Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Mês: novembro 2016

Advertência, punição, eliminação.

Para saber quem manda em você, apenas descubra quem você não pode criticar.

Essa frase é atribuída a Voltaire equivocadamente. O equívoco de autoria, pouco importa se voluntário ou não, não retira a genialidade da proposição, que é de poucas a fazerem sentido independentemente de contexto. Um belo aforismo, portanto.

A imunidade à crítica é o signo certo da presença do poder real. Um critério que pode ser usado gradualmente, a revelar na proporção da imunidade a intensidade do poder de que se cuida.

As investidas contra o poder, desde que sejam sérias, fundadas, contínuas e encontrem grande difusão e aceitação, receberão, gradualmente, advertência, punição e eliminação. Convém advertir que são raras as investidas contra o poder real que o levam a reagir. Isso porque conseguiu conformar uma sociedade de massas tanto incapaz de perceber onde ele está, quanto de dizer ou fazer algo eficaz contra ele.

Outra causa da relativa raridade de reações – principalmente das sanções mais drásticas – é a eficácia com que o poder real delimita um campo de reações padrões contra ele mesmo. Ou seja, fornece os modelos dos ataques que por ele são aceitos, fornece os modelos de narrativas para as investidas contra ele.

Isso percebe-se muito facilmente nos grupos que conseguem predeterminar as piadas que relativamente a eles se farão. Assim, sua tolerância aparente é mantida , enquanto detém o controle quase absoluto do discurso sobre si mesmos e evitam que se vá ao cerne das coisas.

O núcleo do poder real é o sistema financeiro sem fronteiras e suas articulações com a indústria bélica. A mandar nesse sistema está majoritariamente gente que jura perder mão e olho, para que não se perca Jerusalém. Daí evidencia-se que falar dessa gente traga, desde que haja alguma consistência e não se trate do humor por eles mesmos autorizado, a primeira sanção: ser caracterizado como louco ou adepto de conspiracionismo, o que, ao final, dá no mesmo.

Para a enorme maioria dos faladores, o sancionamento pára por aí, pois 90% do que se diz é meio maluco mesmo. Nem é mesmo necessário deter uma evolução no discurso, porque este discurso circular não evoluirá e ficará realmente a parecer paranóia conspiracionista.

Na hipótese de haver uma escalada no discurso, com ganho de consistência teórica e fática, com colheita de e associação de fatos provados e sem embalagem emotiva ou exagerada, entra em cena a segunda etapa sancionatória. Será, então, lançada a maior de todas as acusações, aquela que destrói sem possibilidades de recursos, sem admitir objeções racionais: antisemita!

Hoje, como na verdasde há muito já, é pior que ser considerado abusador sexual de menores, genocida ou traficante de órgão humanos. Estas três acusações que dei como exemplos admitem contradições, objeções quanto à realidade de fatos; a acusação de antisemitismo é absoluta, ela basta-se, é o banimento total e irrecorrível, que nunca se analisa racionalmente.

A última e mais grave sanção é reservada para grandes agentes detentores de alguma capacidade efetiva de criar dificuldades materiais aos interesses do conúbio finanças – indústria bélica. São presidentes, ministros de Estado e que tais. Geralmente ao agiram em contrariedade aos interesses do poder real, já previram o uso dos dois primeiros graus de sanção e estão dispostos a seguirem adiante mesmo assim.

Para estes, resta a eliminação física…

Convenceram-te de que eras rico.

É relativamente fácil – e verdadeiro na essência – enunciar que as pessoas são levadas a agirem politicamente contra si mesmas por conta dos efeitos da propaganda que se convencionou chamar jornalismo. É demasiado óbvio, mesmo. Contudo, não é tão óbvio com qual narrativa isso foi atingido.

Ou seja, o agente é a imprensa e o meio a propaganda, mas o conteúdo material desta propaganda merece ser analisado. Não seria qualquer discurso apto a conduzir vastas camadas ao entorpecimento e a posturas verdadeiramente ilógicas, nem seria suficiente apenas a supressão de informações ou sua fragmentação, duas técnicas tão comuns quanto eficazes.

A supressão e a fragmentação desestruturam a informação, fazendo-a insignificante, no fundo. As possibilidades de compreensão ampla e de inserção de cada porção no todo, adequadamente contextualizadas, são afastadas. Essas técnicas confundem e impedem a compreensão defensiva. Porém, não levam ao desejo positivo do desfavorável.

Uma coisa é não perceber o desfavorável, por falta de elementos ou por elementos misturados confusamente, outra é desejar o desfavorável. Conseguir produzir o segundo estado é o objetivo sempre sonhado da engenharia social.

Pois bem, o governo brasileiro atual adotou uma medida que consiste em congelar todas as despesas públicas por vinte anos, exceto o pagamento de juros da dívida pública. Isto é algo que não se insere, nem se compreende, pelas perspectivas teóricas da teoria econômica liberal ortodoxa ou heterodoxa. Só se compreende pelo prisma do banditismo. Essencialmente, é uma aberração em que todos perdem, exceto os financistas.

Pressupõe que o futuro foi adivinhado com vinte, dezenove, dezoito anos e assim em regressiva sucessão. Supõe também que uma das partes do agregado demanda é desprezível e que o total pode crescer com um dos elementos paralisado, como se os fatores não se influíssem reciprocamente.

Que se proponha algo assim, compreende-se. Que se o aceite e deseje por parte de quem certamente perderá, é algo já desafiador. Pois observa-se que grandes contingentes desejam a medida, como se não percebessem que pela parte do vendedor não é bom que se reduza o poder do comprador.

A mágica, creio eu, passa por terem sido as pessoas – e principalmente aquelas que teriam a mítica racionalidade empresarial – levadas a crerem-se inatingíveis por se terem identificado por cima. Convenceram-nas de que são muito ricas para sofrerem os efeitos do congelamento das despesas públicas; convenceram-nas que não vivem ou dependem de despesas públicas.

O mais divertido disto tudo é ver que os interessados em promover tal convencimento são os que ganharão – e até aqui é óbvio demais – e que esses também vivem de despesa pública. Ora, na origem deste movimento – tanto da medida em si, quanto da guerrilha da propaganda – estão os bancos, que devem a maior parte dos seus lucros no Brasil exatamente aos obscenos juros que o Estado paga para obter financiamento!

Daí surge uma contradição deliciosamente não original: o problema não é de aumentar ou reduzir a despesa pública, mas de canaliza-la apenas para um reduzidíssimo grupo, sob os aplausos da enorme maioria, que perderá em maior ou menor graui, conforme a classe social de que se trate.

É necessário reconhecer que foi um trabalho excepcional!