Estamos em uma residencial simpática no Largo da Senhora-a-Branca. Essa parece-me a zona mais aprazível de Braga, tem uns jardinzinhos, uma igreja, casas assobradadas.

É um sítio bonito, em oposição ao vulgar de onde moramos, há um ano e tanto. Quase todos os dias passávamos por aqui, rumo ao centro. Eventualmente, parávamos na pastelaria que há ao lado da residencial, para um café, uma sande, um doce.

Puseram-nos em um quarto com janelas para o largo, no segundo piso, bem em frente à fontezinha redonda. Ela não tem qualquer coisa de especial, nem de propriamente antigo, mas é bonitinha.

Um balde redondo em baixo, de seus dois metros de diâmetro, por um de altura. Uma coluna central encimada por uma espécie de prato raso, de onde a água sai e verte pelas bordas. Tudo em pedra e tudo muito comum.

Mas, pedra e água dificilmente resultam em feiúra. A moleza e a dureza estão bem uma para a outra, fluída uma, estática a outra, transparente uma, escura a outra.

Há dois ou três dias, surpreendi-me ao perceber que a fontezinha estava seca e a água parara de cair. Estranhei. Estranhei supersticiosamente mesmo.

No dia seguinte ao do secamento, lá estavam dois homens a trabalharem na fontezinha, a limparem, rejuntarem as emendas das pedras. Relaxei, pois era nada mais que uma manutenção de rotina.

Mais um dia e ainda trabalhavam. Hoje, pela manhã, um homem ainda lá trabalhava, mas parecia que o serviço estava quase terminado. Comecei a recear que amanhã não esteja pronta.

Sábado é o último dia para vê-la cheia e a verter água novamente e eu a preocupar-me com isso! Nunca a vi assim vazia e parada.

Até parece um mau agouro, como pássaros a voarem no sentido inverso ou coisas deste tipo, que anunciam um funcionamento incorreto dos destinos.

Bem, para mim é um incômodo difuso, meio tolo, meio supersticioso. Muito pior deve estar sendo para os pombos que lá bebiam água.