Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Belo Monte, comentário de Daniel Maia.

Por Daniel Maia

Parece que a União já demonstrou que o lago de Belo Monte não irá prejudicar, sob qualquer aspecto, as populações indígenas eventualmente interessadas na paralisação do projeto.

Segundo: tecnicamente, sabe-se que o tamanho do lago da usina, comparando-o com aquilo que se tem em território nacional, é ridículo frente aos benefícios que serão gerados. Ora, e impacto por impacto, não há como ser humano sem ser impactante!

Terceiro: é indiscutível que precisamos de mais energia. E o argumento segundo o qual poderíamos economizar daqui e dacolá, sermos mais eficientes, desperdiçarmos menos etc etc, não traz nada de novo e, acima de tudo, não significa solução alguma. Afinal, mesmo que nosso sistema de distribuição fosse perfeito, as contas bem simples demonstram que o ritmo de crescimento desejado para o Brasil supera, em MW, aquilo que hoje se produz, incluindo-se nas contas o consumo industrial e o consumo da nova e ávida classe média brasileira.

Quarto: certa vez te falei de um livro, guia politicamente incorreto sobre aquecimento global. O autor traz vários dados interessantes sobre o “modus operandi” dos ecochatos e seu autoritarismo. Na verdade, se suas idéias fossem efetivamente praticadas, o ser humano haveria de ser extinto da face da Terra. Suas idéias, aquelas que circulam neste fóruns internacionais, de tão repetidas, acabam se tornando “verdade” (aquecimento global, falta de terras para alimenta a população mundial etc etc). Você acabou de testemunhar isso com o vídeo feito com participação de atores da Globo.

A roupagem científica de suas teses é uma farsa e não tem qualquer respaldo experimental. Pra você ter uma idéia, os mesmos argumentos eram utilizados na década de 70, quando houve um relativo esfriamento da temperatura mundial. Mais uma vez, a culpa era do homem, da emissão de gases de efeito estufa etc etc. Agora, quando se tem, em tese, um aumento das temperaturas, os argumentos são os mesmos.

E, pior: se os militantes de esquerda, que hoje se vestem de verde, pensam que lutam contra o “sistema”, podem-se considerar enganados. Está muito claro que, no meio do tiroteio, o dinheiro brota daquelas mesmas fontes acima da linha do Equador, de fundações e de mega-corporações em nada associadas aos antigos ideais tradicionais de esquerda e do movimento ecologista da década de 60. Que tal perguntar a Al Gore se ela gostaria de ter usina eólica na frente de sua mansão, em um belo trecho da costa americana? Na verdade, isto tudo representa a luta pelo domínio da produção de energia. E quem domina a energia domina o modo de vida que hoje conhecemos.

Claro, sempre haverá os “idiotas úteis”, no dizer dos soviéticos, para levar adiante as idéias plantadas e repetidas à exaustão.

7 Comments

  1. André Raboni

    Como um “idiota útil”, segundo a classificação do autor, sinto-me na obrigação de comentar este texto idiotamente útil ao governismo e seu projeto desenvolvimentista herdado das hostes militares do Brasil.

    Supondo que o autor esteja bem informado sobre o projeto de Belo Monte – ao menos um pouco mais do que os atores da Globo, assim o espero, embora o texto não vá mais profundamente que aquele viral, sobretudo no tocante a chavões, lugares-comuns e achincalhes estalinistas risíveis -, questiono a quem servirá a UHE que o governo instalará goela abaixo no Xingú?

    Apreende-se do texto que a Usina fornecerá energia para as classes médias do Norte/Nordeste consumirem suas internetes, condicionadores de ar e todo o mais proporcionado pelo conforto capital que o crescimento econômico brasileiro tem ofertado.

    Sendo assim, a dúvida que sobe na cachola é o que o governo fará para fornecer energia para as indústrias de alumínio que hão de se instalar na região – cujos resultados migratórios já se fazem sentir em Altamira, donde deduzo que o autor esteja informado sobre o que se passa na cidade nos últimos meses -, com o fim de realizar exportações (essa maravilha de serviço para pagarmos as nossas dívidas).

    Suponho também que o autor tenha ido para além do videozinho global, uma peça idiotamente útil (como são idiotamente úteis também o cacique Megaron [chutado sumariamente da Funai por motivos estritamente políticos e sem aviso prévio], cacique Raoni e outros estúpidos que inventaram de existir no meio do caminho do progresso!), e tenha estudado profundamente o relatório de Análise Crítica do Estudo de Impacto Ambiental do Aproveitamento Hidrelétrico de Belo Monte.

    Assim sendo, imagino que o autor do texto já haja metrificado os custos ainda não previstos pelo projeto inicial da obra. Conseguintemente, creio que em tendo o autor calculado as futuramente demandadas Babaquara/Altamira, deduz-se que o Brasil está em aptas condições de jorrar litrões bilionários de dinheiros para fomentar a indústria de alumínio para exportação (perdoai-me, esqueci-me que o autor supõe que BM alimentará a demanda de energia para consumo residencial…), muito embora não haja dinheiros para a saúde pública e educação, nem tampouco para investir em outras soluções energéticas.

