Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Mês: novembro 2013

JFK: as duas hipóteses plausíveis.

Os fatos históricos ditos relevantes podem ter por trás acidentes e aleatoriedades, mas isso é raro como causas principais.  Lee Oswald é hipótese para o assassinato de John Kennedy digna do nível mental da sociedade de massas triunfante. Ele, nas suas duas variantes, é pueril demais.

Como agente a serviço do comunismo patrocinado pela URSS, seria preciso admitir que fosse capaz de violar as regras da física e que a URSS fosse dirigida por imbecis. Como agente da CIA a serviço desta e da máfia, seria necessário admitir a violação das regras físicas e aceitar a conspiração na sua pior forma: aquela que diz ser possível um alcaguete de polícia fazer algo sem motivações e condições.

A bem da concisão, deixo Oswald de lado, porque é tolo considerar possíveis os três tiros rapidíssimos de longe e porque todos que contam sabem que foram ao menos dois tiros de frente, algo que os marselheses saberiam fazer bem. Ademais, quem se dispunha a tal empreitada sabia ser muito mais seguro contratar gente competente do submundo de Marselha que um vai com o vento, informante dos serviços secretos. E, ao depois, todos seriam mesmo eliminados, como ocorreu com Lucien Sarti no México.

Uma trilha segura é procurar os que se beneficiariam com a coisa. O mais evidente é Lyndon Johnson, que herdou a presidência. Mas, há um menos evidente, que aponta para uma hipótese também plausível, não como o responsável e mandante, mas como um elo para a ação de outros descontentes: Bob Kennedy.

Joseph Patrick Kennedy era um irlandês mafioso e riquíssimo. Seguiu a trilha dos mafiosos riquíssimos e inteligentes, ou seja, visou a esquentar e branquear, tanto o dinheiro, como a linhagem. Tratava-se de abandonar o estigma de mafioso e ele teve bastante sucesso nisso. Primeiro, ele estancou os vínculos mafiosos nele e não os transmitiu aos filhos; segundo, ele mandou os filhos lutarem de verdade na II grande guerra, e perdeu o primogênito e quase perde o segundo.

Embora mafioso, irlandês e católico, ele fora embaixador em Londres e mandara os filhos para a guerra, pelos EUA. Tinha mais que dinheiro, portanto, e tinha muita ambição. Ele construiu a carreira de John, seguindo o cursus honorum à risca e ao custo de muito dinheiro e favores. Valia a pena, porque o sobrevivente era inteligente e simpático, o que é a mistura da sagacidade com a tolerância, temperados pela necessidade e a falta de escrúpulos.

É invulgar que o patriarca tenha percebido as circunstâncias do tempo e planeado incursões em áreas que não seriam comuns. Percebeu que macartismo e radicalismos eram infrutíferos e comprou até um prêmio Pulitzer para John Kennedy, dando-lhe acesso ao campo dos liberais letrados, tolerantes e sedutores, mesmo que o livro fosse escrito por algum escritor fantasma.

A gente descendente de Joseph Kennedy não se assemelhava minimamente ao protótipo do magnata rude do Texas, nem do político semi-alfabetizado dos dois partidos irmãos.

Acontece que para eleger John Kennedy em 1960, Joseph obteve dinheiro, acordos e votos com a máfia do país todo e principalmente de Chicago de de Las Vegas. O pessoal da teoria da conspiração oficial, geralmente a maior imbecilidade disponível, costuma dizer que Sinatra intermediava esses negócios, o que não faz qualquer sentido. Sinatra era empregado da máfia e bem mais novo que o velho Kennedy, que lidava diretamente com os outros chefes, porque ele mesmo fora um deles.

Bob Kennedy, procurador-geral, inventou de acossar a máfia dos jogos e tráfico de entorpecentes e lavagem de dinheiro e venda ilegal de armamentos. E foi mais além que uma simples farsa ou encenação para satisfazer os moralizantes que gostam de conspirações. Parecia que acreditava naquilo, o que deve levar o analista a muitas dúvidas, porque o pai dele o deve ter advertido da insensatez.

