Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Café… Colombiano, italiano, brasileiro… Ou com Poesia…

Outro dia, aconteceu uma dessas situações inusitadas, dessas que a oportunidade de estudar fora do próprio país proporcionam. Tenho como companheiros de classe, alguns colombianos, um italiano, e outros tantos brasileiros. O caso, é que em um desses intervalos entre classes, quando acontecem as conversas mais descontraídas, o brasileiro estava falando sobre um cappuccino, de marca Carrefour, fabricado na Alemanha, e disse que era bom. A despeito disso tenho que dizer, que por aqui, a “marca” Carrefour, é o que eles chamam de “marca branca”, ou seja, a marca do próprio super mercado, há de se dizer também, que existem bons produtos vendidos pelos mercados, produzidos por indústrias proprietárias de outras marcas comerciais, que fazem concorrência direta com seus rivais de “marca verdadeira”. Pois o brasileiro observou que dava atenção onde o produto era fabricado, porque apesar de ser de marca Carrefour, pode ser fabricado em algum dos diversos países da União Européia, e que essa atenção era justificada, pois via de regra, se decepcionava com produtos fabricados na Espanha.

Acontece que um brasileiro falar de café, que seja um cappuccino, junto a um colombiano, e um italiano, gerou um certo clima de disputa, afinal, de uma forma ou de outra, são países de tradição, seja no consumo, seja na produção. O brasileiro, disse também que havia tomado bons cafés na Itália, com o que, o italiano, já cheio de orgulho, disse que ali se tiravam os melhores cafés do mundo! Claro, feriu os brios do colombiano, que imediatamente em resposta, disse que na Colombia se produzia o melhor café! O brasileiro tentou jogar uns panos quentes, dizendo que no Brasil, também se produziam bons grãos, mas que seu consumo se dava mais em Portugal, por motivos óbvios. Mas o italiano não arrefeceu, e saiu com uma frase que acabou com a discussão, disse que lhe parecia muito adequado afirmar que os melhores grãos de café fossem produzidos na Colombia, mas que na hora de prepará-lo, quem o fazia melhor, eram afinal, os italianos. Menos mal que estávamos em clima de brincadeira, e não se iniciou um problema diplomático por qualidade de cafés.

E justo da Itália, apareceu uma idéia interessante, que é: deixar um café pago para uma pessoa que não pode pagá-lo, em cafeterías que aceitem esse tipo de “promoção” por assim chamar, seria um tipo de café solidário, baseado, claro, na confiança dos usuários na cafetería em questão. Em Salamanca, onde faço os meus estudos, uma cafetería começou tal promoção, que eu achei bastante interessante, portanto a passei ao Café e Poesia, um café de Campina Grande, que por algum tempo fechou as portas e agora reabre, no Museu Assis Chateaubriand, trazendo de volta uma agenda da qual a cidade ficou orfã pelo tempo em que permaneceu fechado, com saraus e exposições de arte, dentro do próprio ambiente do café.

A idéia foi repassada. Mas afinal, se encontra uma barreira, será que a clientela de um café desses moldes no Brasil, aceitaria a presença de uma pessoa que vai ali aproveitar a promoção do café solidário? Será que a clientela aceitaria ser o dínamo que impulsionaria a quebra do “status quo” social? Democratizando o consumo de um simples café, de um local que é público, e que para o público foi erguido??? E será que tal pessoa necessitada realmente se sentiria a vontade no ambiente? Talvez ainda existam diferenças sócio econômicas e culturais, que inviabilizem um projeto como esse no Brasil… Mas afinal que seja bem-vindo de volta o Café e Poesia, e caso alguém por lá resolva aparecer, que busquem sempre falar com o proprietário, garantia de uma boa conversa, e de um bom café.

9 Comments

  1. Andrei Barros Correia

    Rapaz, ontem estivemos lá no Café e tivemos a sempre boa oportunidade de conversar com Luís.

    Queria que ele tivesse os mesmos brios de abrir uma livraria que tem de ter o Café.

    No final das contas, a iniciativa de Luís é admirável e talvez esteja bem localizada, agora, no Museu. Estimo a ele sucesso.

    • Severiano Miranda

      Rapaz… Quer a livraria?? Vamos abrir! =D
      Com um “Café e Poesia” funcionando dentro!
      A Centesima Pagina em Campina Grande!
      =D
      Mas Andrei… Sem onda… Chegou a Amazon no Brasil bicho… Quem for atacadista que se segure, porque a Amazon vai comer tudo… O mercado de livros, nem se fala, que já está comido… Mas a Amazon não trabalha só com livros……………… Devagarzinho ela vai detonar tudo por ai… Campina Grande, dentro de pouco tempo, não será a única cidade sem livrarias que teremos…

      • Andrei Barros Correia

        Rapaz, acredito que a Amazon vai fazer estrago mesmo.
        Mas, no ramo de livros, não há mais estragos a serem feitos.
        Talvez, na verdade, caso não se instale o absoluto desinteresse por livros, ressurja algum mercado para livrarias.
        Livrarias que seja, claro, também espaço de convivência de uma meia dúzia ainda não completamente estúpida.