    Caso o autor, ou outros leitores, não tenham estudado o relatório que menciono, deixo aqui um link para contribuir um pouco:

    http://www.internationalrivers.org/files/Belo%20Monte%20pareceres%20IBAMA_online%20%283%29.pdf

    Bem, partindo para outro lado da questão, depeende-se que do texto que a contra-propaganda governista ao vídeo dos globais surtiu efeito, e fez-se tornar um “argumento” a estória de que os movimentos contrários à Usina de BM estão sendo idiotas úteis para as organizações internacionais que desejam roubar a amazônia do Brasil.

    Disso pergunto (provocativamente, claro!): ora, se o Brasil está sendo entregue aos gringos pelos próprios brasileiros da Amazônia e toda sorte de idiotas úteis espalhados pelo País, não seria essa uma falha administrativa e política do próprio… Governo Federal? Ou não é o Governo Federal quem manda nessa joça?

    Pensando bem, é sempre mais fácil depositar na conta dos outros (dos idiotas úteis) as próprias deficiências e falhas. E se a administração federal não cuida de informar aos brasileiros, seus concidadãos, que é irresponsável a ponto de não cuidar de seu Defesa, isso se resolve facilmente: a úteis, nem sempre idiotas, dispostos a maquiar com véu de Maia as fraquezas do próprio projeto de Soberania governista (sic), que ao mesmo tempo em que acusa os indígenas e os idiotas úteis de estarem entregando o País ao grande capital internacional, anda de braços dados com ruralistas da CNA, não na pessoa do deputado/ministro Aldo Rebelo, mas na pessoa da própria presidente e de seu eloquente Ministro da Máfia, ou melhor da Justiça, Cardozo (este com Z), que beija mão do arrozeiro Paulo Cesar Quatiero se comprometendo a levar à presidência uma moção de “ajustamento” do decreto que normatiza a delimitação de territórios indígenas.

    Bem, para salvaguarda da imagem do Ministro da Máfia, ou melhor da Justiça, talvez ele não precise sujar suas mãos, uma vez que a própria bancada ruralista já está articulando seus pauzinhos (ou suas toras…) para retirar a responsabilidade de demarcar novas terras indígenas e homologar antigas das canetas da presidência e depositar essa responsabilidade ao próprio Congresso Nacional – esse excelentíssima instituição de atuação nem um pouco duvidosa.

    Pelos vistos, tudo se encaminha bem para que as classes médias possam usar seus congeladores e televisores sossegadamente sem que os “demônios da floresta” (nas palavras do serviçal de Sarney, Lobão) atravanquem o belíssimo monte de avanços progressistas da economia nacional.

    Oxalá!

  2. Sidarta

    Daniel,
    Mesmo tendo levado umas carreiras da polícia no início dos tempos da ditadura militar na escola de engenharia, devo confessar que, às vezes, e somente às vezes, tenho saudades de Geisel, que construiu Itaipu afogando as cataratas no rio Paraná, destruindo a alfândega do lado argentino quando encheram Itaipu descarregando de uma vez os reservatorios brasileiros no rio Iguaçu e provocando um bom problema para os argentinos, que tinham além disso que retardar o horário de ponta das suas usinas no rio Paraná (Corpus e outra) porque a água que Itaipu descarregava na hora da ponta do sistema elétrico brasileiro chegava às usinas na Argentina algumas horas depois e tumultuava pesado o despacho de geração daquelas usinas. Ainda hoje é assim e Geisel teve que aceitar baixar a cota de Itaipu para não ir à guerra com os argentinos, reduzindo a diferença entre vazão de ponta e vazão fora de ponta.
    Trabalhei recentemente nos estudos hidraulicos de uma ponte em uma BR que cruza o Xingu 2km a montante da restituição de Belo Monte, já no fim da Volta Grande do Xingu, e tive que estudar o projeto e como a usina deve operar. É uma usina a fio d’água e não tem lago para armazenar nada. Esperava que tivesse um laguinho com algum impacto ambiental e que pudesse me ajudar a baixar o nivel de altura da ponte. Frustrado, constatei que Belo Monte é um bom projeto e que, comparado a outros existentes e a muitos outros em licenciamento, é muito “inocente” em termos de impactos. A vazão media mensal do Xingu varia por lá de 800 a 11000m³/s, podendo gerar, a grosso modo, de 1000 a 12000 MW sem inundar nada. Todo o parque energético da CHESF tem hoje cerca de 10000 MW instalados em várias usinas. Vai-se jogar esse potencial fora porque os ambientalistas estão cobrando “um pedágio” alto demais e se utilizando da imprensa para manipular a opinião pública e forçar o governo a pagar mais?
    Ouvi dizer que em Pelotas, no Rio Grande do Sul, quando o prefeito mandou colocar na rua uma placa com os dizeres “Passagem para Pederastas” e foram questioná-lo dizendo que o certo era “Pedestres”, ele respondeu: “por conta de uma meia duzia de três ou quatro insatisfeitos não vou contrariar a maioria”.
    Que se construa Belo Monte mesmo que uma meia dúzia de tres ou quatro tenha sido contrariada nos seus interesses ou no tamnho das suas benesses… mas não estou querendo dizer aqui que alguem está sendo chamado por mim de “viado” ou de “comprado” nessa questão.
    Algum americano de poder e de juízo ainda fala mla da usina de Three Gorges na China? Isso foi convenientemente esquecido pois a China não é BRAZIL.
    Pelo critério que estão querendo usar para “barrar” o projeto de Belo Monte não passariam Itaipu, Furnas , Tres Marias, Ilha Solteira, Sobradinho , Itaparica, Boa Esperança, Balbina e outras tantas que inundaram e tiveram que deslocar populações para que hoje não estivéssemos cheios de térmicas a combustivel poluente e importado… ou fudidos com racionamentos de energia e sem poder crescer nem o mínimo para acompanhar o crescimento da população.

