Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Categoria: direitos humanos (Page 2 of 2)

Quando a pessoa pensa que já viu de tudo…

Ai chega o pulha do Luiz Carlos Prates dizendo que a culpa dos acidentes de “feriadão”, é do presidente, que deu crédito pra comprar carro, a gente que nunca tinha lido um livro… Me lembrei bastante de um texto de Alberto Ramos, onde ele diz ter lido algo semelhante de Arnaldo Jabor, falando sobre os aeroportos:

“Há algumas semanas li uma coluna de Arnaldo Jabor sobre como caiu o nível das pessoas que frequentam os aeroportos do Brasil. Nessa crônica, o ínclito colunista mostrou-se escandalizado de como as pessoas se vestiam mal, se portavam mal, falando alto e dando gargalhadas extemporâneas. Cometiam gafes imperdoáveis nos aviões ao não saber a diferença entre um cabernet e um pinot. Não sabiam que talheres usar. Não colocavam os guardanapos no colo. Alguns penduravam ao pescoço.
Em suma, um verdadeiro suplício para os bens nascidos que tinham que conviver com esta patuléia que ascendeu de classe neste governo populista.”

Cheguei mesmo a pensar que o pulha em questão, ou leu o texto do Jabor (que eu não li, nem sei se existe, e se existir, não sei se será dele mesmo), ou leu o texto de Alberto Ramos, e resolveu que podia aparecer, falando qualquer bobagem na sua afiliada da “Rede Globo” de televisão.

E o pior, é que o texto do Jabor, ou o comentário de Prates, fazem sucesso, reverberam ao infinito, o que não é verdade pra qualquer texto (ou comentário) que seja minimamente inteligível. Parece que em tempos de apenas um pouco mais de igualdade, virou moda ser radical sem nível, agressivo… Fica a matéria de Prates, para que a Poção tambem reverbere…

A guerra humanitária.

Resultado de uma ação humanitária da OTAN na Bósnia.

Resultado de uma ação humanitária da OTAN na Bósnia.


Adianto que, para mim, o termo guerra humanitária é uma contradição em termos. Todavia, a julgar pela frequência com que essa motivação tem sido invocada para agressões, destruição e morticínio, estou em posição minoritária.

A promoção dos direitos humanos – ou fundamentais, em palavras mais precisas – impositivamente, sem considerações mais amplas sobre sua compreensão, tem levado países a justificarem guerras. E tem levado intelectuais a justificarem algumas formas de imperialismo cultural como a promoção de valores que seriam universais e desejáveis por todos.

Para que se chegue nesta noção de direitos fundamentais universais, dois requisitos são necessários. Primeiro, a aceitação de um padrão moral básico que se assemelha a uma verdadeira religiosidade panteísta. Segundo, que o conteúdo dos direitos fundamentais seja reduzido ao mínimo possível, porque ao mínimo de conteúdo pode corresponder o máximo de universalidade.

Trata-se de uma concepção liberal individualista muito própria de um liberalismo nascido nos finais do século XVIII. Essa forma de pensar os direitos fundamentais os reduz às liberdades negativas, o que implica uma esfera individual livre de pressões externas, quer venham do Estado, quer de outros indivíduos.

A crítica a essa visão teórica é relativamente fácil de fazer-se a partir da historicidade dos direitos. Ora, os catálogos de direitos fundamentais seguem uma marcha de ampliações, que já deixaram o paradigma do individualismo e das liberdades negativas para trás há muito. Com efeito, os direitos fundamentais coletivos e de liberdades positivas encontram-se consagrados em várias declarações e cartas de direitos fundamentais, mais e menos recentes.

De fato, como diz Bobbio, o postulado do jusnaturalismo e do racionalismo ético não tem fundamentação teórica. Tem existência positiva e postula efetividade, mas, no fundo, os direitos fundamentais são construções históricas, o que significa que dependem de conquistas e de consensos que não são mais que contingências.

Com relação à guerra por motivos humanitários, ou seja, àquela que se pretende justificada para a defesa de direitos fundamentais – na sua formatação mais restritiva de liberdades negativas – consiste em imensa contradição, mesmo que seja analisada a partir dos seus próprios postulados justificadores.

O exemplo recente da guerra na Bósnia-Herzegovina, na segunda metade da década de 1990, é muito eloquente. A guerra fez-se para estancar violações a direitos humanos. Para esse desiderato, violaram-se outros tantos direitos humanos, do mesmo nível daqueles que se queriam declaradamente proteger.

Violou-se o direito a vida e à integridade física em geral, de forma massiva. Violou-se o direito à propriedade – tão caro aos liberais individualistas – por meio pura e simplesmente da destruição dessa propriedade. E violaram-se vários outros direitos fundamentais de segunda e posteriores gerações, que os violadores, todavia, não se inclinam a reconhecer.

Violou-se o direito a um meio ambiente equilibrado e o direito à saúde, porque as forças da OTAN bombardearam os terrenos com artefactos de urânio empobrecido e de fósforo e com bombas de fragmentação – todos vedados em convenções da ONU. Os efeitos desses crimes de guerra serão sentidos no longo prazo, com a contaminação de terrenos e de cursos d´água.

