Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Mês: fevereiro 2015

As contas para o golpe de Estado.

Essa deve ser a última tentativa de golpe de Estado, no Brasil, com forte apoio institucional dos Estados Unidos da América. Não creio que em quatro ou mais anos à frente possam empenhar esforços a ajudar seus empregados aqui, notadamente na imprensa, partidos políticos e judiciário. Exatamente por isso, será a mais feroz, talvez mais que a de 1954 contra Getúlio Vargas.

Não creio que a democracia resista. A pequena burguesia está totalmente cooptada pelo discurso mediático: parcial, superficial, moralista, histérico. Sob medida, enfim, para seduzir a camada pior de toda e qualquer sociedade: a classe média média. As classes baixas não tendem o que acontece e preocupam-se em pagar suas dívidas. As classes altas esperam para ver o que virá; quase sempre ganham…

O motivo é o de sempre: petróleo e Petrobrás; reservas e a empresa que detém o conhecimento da extração em águas profundas. Enquanto a empresa manteve-se relativamente pequena e não anunciou as reservas, a predação foi pequena. Depois que se tornou evidente a existência abundante de petróleo no Brasil e a Petrobrás ganhou tamanho, o entreguismo visou-a diretamente. Já o farsante Fernando Henrique Cardoso empreendeu a primeira tentativa de entregá-la, sem sucesso, contudo. Não houve tempo suficiente.

O golpe interessa a muitos e beneficia a poucos, algo que geralmente só se percebe ao depois e faz rir quem vê tantos escravos empenhados em se autoagrilhoar. A estrutura é nitidamente hierarquizada e dividida entre idealizadores e executores. Idealizadores são bancos, petroleiras, indústria bélica, farmacêutica, enfim, o grande capital articulado no esquema da propriedade cruzada.

Abaixo, vêm os sistemas institucionais públicos e privados. Abaixo do capital grande, o governo dos Estados Unidos da América e seus satélites não governamentais, que atuam para irrigar de dinheiro os subsistemas locais. Localmente, a burocracia judiciária, a imprensa e partidos políticos são agentes da desestabilização.

Os empregados locais, à exceção dos que desempenham funções políticas, fazem poucos cálculos e trabalham quase de graça, movidos, a maioria, apenas por inércia. O discurso da imprensa os embala e os leva até a ser contra si mesmos. Os funcionários públicos a serviço do golpe podem, em sua larga maioria, ser postos neste grupo dos suicidas involuntários, movidos pelo narcisismo, ignorância e vontade de servir a qualquer coisa que não seja o próprio país.

Para o grande capital, quanto mais rápido for o golpe de Estado, melhor. Quanto mais rápido puserem as mãos no petróleo e na Petrobrás, melhor. O problema é que parte dos agentes locais do golpe tem mais contas a fazer. Os parlamentares, especialmente, têm muitas contas a fazer no que se refere ao tempo exato da ação.

Esse problema do tempo deve-se a dois fatores, basicamente. Se derrubam a presidente antes da metade do mandato, geram eleições em que o derrotado das últimas será franco favorito. Se a derrubam depois da metade, assume o vice-presidente. Ora, os golpistas não são um bloco unido e o poder é muito sedutor, mesmo para quem se dispõe a ser preposto de interesses externos.

Poucos se dispõem a dar o golpe em benefício imediato de outros. Poucos acreditam nas promessas de sucessões, porque todos já mentiram muito e traíram-se reciprocamente várias vezes. O imediatismo decorre do nível de predação em que essa gente atua. Terão de chegar a um acordo para enfim executarem o golpe de Estado na forma político-jurídica.

Outro obstáculo, não ao golpe, mas à sua permanência, é Lula. Para o grande capital, pouco importa que Lula retorne eleito em 2018, depois do golpe, caso tenha acedido ao petróleo e à Petrobrás. Todavia, para os agentes executores locais isso é importantíssimo e não pensam dar um golpe de Estado para ficar no poder por dois anos apenas.

