Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Bem mais que 36 Rafales e 05 submarinos…

É terrível que a ingenuidade afirmativa tenha-se tornado postura bonitinha, cool, como se diz em inglês. Digo afirmativa, com o qualificativo a distingui-la marcadamente, porque ela é o disfarce voluntário, ou seja, é a festa à fantasia.

Agora, que temos um Ministro da Defesa que não trabalha para a Embaixada dos Estados Unidos da América no Brasil, algumas coisas podem ser levadas a sério de forma mais evidente.

Estamos muito envolvidos a discutirmos as formas de submissão financeira e a esquecermos as tradicionais, como se a primeira excluísse as segundas. Ou seja, vemos sofisticação na primeira e praticamente aceitamos-la como  inevitável; isso dá-nos a confortável impressão de superação das formas clássicas de roubos materiais, como se uma etapa rude tivesse sido vencida.

Petróleo, minérios sólidos e outras coisas classificáveis como recursos naturais roubam-se e precisam serem roubadas, senão seriam compradas a preços elevadíssimos. Não convém compra-las a preços altos nem rouba-las de forma a que os saqueados percebam-no claramente. Por isso, a indústria de convencimento dos roubados a se deixarem roubar é a terceira maior existente, atrás somente do dinheiro de promessa de pagamento e dos armamentos.

Por isso, há todo um suporte discursivo para a inexistência de fronteiras, para a difusão da idéia de recursos naturais sem donos, patrimônio da humanidade. Por isso, difundem-se as identidades culturais seletivas; difunde-se o progresso material e tecnológico, como se não tivesse qualquer suporte material e como se a energia que sai da tomada viesse do nada.

Por isso, todas as massas inclinam-se a pensar que correm somente o risco de serem assaltadas, na esquina, por algum meliante comum. Por isso, as classes médias dos em desenvolvimento pensam que o mundo é único, embora abaixem as calças para umas apalpadelas dos agentes alfandegários de Miami, quando vão comprar perfumes, roupas feitas ou gravatas coloridas.

O Brasil é, talvez, o país mais roubável do mundo, considerando-se sua vulnerabilidade. Claro que o país mais apetecível do mundo é a Rússia, mas essa tem 3.000 bombas e uma máfia interna – abstraindo-se dos que foram para a Inglaterra e dos que foram desaparecidos – que cuida das bombas e pensa em russo ou em grego, o que dá no mesmo.

Já é evidente que haverá uma redução marginal no consumo de óleo e minerais nos EUA e na Europa, que empobrecem. Mas, é claro, mesmo que não seja evidente para as massas, que tal redução do consumo de uns não significa a redução global. Também é claro que a redução pequena de consumo norte-americano e europeu não significa que aceitarão preços maiores.

Já é evidente que temos uma das cinco maiores reservas de óleo e de minerais, ferrosos e raros, do mundo. Evidência atrás da outra, a próxima é que teremos que negociar essas coisas como donos delas. Excepto se for possível dar outra volta no parafuso da compressão social, o que parece, hoje, um tanto complicado.

De oito anos para cá, produziu-se um efeito interessantíssimo no povo brasileiro. Passou a viver um pouquito de nada melhor, sem que os dominadores de sempre tenham passado a viverem pior. Ou seja, dificilmente aceitarão um regresso…

Mas, como esse povo entende nada do que acontece, uns julgam que é possível dar a nova volta ao parafuso, contando com desinformação e repressão. Ora, em escalas como as brasileiras, pode dar muito errado, principalmente com o desenho atual. Volto a dizer, a genialidade de Lula foi reduzir minimamente a miserabilidade de quem já tinha condições de perceber o sem razão de sua exclusão total. Nunca o perdoarão por isso, por ter criado uma massa que não aceitará retornos.

Para que não haja retornos, será fundamental apropriar-se do resultado da venda do que abunda nestas plagas. E, se não houver quem compre estas riquezas, que sejam consumidas aqui.

Garantir isso implicará muito mais que os declarados 36 Rafales e 05 submarinos nucleares que o Brasil deve comprar. A aquisição deve ser muito maior que isso, embora não precise aproximar-se da escala selenita das compras militares que se vêm por aí.

A oportunidade fantástica que se abre é de tornar brasileiros setores que nunca o foram. E não se trata apenas de dar um porta-aviões de presente à Marinha de Guerra, ou aviões de segunda linha à Aeronáutica ou ainda tanques e obuses velhos ao Exército. Tampouco, trata-se de fazer uma emulação mais pobre do complexo industrial-militar que tomou metade do poder nos EUA.

Trata-se de tornar uma riqueza potencial em atual e distribuída e de fazer nascer um setor interessado na defesa do país, profissionalmente. Ao contrário de um setor que vai às festas à fantasia, recoberto de medalhas de glórias supostas, e funcionário de interesses outros, dócil a um embaixador norte-americano.

Não será tarefa fácil por 50 caças de ultima geração e 15 submarinos nucleares a operarem como defesa de quem eles podem matar. Mas, é tarefa única a ser elegida, porque a outra é torna-los apêndice dos tentáculos dos ladrões.

3 Comments

  1. Daniel Maia

    Andrei,

    Tu achas que o nosos orçamento público comporta manter as compras que uma indústria militar exige para se tornar viável e competitiva? Seria esse o setor interessado em manter a defesa do país, ainda que de modo indireto? Ou tu estás a falar de um exército realmente nacionalista?

  2. andrei barros correia

    Comporta, Daniel. Ele não comporta o pagamento de juros absurdos por quaisquer parámetros?

    Além disso, no caso dos aviões, compram-se a tecnologia e as primeiras células. As demais são feitas aqui. Claro que os franceses não vão vender toda a tecnologia desse que é, de longe, o melhor caça da concorrência atualmente aberta.

    Mas, é mais caro ser um gigante rico e desprotegido.

    No caso dos submarinos, a coisa é até mais interessante, porque a Marinha pode fazê-los a partir da tecnologia do reactor pequeno e do casco duplo, compradas aos franceses.

    E fazendo-os, envolve-se em um projeto nacional estratégico.

    Então, na verdade, estou falando em comprar armamentos – e não é para invadir a Argentina nem o Paraguai – e envolver as forças armadas no nacionalismo para além do discurso anacrônico da doutrina de segurança nacional que, por sinal, foi elaborada em Washington.

  3. andrei barros correia

    Outra coisa, devemos ter bases aéreas e navais e é urgente duas delas no nordeste, para além dos esquadrões de salvamento marítimo.

    Além das fronteiras amazônicas, é claro.

    E, hoje, o que menos importa é ter uma grande e despreparada infantaria do exército que, como disse, não vamos invadir ninguém.

    Precisamos de aviões, submarinos e mísseis.

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