Violaram-se os direitos ao patrimônio cultural, pois a destruição física atingiu indistintamente objetivos aparentemente militares e prédios de valor histórico. Também porque populações foram arbitrariamente deslocadas e isoladas, pondo em risco a continuidade de costumes e do uso das línguas.

Esses crimes foram cometidos a bem de levar uma liberdade cuja extensão é claramente reduzida. Trata-se de uma liberdade – caso exista em algum sentido – de viver na destruição, de perder raízes culturais, de perder parentes e outros próximos, de viver sob o terror e a tutela da OTAN e dos empréstimos de bancos alemães.

Há uma encruzilhada teórica que, para quem não sofreu os efeitos concretos da destruição, chega a ser engraçada. A guerra fez-se a bem de garantir as liberdades negativas, noção que implica a existência de deveres de não intrusão na esfera individual. Ora, as pessoas que tomaram bombas na cabeça poderiam invocar sua liberdade negativa contra os lançadores de bombas?

É terrível perceber a fragilidade, ou mesmo a falsidade, das motivações invocadas para alguma ação, utilizando o próprio suporte teórico dessas mesmas motivações. Resulta que se está diante, ou de uma tremenda dose de má-fé com impostura, ou de uma imensa dose de ignorância, ou de tudo reunido em alguma proporção.

A impostura pode ser revelada em vários casos a partir de um estudo cuidadoso dos fatores materiais subjacentes. Assim, no caso da invasão do Iraque, por exemplo, trata-se de pilhar a terceira maior reserva comprovada de petróleo do mundo e de sugar os recursos de vários Estados para grandes corporações sob contratos de reconstrução ou de fornecimento de mercenários.

A deficiência teórica, todavia, pode ser mais nociva e projetar seus efeitos mais demoradamente. Claro que se pode objetar que a tese serve à impostura, ou seja, ao disfarce de um saque. Pode, é verdade, e ususalmente desempenha esse papel. Acontece, porém, que as teses, as criações mentais sistêmicas, tendem a assumir uma realidade própria e vão a tornar-se em crenças, ou algumas formas de idolatria e fundamentalismo.

Assim, há quem pratique o imperialismo cultural sem ter de forma muito clara outro intuito além desse mesmo imperialismo. Quer dizer, passa-se a acreditar na missão redentora, independentemente de junto a ela haver ou não o roubo e a impostura. É o espírito de cruzada, enfim, onde misturam-se fanatismo disfarçado em teoria e instinto de rapina.

Brasil: país selvagem, hipócrita e racista. Estudante guineense é agredida na Universidade Federal da Paraíba.

Leio a notícia de que uma estudante de Guiné Bissau é agredida dentro da Universidade Federal da Paraíba – UFPB, em João Pessoa, por um indivíduo vendedor de cartões de crédito.

Kadija Tu é guineense e estuda Letras na UFPB. Foi abordada pelo agressor nos corredores do Centro de Educação. Ao assédio sexual e aos gestos obscenos sucederam-se agressões verbais racistas e físicas. A estudante foi levada a um hospital.

O Brasil, essa confusão de pobreza e falta de civilização, gosta de acreditar-se uma democracia racial, que não é. Quem quiser, entregue-se ao trabalho de verificar as estatísticas de vítimas de agressões e de homicídios. A enorme maioria dos agredidos são pretos.

Esta sociedade divide-se, basicamente, entre quem pode e quem não pode descumprir as leis. A raiz da divisão é de caráter racial e social. É assim, quer se queira, quer não se queira. E a pior forma de superar isso é negando a realidade.

A idéia de divisão é tão forte que permeia todas as classes sociais e as pessoas têm incutida nas suas cabeças, desde sempre, a noção de que poder infringir regras é sinal de pertencimento ao estrato superior. O infrator pretende-se em situação superior exatamente porque emula a atuação do senhor de séculos atrás. O senhor que não infringia leis porque elas eram o que ele achava que eram, porque ele as fazia, a cada momento.

O signo do Brasil, a sua marca distintiva, é o divórcio entre o que está escrito e o que acontece diariamente. As normas nada têm a ver com a realidade e assim é porque se quer que seja. No fundo, temos normas para dizermos que as temos, e só. Isso que aconteceu não merecerá grande reprovação social, embora seja crime, pura e simplesmente.

Vai triunfar a patifaria segundo a qual tratava-se de uma pretinha que vinha oferecendo-se e que, por capricho, respondeu inadequadamente ao indivíduo que lhe assediou. Ora, se é assim, por que não eliminamos toda a mentira que torna essas coisas crimes? É melhor rompermos com as aparências e sermos integralmente a selva.

Bignone preso. Não é de hoje que a Argentina é um país mais civilizado que o Brasil.

Reynaldo Bignone.

Reinaldo Bignone foi o último ditador do período autoritário que se encerrou em 1983, na Argentina. Ele foi presidente apenas entre 1982  e 1983. Processado, julgado e condenado à pena de 25 anos de prisão por responsabilidade na privação ilegal de liberdade, tortura e morte de 56 pessoas.