Em 1962, falava-se muito de máfia nos EUA, mas nada que recomendasse como estratégia de propaganda política uma pressão real sobre ela, principalmente por um procurador-geral de presidente eleito com a ajuda dela. Ou Bob foi burro, ou ingênuo, o que dá quase no mesmo. Talvez não tenha sido burro e tivesse desenhado tudo para dar em nada, mas esses cálculos sofisticados podem não ser percebidos bem pelos que são obrigados a darem esclarecimentos em comissões inquisitoriais.

Bobby, com a morte de John, tornou-se candidato natural para 1968, mas a história provou que ele errou no cálculo, se de cálculo tratou-se. Pode ter sido a máfia tradicional, aliada com os psicopatas anti-castristas, que mandou matar John, por causa da perseguição do procurador-geral. Minha curiosidade atem-se a quais teriam sido suas razões: ingenuidade, erro de cálculo ou ignorância do alcance dos acordos que seu pai fizera para eleger seu irmão mais velho.

Mesmo que ele tenha calculado tudo corretamente e, consequentemente, apostado na possibilidade de restabelecer o acordo inicial de Joseph, tornou-se inconfiável e foi morto. Claro que não foi morto por outro imbecil agindo por conta própria e motivos insondáveis em Los Angeles, em 1968.

Outra hipótese passa pelo que Israel começava a fazer em Dimona. Com mais história que os católicos, e muito mais que os irlandeses católicos, Israel queria a bomba atômica, porque o sionismo é tudo menos burro. Se a fossem fazer somente com esforços próprios, levariam dez anos. Com a ajuda dos franceses, esse tempo se abreviaria em cinco anos, mas isso para quatro ou cinco ogivas.

No final das contas, tanto os franceses, quanto os norte-americanos, ajudaram decisivamente. Ocorre que Kennedy opôs-se a vender a bomba a Israel. Não sei se por anacronismo, fidelidade a Ialta, medo, sabedoria, preocupação em manter a detenção da bomba apenas pelo grupo que já a tinha, ou seja lá o que for. Certo é que ele tinha poucas ou talvez nenhuma ligação com o lobby que viria a ser o mais importante nos EUA, o sionista.

Era muito arriscado ter pouca fidelidade a este grupo de interesses que viria a ter não apenas o dinheiro, mas as mentes no país dominante do mundo. Estar ligado à famosa máfia, anacrônica, de jogos e tráfico de entorpecentes e armas começava a ser muito pouco na época. Essa gente tinha dinheiro, mas dinheiro pouco relativamente a quem tinha dinheiro muitíssimo e o afã religioso de ter um império a serviço da terra prometida em termos talmúdicos.

Qualquer das duas hipóteses é plausível e ambas complementares, na medida em que os grupos interessados ganharam ambos. Sem receios de parecer ingênuo, creio que perderam os EUA, porque o presidente que não hesitava em ordenar golpes de Estado e consentir em eliminações físicas, foi expurgado para se por em seu lugar coisas piores.

Pode ter sido muita burrice de Bobby ou a reação previsível de um lobby que já era forte, mas ainda não se arriscara à eliminação.

José Dirceu: preso político duas vezes.

Acontece a José Dirceu a raridade de ter sido preso político na ditadura e estar em vias de novamente sê-lo, na aparente democracia regida pelo direito. É provável que na próxima semana seja realizada sua prisão, com algemas, equipes da TV Globo, fotógrafos dos jornais, toda a dramaticidade de uma degradação pública de alguém profundamente corajoso.

Isso resulta de uma farsa montada no tribunal mais alto do sistema judicial brasileiro. Algo tão burlesco que permite concluir que os juízes não erraram tecnicamente, mas fizeram deliberadamente algo que pode ter inúmeros nomes, exceto julgamento.

Uns juízes aparentam certa loucura, misturada com superficialidade e volubilidade; outros são conservadores de antiga fé, daqueles que dão a volta à casa armados, à noite, antes de deitar-se, à procura de algum comunista escondido nos jardins. Há deles tão vaidosos que estão continuamente a serviço de certa imprensa, que os adquire com espaços para dizer barbaridades em entrevistas, muito à vontade e sobre o assunto que quiserem. Por fim, há os covardes.

