foram condenados por decisão transitada em julgado.

A medida não tem amparo legal. Foi adotada algumas vezes, a partir da aberrante atuação legislativa de um tribunal que não foi eleito para legislar, quando verificou-se risco real e iminente de fuga de algum processado. Ainda nesses casos, foi ilegal e adotou-se erroneamente como substituta da correta prisão cautelar, que era o cabível.

Quem pode cassar passaportes, no Brasil, é o Ministério da Justiça, órgão do Poder Executivo; nunca o poder judiciário, que não é competente para dar, negar, ou cassar tais documentos.  A cassação de passaportes não se inclui entre as penas previstas na legislação penal brasileira.

A medida revela um juiz com espírito de cruzado e total desprezo pelas leis; certo de possuir alguma condição divina, portanto.

Além disso, é praticamente inútil. Os países do Mercosul não exigem dos nacionais dos estados integrantes passaporte para o ingresso de nacionais. Ou seja, um brasileiro réu na ação penal 470 pode, mesmo com o passaporte cassado ilegalmente pelo juiz, ingressar no Uruguai, por exemplo.

E, lá pode pedir asilo por perseguição política disfarçada em processo judicial, já que este não atendeu às garantias que a constituição brasileira prevê. Seria interessantíssimo que alguém fizesse isso, pois a concessão do asilo político implica o reconhecimento por um Estado soberano das violações sofridas pelo asilado no seu país de origem.

Marcos Valério na Rua Toneleros. Pequena parte 1.

A única coisa a que o capital esteve ameaçado, no Brasil, foi a dividir um pouco menos selvagenmente seus ganhos. Pouquinho menos selvática divisão e permanência de ganhos no país, isso foi tudo quanto bastou para sentir-se ameaçado e partir para golpes de Estado.

Os golpes foram atentados à mais elementar lógica. Sempre se deram a bem da democracia, suprimindo-a. Puríssima lógica do Estado de exceção esteve e está por trás do golpismo brasileiro. Não repitirei detalhadamente pela milésima vez o exemplo de Lacerda e Castelo, mas devo lembrá-lo.

Incapaz de ganhar a presidência nas urnas, Lacerda foi o golpista mais tenaz desde 1950 até 1964. Fez Getúlio suicidar-se, fez o hábil Juscelino servir-se de Lott, fez o honrado Jango servir-se de seu medo de provocar a guerra civil.

Fez, enfim, Costa e Silva presidente da república e fez sua própria cassação vir à realidade. Carlos Lacerda percebeu que o golpe seria uma ditadura tão rapidamente quanto Jango e Juscelino o perceberam. A diferença era que ele tinha estimulado o golpe e Juscelino apenas aceitado, satisfeito por poder concorrer em 1965. A estas alturas, Jango apenas sofria a depressão do exílio uruguaio.

Lacerda foi cassado por aqueles que ajudou a dar o golpe. Dez anos antes, ele era mais inventivo; levou Getúlio Vargas ao suicídio por meio de acusações inverossímeis, na esteira de uma campanha moralista.O episódio da Rua Toneleros – cheio de nuvens – é de se lembrar, porque esta infâmia levou Getúlio à morte.

Um atentado estranhíssimo resultou na morte do major Rubens Vaz e no ferimento de Carlos Lacerda no pé. Os homens estavam juntos, mas um foi morto com tiros no tórax e outro foi ferido com tiro no pé. Particularmente, creio que Lacerda daria um pé pelo poder…

Envolver Getúlio era a finalidade principal. A versão oficial, construída pela imprensa, dava conta da vontade de Getúlio, por meio de Fortunato, seu chefe de segurança. Nunca houve provas disso, mas provas eram o menos neessário, como hoje.

Como nossos pais, por Elis Regina.

Não quero lhe falar,
Meu grande amor,
Das coisas que aprendi
Nos discos…

Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa…

Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado prá nós
Que somos jovens…

Para abraçar seu irmão
E beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço,
O seu lábio e a sua voz…

Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantada
Como uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
Cheiro de nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva
Do meu coração…

Já faz tempo
Eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Essa lembrança
É o quadro que dói mais…

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais…

Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer
Que eu tô por fora
Ou então
Que eu tô inventando…

Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem…

Hoje eu sei
Que quem me deu a idéia
De uma nova consciência
E juventude
Tá em casa
Guardado por Deus
Contando vil metal…

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo,
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais…

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