Enquanto na Argentina os ditadores vão a julgamento, no Brasil qualquer tímida ação que busque apenas conhecer a história merece ataques virulentos, sob os argumentos mais tolos possíveis. Alguma tentativa mais audaciosa, como a proposta de estabelecer a correta interpretação da lei de auto-anistia outorgada pelo regime ditatorial, merece ataques ainda mais intensos.

Contra a interpretação da lei de anistia, um ministro do supremo tribunal federal, a corte de justiça mais elevada do país, teve a ocasião de dizer que a reinterpretação poderia causar distúrbios. Mais extravagante que o ministro dizer essa tolice é o público levá-la a sério.

Na Argentina, onde sequestrou-se, torturou-se e matou-se mais que no Brasil, presidentes e militares graduados foram julgados e condenados e não ocorreu distúrbio algum. E eles tinham leis de anistia semelhantes à fancaria com número de lei que agora se pretende interpretar corretamente. Na verdade, tiveram mais de uma lei desse tipo, todas superadas por tribunais que julgam a partir do direito e não de ameaças de distúrbios.

Agora que temos dinheiro, podemos ter educação e algo mais?

Duas figuras interessantes, primeiro, o famoso PIB, Produto Interno Bruto…

Gráfico do PIB

PIB

Segundo o jornal espanhol ABC, diz o FMI que em 2014, o PIB brasileiro será o 8º do mundo… Traduzindo, estaremos atrás apenas de: EUA, China, Japão, Alemanha, França, Reino Unido e Itália. Mesmo hoje em dia, não estamos tão mal… Além desses já citados, apenas há a mais, Rússia e Espanha (A reportagem do ABC.es é pra dizer que a Espanha vai descer algumas posições).

Agora outro gráfico, com um troço chamado Paridade do poder de compra:

Paridade do poder de compra

Paridade do poder de compra

Essa tal Paridade do poder de compra é um índice que relaciona o poder aquisitivo das pessoas com o custo de vida do local onde ela mora, se ela efetivamente consegue comprar tudo que necessita com seu salário. Já dá pra enxergar o tanto de análises que se podem fazer observando os dois gráficos?

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Apesar de você – os caminhos da justiça.

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Um vídeo documentário sobre as violações à integridade física e moral de cidadãos brasileiros, praticadas ilegalmente por agentes do estado, no último período ditatorial brasileiro.

Oportuno, porque o supremo tribunal federal está na iminência de julgar uma ação direta de inconstitucionalidade movida contra a lei de anistia, promulgada em 1979. Essa lei, na interpretação que se lhe tem dado, daria anistia aos crimes praticados pelos agentes do estado

Interpretação errônea, pois os crimes de lesa humanidade, tortura, esturpo, sequestro, praticados por agentes públicos, em nome do estado, não são passíveis de anistia, graça ou indulto. Além disso, o direito não reconhece a auto-anistia.

Espera-se que o stf dê a correta interpretação da lei e alinhe o Brasil com vizinhos mais evoluídos que tratam do assunto com seriedade, como a Argentina, por exemplo.

A Falange quer silenciar Baltasar Garzón.

O juiz Baltasar Garzón Real.

Um texto de Andrei Barros Correia

Baltasar Garzón Real é juiz da Audiência Nacional de Espanha, máximo tribunal ordinário do reino. No mundo, tornou-se conhecido por ter processado, julgado e emitido um mandado internacional de captura contra Augusto Pinochet, ditador chileno, por tortura e assassinato de cidadãos espanhóis. Trabalhou a partir de muitas informações, notadamente um relatório da Comissão Chilena da Verdade.

Iniciou investigações sobre o desaparecimento de mais de 100 mil pessoas, durante a ditadura de Francisco Franco. Antes, já trabalhou com os crimes de terrorismo dos separatistas bascos e as detenções ilegais de cidadãos de diversas nacionalidades, encarcerados no campo de concentração norte-americano em Guantánamo.

Por conta da iniciativa relativamente aos desaparecidos do franquismo tornou-se alvo da Falange – ou o que dela remanesce – partido fascista espanhol que dava suporte ao regime franquista. Um notório falangista, o juiz Adolfo Prego de Oliver, do Tribunal Supremo, tomou a seu cargo a tarefa de tentar silenciar Garzón.

Adolfo Prego é patrono da associação neo-franquista Defensa de la Nación Española, firmou um manifesto contra a Lei da Memória Histórica, nunca se furtou a participar em atos públicos a favor do golpe militar de 1936 e da ditadura que lhe seguiu, por quarenta anos. Convém lembrar, também, que o lado político ardorosamente defendido por Adolfo Prego foi responsável pela deflagração da Guerra Civil Espanhola, uma vez que, não aceitando os resultados eleitorais, patrocinou o golpe e a guerra.

O juiz do Tribunal Supremo está a funcionar como magistrado e parte, o que é, no mínimo, repugnante a qualquer direito. Assustador é que isso acontece em um país rico – renda per capita de U$ 33.700,00 – com economia grande e diversificada, produzindo desde laranjas a aviões. Um país que, hoje, pretende-se conhecido por cultivar liberdades, diversidade cultural, letras, artes e ciências.

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