        • Andrei Barros Correia

          Vevel, esse é um assunto que me desperta o interesse.

          Claro que se podem comprar livros pela internet, com preços ótimos e coisa e tal. Mas, isso só funciona em duas vertentes extremas: a dos que compram auto-ajuda em suas inúmeras variantes, a partir de propaganda e a outra, das pessoas que sabem muito bem o que querem comprar, porque educaram-se antes disso.
          Para o primeiro caso, o fim das livrarias pode ser decretado mesmo, porque trata-se enfim de uma questão de comprar conforto em más letras, não de ler.
          Para o segundo caso, as livrarias virtuais e as de verdade são ambas úteis. As de verdade, mais, evidentemente.
          Assim, como espaço de convívio, para poucos, acho que ainda pode ser algo viável.

          • Severiano Miranda

            Rapaz… É um bom negócio!
            O problema ao final, é que como espaço de convívio, beleza, mas espaços de convivio há muitos, e todos preferem os Shopping Centers, claro, há os que não, mas no final, também trata-se de ganhar dinheiro, para manter o negócio… Então, quem quer que se aventure, tem que resolver a equação, livros -> convivio -> lucro. Porque se não, é inviável! =/

  2. Andrei Barros Correia

    Vevel, os espaços de convívio, em Campina Grande, são muito carentes, mesmo ou talvez principalmente no Shopping. Neste, não há mais livraria, nem mesmo, pasme, banca de revistas.

    Há um café, onde tenho o prazer de sentar para dez minutos de conversa com Lourivaldo, uns dias da semana, e nada mais. É um espaço muito pequeno e estranhamente nem o shopping é espaço de convívio.

    Aqui, é possível dizer que esses espaços são raríssimos e muito segmentados.

    Daí que um Café e Poesia maior, com uma livraria, talvez fosse algo promissor. Um lugar em que houvesse saraus, em que algum louco dissesse suas poesias, em que Edmundo Gaudêncio gravasse seu ótimo programa hoje extinto.

    É claro que esta cidade é majoritariamente imbecil, de aspirantes ao poder social e à riqueza. Mas, tembém é claro que uma aglomeração de 400.000 pessoas, em que há duas muito boas universidades públicas, tem também alguma gente interessante.

    Queres ver uma experiancia bacana em termos de local que findou por tornar-se de convívio: o Bar de Tenebra.

    • Severiano Miranda

      Rapaz, o Bar de Tenebra, vem pra satisfazer uma parcela da população boêmia da cidade, que se crê diferente (ao final geralmente o é, por questões econômicas e sociológicas profundas =D ), e ali se encontra para beber e fazer como dizes tu “psicologia social de mesa de bar”, não que tenha problema, mas sempre existiu na cidade esse espaço, bares como Refavela, Bar do Brito, Cercado, e outros que não recordo agora… Mas esse espaço sempre existiu…
      O que propões, é que tal espaço também seria preenchido pela mesma população, ou parte dela… Mas é improvável… Ou creio eu que seja improvável…
      A clientela desse espaço nos moldes que dizes, o primeiro Café e Poesia estava moldando, mas era uma experiência, se estava dando certo, Luiz saberá melhor, mas ele era quem estava moldando sua clientela, os que jogavam xadrez, os loucos poetas e etc… Mas por exemplo, digo que estava moldando, porque o café não era um bar… Ou seja, realmente era um tipo de projeto que estava sendo posto em pratica!

      • Severiano Miranda

        Logo, tem outro aspecto também, não era uma livraria com um café, mas sim, um café que oferecia a opção de sentar-se para ler… E na falta de livros, os oferecia também… Ou seja, partia de uma premissa diferente…
        De todas as maneiras, se estava moldando… Um exemplo claro, é que as clientelas do café, e de Tenebra, por mais semelhantes que fossem, eram e são distintas… Lembrando sempre de uma coisa que Luiz dizia, não quero um bar, por isso as bebidas alcóolicas lá, que existiam, eram mais caras, porque o público que ele queria atingir era outro… E creio eu que estava dando certo!
        Já a livraria… Não sei… Não sei… Essas 400.000 pessoas que disseste… Tsc, tsc…

        • Luiz

          Gostei bastante das ponderações feitas de lado a lado. Com relação a espaço de convívio social, acho que poderíamos substituir a nomenclatura para “Espaço para contemplação, debate e outros”. Se vamos vender café, livros, experiência bélica virtual isso é apenas um detalhe. Precisamos incentivar a introspecção para que a contemplação seja interessante e necessária. Aí venderemos mais café pois as pessoas “mais interessantes” estarão mais interessadas nos outros, venderemos mais livros para ficarmos mais interessantes e conviveremos mais, com mais pessoas. Agradeço as palavras elogiosas, e vou contar o segredo do Café & Poesia: Ele sempre teve personalidade própria! Nunca foi uma cópia padronizada, onde pessoas se encontram para exercitar o modelo comercial que a mídia impõem.
          Andrei a sua visita foi deveras importante, apesar de não ter podido verter a atenção que você merecia, volte outras vezes temos muito o que contemplar.
          Sevé, separei uma mesa para quando você chegar!

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