Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Categoria: Infâmias (Page 2 of 20)

“Home” por Warsan Shire.

Laith Majid chora de alegria e alívio ao terminar são e salvo com seus filhos a travessia pelo mar até a Europa. Fotografia por Daniet Etter/New York Times/Redux /eyevine.

Laith Majid chora de alegria e alívio ao terminar são e salvo com seus filhos a travessia pelo mar até a Europa. Fotografia por Daniet Etter/New York Times/Redux /eyevine.

 

HOME

no one leaves home unless
home is the mouth of a shark
you only run for the border
when you see the whole city running as well

your neighbors running faster than you
breath bloody in their throats
the boy you went to school with
who kissed you dizzy behind the old tin factory
is holding a gun bigger than his body
you only leave home
when home won’t let you stay.

no one leaves home unless home chases you
fire under feet
hot blood in your belly
it’s not something you ever thought of doing
until the blade burnt threats into
your neck
and even then you carried the anthem under
your breath
only tearing up your passport in an airport toilets
sobbing as each mouthful of paper
made it clear that you wouldn’t be going back.

you have to understand,
that no one puts their children in a boat
unless the water is safer than the land
no one burns their palms
under trains
beneath carriages
no one spends days and nights in the stomach of a truck
feeding on newspaper unless the miles travelled
means something more than journey.
no one crawls under fences
no one wants to be beaten
pitied

no one chooses refugee camps
or strip searches where your
body is left aching
or prison,
because prison is safer
than a city of fire
and one prison guard
in the night
is better than a truckload
of men who look like your father
no one could take it
no one could stomach it
no one skin would be tough enough

the
go home blacks
refugees
dirty immigrants
asylum seekers
sucking our country dry
niggers with their hands out
they smell strange
savage
messed up their country and now they want
to mess ours up
how do the words
the dirty looks
roll off your backs
maybe because the blow is softer
than a limb torn off

or the words are more tender
than fourteen men between
your legs
or the insults are easier
to swallow
than rubble
than bone
than your child body
in pieces.
i want to go home,
but home is the mouth of a shark
home is the barrel of the gun
and no one would leave home
unless home chased you to the shore
unless home told you
to quicken your legs
leave your clothes behind
crawl through the desert
wade through the oceans
drown
save
be hunger
beg
forget pride
your survival is more important

no one leaves home until home is a sweaty voice in your ear
saying-
leave,
run away from me now
i dont know what i’ve become
but i know that anywhere
is safer than here

Warsan Shire é poeta, escritora e educadora. Descendente de refugiados Somalis, nascida em 1988 no Kenya, cujos pais depois imigraram para a Inglaterra, hoje vive em Londres.

 

PS: Os grifos no poema são meus.

Ódio golpista e diferenças relativas de classes.

A imprensa conseguiu enfim criar níveis de ódio suficientes para se levar à frente o golpe de Estado fundado na difusa histeria moralizante. Semeou no terreno mais fértil: a classe média.

O interessante é que os sujeitos a serem instalados no poder estatal pelo golpe não são de classe média, nada devem a esse estrato social e nada farão por ela. A classe social onde fermenta o ódio golpista à maior temperatura perderá com o que patrocina.

Cega, não percebe ser instrumento de algo que beneficia a meia dúzia. Todavia, há algo sutil a ser notado. Mesmo que entre a névoa alguns consigam perceber que economicamente nada ganharão com o golpe entreguista, persistem a querê-lo. Por que?

Porque a classe média aceita piorar sua situação econômica desde que os pobres piorem mais. Desde que volte a ter servos mais baratos, que volte a sentir-se segura numa relação esclavagista, que volte a frequentar aeroportos e restaurantes vazios, ela aceitará retroceder também.

O cerne da coisa é a percepção da redução das diferenças relativas. Muita gente não apenas começou a consumir e a frequentar espaços nunca franqueados, como reduziu a atitude mental do servo. Ou seja, passou a perceber-se como gente, como cidadão.

Reduziu-se o número dos que por uma refeição ou roupas velhas empenha gratidão tão cara ao médio classista, que precisa deste conforto. Isso, essa redução das diferenças – não só econômicas, como sociais – o médio classista não perdoa.

Ele entra pra ajudar um golpe entreguista, certamente perderá, mas saíra contente desde que os pobres percam mais e retornem aos seus lugares de serviçais prontos a copiosos agradecimentos por uma refeição.

As contas para o golpe de Estado.

Essa deve ser a última tentativa de golpe de Estado, no Brasil, com forte apoio institucional dos Estados Unidos da América. Não creio que em quatro ou mais anos à frente possam empenhar esforços a ajudar seus empregados aqui, notadamente na imprensa, partidos políticos e judiciário. Exatamente por isso, será a mais feroz, talvez mais que a de 1954 contra Getúlio Vargas.

Não creio que a democracia resista. A pequena burguesia está totalmente cooptada pelo discurso mediático: parcial, superficial, moralista, histérico. Sob medida, enfim, para seduzir a camada pior de toda e qualquer sociedade: a classe média média. As classes baixas não tendem o que acontece e preocupam-se em pagar suas dívidas. As classes altas esperam para ver o que virá; quase sempre ganham…

O motivo é o de sempre: petróleo e Petrobrás; reservas e a empresa que detém o conhecimento da extração em águas profundas. Enquanto a empresa manteve-se relativamente pequena e não anunciou as reservas, a predação foi pequena. Depois que se tornou evidente a existência abundante de petróleo no Brasil e a Petrobrás ganhou tamanho, o entreguismo visou-a diretamente. Já o farsante Fernando Henrique Cardoso empreendeu a primeira tentativa de entregá-la, sem sucesso, contudo. Não houve tempo suficiente.

