Leio no Público que planeiam-se manifestações de protestos em sessenta e sete países, para o dia 15 de outubro próximo. Que o lema dos tais protestos é unidos por uma mudança global e que serão pacíficos e que se referem ao 15 – M, que se dizia o início de uma revolução. Tudo bem, mas vamos olhar as coisas mais detidamente.

A mesma matéria do Público – escrita de forma confusa, diga-se – refere que a coisa toda começou na Espanha e que repercutiu em outros países, notadamente europeus. Na Alemanha, a organização do movimento de protesto segue o lema a democracia não está à venda. Na Espanha, seu berço, o movimento quer lembrar aos políticos que o 15 – M continua vivo. Tudo será combinado por meio de redes sociais, a dependerem da internet.

Reclamar é preciso e saber contra quê também é preciso.

O bem-estar social que há na Europa e, em menor escala, nos EUA, foi conquistado com muita reclamação e com a cumplicidade das circunstâncias históricas, que recomendavam descompressão e criação de mercados consumidores. E foi também possível porque o restante do mundo pôs-se a trabalhar para torna-lo viável.

É meio dramático dizer que houve mais recebimento que conquista, nos últimos sessenta anos, mas é verdade. Para agradar uma parte do mundo, havia que deixar caírem mais migalhas das mesas fartas. E havia também a necessidade de contrapor-se às possíveis seduções do tsarismo místico que se instalara na Rússia ganhadora da segunda grande guerra.

Não saiu caro para os donos do dinheiro permitirem aos europeus em geral – em momentos diferentes – viverem razoavelmente ou mesmo bem. Dar-lhes condições de conviverem em pouco espaço sem a necessidade de acertarem suas discórdias violentamente e dar-lhes a aparência da condução de seus processos políticos foi opção inteligentíssima.

As massas européias e norte-americanas acreditaram que tinham situações estáveis, que viviam as condições a elas destinadas divinamente e imutáveis, portanto. Ao ganharem mais que conquistarem, acederam à pior das possibilidades, a de gritar e gritar, sem saber mesmo o que era gritado.

É curioso que tenham gritado contra os colonialismos, que permitiram suas vidas relativamente boas. Que tenham gritado contra os políticos, que eleitos por elas vendiam-se e vendem-se a interesses contra elas. Que tenham gritado contra as bombas nucleares, enquanto elas eram semeadas em seu solo. E que tenham gritado e gritado mais e as coisas continuassem a andar da mesma forma.

Mais curioso ainda, é que gritantes não mataram ninguém. Gritantes, não pensaram. Gritantes, cometeram uma e outra pequena deliquência a ser ajustada pelas regras formais. Gritantes, reclamaram de muita injustiça ao redor do mundo, mas essas injustiças eram o desvio de riquezas para seus senhores, riquezas que eles usavam para dar-lhes o alimento do grito.

Aos gritos, receberam seu pequeno suborno Mas, é ótimo que os subornados a preço baixo gritem; é melhor que ficarem calados. Escravos calados, ou estão em transe e não trabalham, ou conspiram contra os senhores.

Então, a Europa jovem vai mobilizar-se em protestos contra a mercantilização da democracia – como se tivesse sido de outra forma – contra a situação global – aqui, mistura de ignorância com hipocrisia – contra os impostos que se destinam a pagar aos bancos? E, que tal se destruíssem os tais bancos?

Que tal se se propusessem a assumir os lugares do tais políticos e deixassem de ser escravos dos bancos? Têm coragem? Ou se trata de mais um pedidozinho de suborno?