  3. Daniel Maia

    Sidarta,

    Obrigado pelo complemento e pela valiosa informação.

    Para não ser enfadonho, cito o sítio eletrônico da Secretaria de Comunicação da Presidência da República que trouxe, parece-me, um resumo contundente daquilo que se pode considerar uma resposta à histeria autoritária e raivosa do movimento ecochato. Foi publicado no sítio do Paulo Henrique Amorim. Eis:

    http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2011/11/28/resposta-ao-video-da-globo-contra-belo-monte/#.TtP81LruzLM.twitter

    Reforça muito bem o que você disse.

    Grande abraço.

  4. Sidarta

    Daniel, vi a sua indicação na internet.
    Nos anos 1970/1980, penso, havia no Rio de Janeiro um colunista social de descendência libanesa, Ibrahim Sued, que era criticado por suas falas e respondia sempre com um provérbio árabe: “Os cães ladram e a caravana passa!”
    Vai ser assim com Belo Monte … ladrar é da natureza dos cães, mas a caravana vai passar, assim como passou em outras ocasiões onde a sua mercadoria era necessária e indispensável, mesmo que, eventualmente, tivesse que cruzar o caminho dos cães.
    Um abraço

  5. Andrei Barros Correia

    Muitos dizem que não há relação direta entre crescimento e desenvolvimento. Bem, ainda que não haja, hipoteticamente, relação direta, é certo que há indireta.

    Ou seja, embora não seja necessário que para, digamos assim, 01 unidade de desenvolvimento tenha-se 01 de crescimento, é certo que crescimento tende a ensejar desenvolvimento.

    E crescimento demanda energia eletrica, de forma muito intensiva. Então, há, sim, uma relação entre oferta de energia e desenvolvimento.

    Por outro lado, é um pouco elitista estancar o aumento de oferta de energia da mais barata, em benefício de outros valores. Esse tipo de elitismo, vejo-o muito nítido na academia.

    Sim, porque tem muita gente querendo comprar coisas nesse país, gente que nunca as comprou e seria redobrar a injustiça social condená-las a comprar caríssimo ou mesmo não comprar.

    Os cuidados no licenciamento de Belo Monte nunca foram tomados antes e, curiosamente, o bombardeio não houve. Ele é muito seletivo e guiado pela imprensa.

    É escandaloso que a Chevron cause um desastre ambiental, devido à sua maneira faroeste de fazer negócios, e conte com o silêncio obsequioso dos indignados.

  6. Sidarta

    Bom comentário sobre a CHEVRON, vamos ver em que vai dar.
    Sugiro que procure obter alguns exemplares do Balanço Energético da Paraíba, e também do Balanço Energético do Brasil e que acompanhe as variáveis “intensidade energética do PIB” e “intensidade elétrica do PIB”. Vai ver que, em um número curto de anos (digamos 5 a 10 anos), elas variam pouco, ou seja, estatisticamente é como se fosse mesmo “uma unidade de energia para uma unidade de crescimento do PIB, aqui colocado como indicador de desenvolvimento… talvez em detrimento ou pela falta de como comparar com outros indicadores.

  7. Andrei Barros Correia

    Sidarta,

    Tive ocasião de ver alguns dados que, realmente, apontam mais ou menos isso, ou seja, uma relação de 1:1 em crescimento do PIB e de demanda por energia elétrica.

    Acontece que muita gente tirou do bolso do colete o fato, antigo, de que a relação entre crescimento e desenvolvimento não é tão direta e não é mesmo. Coisas de academia, como parece intuitivo.

    Mas, há outro fato. A relação entre crescimento e desenvolvimento descola-se precisamente nos locais já mais crescidos e desenvolvidos.

    Por exemplo, se a Alemanha passa três anos sem crescer, provavelmente não haverá uma regressão no desenvolvimento paritária.

    Nos países menos crescidos e menos desenvolvidos, a relação é mais estreita, porque as diferenças relativas são imensas e porque as diferenças na apropriação do crescimento como desenvolvimento são historicamente imensas.

    Enfim, a melhor divisão do bolo não implica que tenhamos que tratar sempre do mesmo bolo e evitar que ele cresça! Mas, isso tem sido negado e, dentre várias negativas e oposições, parece-me a mais tola.

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