A imprensa dita grande – Globo, Folha de São Paulo e revista Veja – incumbiu o tribunal constitucional da missão de expurgar pessoas como José Dirceu, mesmo que isso implicasse a montagem de uma farsa tão ampla que levasse junto mais gente também inocente. E eles gostaram da incumbência e chegaram a exceder-se, principalmente pela ferocidade inquisidora e pela mendacidade do acusador-geral.

A coleção de violações às leis perpetradas nesse julgamento de fancaria é muito extensa e convém mencionar as principais. O último tribunal do sistema judicial só é juiz natural em matéria criminal para quem detém mandatos federais. Assim, o stf era absolutamente incompetente para iniciar julgamento criminnal de José Dirceu, por exemplo, que não era mais deputado federal.

Provas a favor dos réus foram suprimidas e ocultadas por meio de desmembramento de inquéritos e determinação de sigilo sobre os que evidenciavam não haver dinheiros públicos envolvidos. Realmente, o maior tribunal do pais encontrou o crime de peculato com dinheiro privado, algo que vai além do simples e corriqueiro desprezo pela lei, o que é comum nos juízes brasileiros.

O peculato é desvio e apropriação de dinheiro público e os famosos recursos pertenciam a um fundo privado da empresa VISANET. Para tornar as coisas mais absurdas, os serviços contratados foram prestados.

O presidente do tribunal esforçou-se para oferecer aos que o puseram em evidência mediática messiânica o máximo possível em linchamento bem ao gosto da pequena-burguesia, ou seja, sangue e humilhação como veículos de expiação moral. Para obter mais efeitos dramáticos foi necessário dar mais uma volta no parafuso das violações a direitos e garantias e fatiar – a expressão é do juiz – o julgamento por supostos crimes e julga-los em blocos.

Nunca o judicial brasileiro – pródigo em desprezo seletivo pela legislação e em subserviência aos interesses mais conservadores – produzira com tanta presa farsa tão digna de vaudeville. O nível caiu bastante, o que revela o grau de apoio da imprensa e o grau de desprezo pelo público razoavelmente alfabetizado, que rapidamente percebeu tratar-se de nada mais que um juízo de exceção em que os réus já entraram condenados.

Os juízes passaram a ficar à vontade demais, como se todo o país se compusesse de leitores da revista veja e perpetraram a imensa coleção de profanações à legislação sem preocupar-se com as aparências, com suas biografias, com nada, enfim. Chegaram ao grau zero de honra, porque não é razoável que tenham feito isso por ignorância formal.

Dois clowns togados sacaram dos bolsos um nome mágico: teoria do domínio do fato. Essa muleta serviu para fazer o que é absolutamente proibido no processo criminal: condenar sem provas. Mas, um dos pais da teoria, o alemão Roxin, veio a público dizer com todas as palavras que não se tratava de algo a permitir condenação criminal sem provas, como equivocadamente queriam os tradutores nacionais. E eles não coraram, não silenciaram e fizeram de conta que não tinham sido expostos ao ridículo.

Não há, nos autos da farsa, qualquer prova de pagamentos a parlamentares para votarem desta ou daquela forma, feitos com dinheiros públicos e de maneira sistemática e continuada. Ou seja, não há provas de corrupção ativa nem passiva, de peculato, nem de formação de quadrilha. Nada obstante, uma juíza disse com todas as palavras que embora não houvesse provas ela condenaria porque afinal ela podia fazer isso.

Novamente, estanco um pouco para insistir num ponto: o nível da farsa, o à vontade com que se perpetrou a coleção de violações, revelam bem a total falta de limites que inspira juízes amparados na imprensa e o total desprezo pelo público, porque têm a certeza de que é integralmente constituído de imbecis, o que é falso, porque 05% da população não é imbecil.

A primeira prisão de José Dirceu terá sido menos infamante para os mandantes que está segunda. A ditadura era menos farsesca que este tribunal ansioso por dar roupagem jurídica a um juízo de exceção de réus previamente condenados. Convém que Dirceu faça o mesmo gesto de quando estava prestes a embarcar para o exílio: exiba as algemas, altivamente.

O Brasil precisa de armar-se.

À direita e à esquerda – que não sou desses novos direitistas que negam a dicotomia – receia-se postular que o país se arme adequadamente para autodefesa. O receio, por razões diferentes, é bastante indicativo de outra dicotomia fundamental: entre nacionalistas e entreguistas.