Por isso, tentarão a interdição judicial do Lula, para impedi-lo de disputar eleições em 2018. Quem pense que este jogo segue regras dirá que está minha afirmação é quimérica. Mas, quem pense que há regras, esse sim vive imerso em quimeras. O poder judicial fará o que lhe pedirem a imprensa e os partidos de oposição para dar mais um passo na destruição do Estado de direito. Qualquer pretexto servirá a a experiência da grande farsa da AP 470 provou ser possível encenar qualquer comédia e dar-lhe ares credíveis, com apoio da imprensa.

Se será possível evitar o golpe ou minimizar seus efeitos, não sei dizer. Mas, é condição necessária de qualquer tentativa reconhecer que o golpe de Estado está avançado e é patrocinado internamente pela imprensa e pelo poder judicial.

Dilma e os acordos e escolhas errados.

É inútil pagar a quem recebe e não entrega, bem como celebrar acordos com partes desleais. Há incompatibilidades incontornáveis e nem tudo está disponível para se resolver com dinheiro ou boa vontade e concessões.

A presidente Dilma parece ter-se deixado guiar pela tolice de crer nos acordos. Ordenou ou deixou que se adotassem medidas altamente concentradoras de rendas, a bem de agradar aos mais aquinhoados no Brasil, para que estes recuassem nos seus impiedosos, desmotivados e constantes ataques ao governo.

Eles não recuarão. A única coisa que os faria acalmar-se seria a privatização da Petrobrás, mas não creio que Dilma chegasse ao ponto do crime de lesa-pátria.

Subjacente a muitas parvoíces praticadas está a idéia de que a economia de um país nada mais é que a economia de um lar em escala ampliada. Esta crença, evidentemente muito apreciada – na proporção direta de sua estupidez – leva ao fetiche e histeria da austeridade, assumida como dogma.

Nesse sentido, o governo brasileiro, sem que o país viva qualquer crise relevante, nem cambial, nem fiscal, anunciou aumentos drásticos de impostos sobre a gasolina e o diesel, ao mesmo tempo que aumentou os juros pagos pelos títulos da dívida pública.

Não é preciso ter frequentado os bancos da escola de economia, de engenharia ou de matemática pura por quatro anos para perceber que as medidas visam a aumentar a arrecadação para exatamente pagar mais juros, na outra ponta, a meia dúzia de detentores de títulos.

A piorar, o principal aumento de imposto deu-se sobre a gasolina e o diesel, algo que todos têm que comprar, mesmo que na forma de um pacote de bolachas, porque tudo é transportado por alguma máquina movida a diesel.  Ou seja, o aumento de impostos foi profundamente regressivo, pois atingindo indistintamente a todos, atinge os mais pobres mais intensamente.

Para piorar, a medida foi erroneamente percebida como uma recomposição de preços dos combustíveis derivados do petróleo, como forma de ajudar as contas da Petrobrás que, segundo a imprensa, estariam ruins. Mas não foi isso absolutamente o que ocorreu, porque o aumento dos preços da gasolina e do diesel foi apenas nos impostos.

Além de algo regressivo e destinado a arrecadar para concentrar rendas mediante pagamento de juros a poucos, ainda alimentou o discurso de destruição da Petrobrás.

Os beneficiados com estas formas de retirar do todo para repassar a poucos não terão qualquer gratidão pelo agrado recebido do governo, na medida em que são predadores consumados e se creem merecedores de tudo. Não adianta agradar essa gente e desagradar a quantos escolheram este governo.

Para aumentar a arrecadação por impostos havia várias alternativas menos regressivas e que só desagradariam aos que já estão desagradados e tem raiva atávica do governo que melhorou mais a vida dos mais pobres.

Poderiam ser elevados tributos sobre a importação de espelhinhos, sobre cigarros e bebidas, poderia ser instituído um imposto sobre grandes fortunas, poderiam ser criadas novas faixas de imposto sobre a renda, poderia haver mais rigor nas aduanas. Seria interessante, por exemplo, abrir todas as malas dos passageiros provenientes de Miami…

Isso do parágrafo acima acirraria o ódio de quem já o nutre em doses elevadíssimas. Mas, seria menos ruim que desagradar o grande número e, pior, sem agradar realmente a maioria. O governo precisa conduzir-se com mais inteligência estratégica.