Sou homem, nada de humano me é estranho.

Públio Terêncio Afro

O grande número é mantido em estado de permanente suspensão e excitação mental, por uma sucessão de fatos escandalizados, dramatizados, pintados em preto sobre fundo branco. Assim mantido por obra mediática, ao contrário de melhorar sua instrução e sua capacidade de ajuizar, torna-se num grupo intelectualmente zumbi.

O típico homem massa vê no mínimo um crime dito bárbaro por dia, na TV e nos jornais baratos que só falam de crimes e de futebol. O alimento da sua histeria é farto e sua contínua digestão nutre o tensionamento constante de suas fibras nervosas. O homem massa vive tenso, escandalizado, histérico.

Brutalmente insincero, diz não entender como as coisas podem passar-se assim ou assado, notadamente quando se cuida de algum crime dos que violam mais que as leis, seja pela violência quase ritual, seja pela relação da vítima com o agressor. Ora, dizer-se incapaz de compreender alguma ação humana é por-se como extra humano ou infra humano, o que é falso.

Tudo de humano é cognoscível para um ser humano. Demanda algum esforço, claro, e saber que potencialmente todos são iguais. Há quem se contenha mais ou menos, que se conheça mais ou menos, eis as diferenças.

A ira, essa energia fortíssima, é objeto de dezenas de milênios de esforços humanos de contenção. Todas as codificações sociais e jurídicas visaram a conter-lhe a explosão. Tarefa exitosa, posto que reduziu muito as oportunidades de explosão, basicamente com a ameaça da exclusão. Mas, a ira em estado puro emerge sem quaisquer considerações prévias, sem ponderações de custos e benefícios. É energia pura.

A forma de obter antídoto ao tétano é clássica. Inoculam-se os cavalos com pequenas e constantes doses e, com pouco, tem-se os anticorpos no sangue do cavalo.

A forma de embrutecer grandes grupos e torna-los incapazes de julgamento e permanentemente imersos numa histeria escandalizada é semelhante. Rações de diárias de informações dramatizadas e desarticuladas; ensinamento diário de que não é possível compreender certas coisas, como se a obras dos homens não fossem humanas.