Os grupos que se opõem ao armamento adequado do país fazem-no basicamente por medo de forças armadas detentoras de bons equipamentos, por medo de forças armadas capazes de garantir a soberania e por crer que há outras prioridades no gasto público. Percebe-se que o terceiro argumento é quase neutro, porque pode ser adjacente aos dois primeiros.

As forças armadas têm histórico de ajuda a golpes de estado, no Brasil, sempre em auxílio dos grupos que não logram êxito na obtenção do governo por meios eleitorais. Todavia, essas forças que ajudam golpes ou os realizam não precisam necessariamente estar bem equipadas, porque nunca chegamos ao limite duma guerra civil. Elas patrocinam golpes de Estado mesmo sendo mal equipadas e mal treinadas.

Por outro lado, historicamente, a divisão entre nacionalistas e entreguistas é bem marcada nas forças armadas e sempre houve, ainda, os legalistas, ou seja, grupo que não adere a iniciativas golpistas. Assim, a balança é desequilibrada por ação de forças outras e externas às forças armadas, independentemente de quão equipadas sejam.

É óbvio que, cedo ou tarde, se não conseguirem aceder às riquezas minerais e ao mercado brasileiros sem limites, os EUA aumentarão a intensidade das tentativas de desestabilização de governos que se preocupam mais com interesses locais que com transferir riquezas para fora e ficar com as comissões. De início, são pressões disfarçadas com argumentos que soam bem aos ouvidos de parte das classes mais altas.

Em momento posterior, das pressões passam à intimidação e à busca de pretexto para invocar suspensões ou perdas de soberania localizadas e pontuais. O discurso ecológico serve bem a esta segunda volta do parafuso e dizem que o país é incapaz de garantir patrimônios naturais que se convertem, discursivamente, em patrimônios mundiais que devem ser protegidos por fiscais externos.

Não há recuo nisso exceto se o país vítima for capaz de defender-se. Realmente, se a vítima potencial tiver real capacidade de defesa, até essas etapas iniciais tendem a morrer logo após o nascimento, porque neste campo há pouco discurso inútil.

É claro que o Brasil foi imensamente estúpido ao abrir mão de fazer sua bomba atômica e que, agora, é um pouco tarde, mesmo que nunca seja tarde de todo. Retomar a construção da bomba é essencial e, contra os raciocínios baseados no senso comum, é muito mais barato que pode parecer. A bomba é caríssima para economias pequenas que não se beneficiam da enorme cadeia de produção tecnológica e industrial, mas é relativamente barata para economia do tamanho da brasileira, considerando-se todos os efeitos econômicos e estratégicos que decorrem.

De qualquer forma, mesmo que continuemos nesta tolice de renunciar à bomba, devemos ter uma defesa adequada e isso implica, basicamente, sistemas anti-mísseis, anti-navios e anti-aéreos. Não precisamos de largos investimentos em infantaria, nem em cavalaria mecanizada. Tampouco precisamos de uma marinha opulenta ou com inúteis porta-aviões.

Baterias de mísseis anti-navios e anti-aéreos devem ser instaladas ao longo da costa brasileira e na amazônia. Da mesma forma, bases aéreas com poucos caças como Sukhoi 35 ou Dassault Rafale equipados com armamentos contra embarcações e contra alvos aéreos são o suficiente. O que precisamos de infantaria e de cavalaria mecanizada deve ficar nas fronteiras orientais ao norte.

É completamente anacrônica a estratégia de defesa que reputa prioritárias as fronteiras sul, com Argentina e Uruguai. É mais que anacrônica, é mesquinha, a manutenção de enormes contingentes militares burocráticos no Rio de Janeiro. Esses dois exemplos de prioridades e falsas prioridades revelam que as forças armadas sucumbiram à lógica do oportunismo de funcionalismo público e nada mais.

Universidade de Letras…

Duas fotos tiradas na universidade de Letras de Salamanca enquanto eu esperava a chuva passar. Tudo bem, são fotos de telefone, e usei uns filtros um tanto quanto ruins, mas afinal o prédio da faculdade de Letras é muito bonito, ele se fotografa sozinho.

Chove chuva, chove sem parar... , , , , , , , ,

E só chove, chove...