O golpe interessa a muitos e beneficia a poucos, algo que geralmente só se percebe ao depois e faz rir quem vê tantos escravos empenhados em se autoagrilhoar. A estrutura é nitidamente hierarquizada e dividida entre idealizadores e executores. Idealizadores são bancos, petroleiras, indústria bélica, farmacêutica, enfim, o grande capital articulado no esquema da propriedade cruzada.

Abaixo, vêm os sistemas institucionais públicos e privados. Abaixo do capital grande, o governo dos Estados Unidos da América e seus satélites não governamentais, que atuam para irrigar de dinheiro os subsistemas locais. Localmente, a burocracia judiciária, a imprensa e partidos políticos são agentes da desestabilização.

Os empregados locais, à exceção dos que desempenham funções políticas, fazem poucos cálculos e trabalham quase de graça, movidos, a maioria, apenas por inércia. O discurso da imprensa os embala e os leva até a ser contra si mesmos. Os funcionários públicos a serviço do golpe podem, em sua larga maioria, ser postos neste grupo dos suicidas involuntários, movidos pelo narcisismo, ignorância e vontade de servir a qualquer coisa que não seja o próprio país.

Para o grande capital, quanto mais rápido for o golpe de Estado, melhor. Quanto mais rápido puserem as mãos no petróleo e na Petrobrás, melhor. O problema é que parte dos agentes locais do golpe tem mais contas a fazer. Os parlamentares, especialmente, têm muitas contas a fazer no que se refere ao tempo exato da ação.

Esse problema do tempo deve-se a dois fatores, basicamente. Se derrubam a presidente antes da metade do mandato, geram eleições em que o derrotado das últimas será franco favorito. Se a derrubam depois da metade, assume o vice-presidente. Ora, os golpistas não são um bloco unido e o poder é muito sedutor, mesmo para quem se dispõe a ser preposto de interesses externos.

Poucos se dispõem a dar o golpe em benefício imediato de outros. Poucos acreditam nas promessas de sucessões, porque todos já mentiram muito e traíram-se reciprocamente várias vezes. O imediatismo decorre do nível de predação em que essa gente atua. Terão de chegar a um acordo para enfim executarem o golpe de Estado na forma político-jurídica.

Outro obstáculo, não ao golpe, mas à sua permanência, é Lula. Para o grande capital, pouco importa que Lula retorne eleito em 2018, depois do golpe, caso tenha acedido ao petróleo e à Petrobrás. Todavia, para os agentes executores locais isso é importantíssimo e não pensam dar um golpe de Estado para ficar no poder por dois anos apenas.

Por isso, tentarão a interdição judicial do Lula, para impedi-lo de disputar eleições em 2018. Quem pense que este jogo segue regras dirá que está minha afirmação é quimérica. Mas, quem pense que há regras, esse sim vive imerso em quimeras. O poder judicial fará o que lhe pedirem a imprensa e os partidos de oposição para dar mais um passo na destruição do Estado de direito. Qualquer pretexto servirá a a experiência da grande farsa da AP 470 provou ser possível encenar qualquer comédia e dar-lhe ares credíveis, com apoio da imprensa.

Se será possível evitar o golpe ou minimizar seus efeitos, não sei dizer. Mas, é condição necessária de qualquer tentativa reconhecer que o golpe de Estado está avançado e é patrocinado internamente pela imprensa e pelo poder judicial.

Oferecem um pourboire a Pepe Mujica.

Romae omnia venalia sunt.

Salústio

 

Em Roma tudo está à venda, dizia-se. Um tremendo erro, porque muito ou quase tudo não é tudo. Exatamente por não haver essa coincidência total, é necessário postulá-la, como verdade absoluta, inescapável e válida em toda parte. O surto moralista de Salústio, indignação sincera, serviu bem aos que tudo compram e aos que tudo vendem.

O grande problema das estruturas de poder concentrado e a servir-se da massificação como meio de domínio é precisamente que nem tudo está à venda. Daí que é preciso submeter os recalcitrantes, aqueles que resistem como forma espontânea de estar no mundo, porque não sabem ser diversamente.

Dá-se que o Presidente do Uruguai é um homem simples, inteligente, culto, adepto da redistribuição de riquezas, austero na vida pessoal, fora de moda, avesso ao fausto, avesso à cerimônia, relativamente pobre materialmente. E fez um bom governo.

Era preciso que um tipo humano assim fosse cooptado, mais que derrotado eleitoralmente. Porque cooptado torna-se não perigoso e totalmente à mercê da manipulação. Da forma que é, presentemente, Mujica é quase invulnerável, porque todo autêntico e coerente.

Não há fotos suas a jantar no Tour D´Argent, escondido, a trair e contrariar a austeridade que se lhe associa. Não há passeios toscanos em Ferraris de último tipo, a levantar a contradição e o embuste que seria o seu VW Fusca de 1987. Não há contas bancárias na Suíça nem em Luxemburgo, a traírem a imagem de homem apenas remediado.

Se essas coisas houvesse, estaria tudo bem, Mujica seria um refém, seu discurso um embuste, sua vida uma farsa. Mas, o homem não cabe nas caixas disponíveis para a compreensão massificada rotulada. E, pior, não é um fingidor, não é poeta.

Pois bem, Mujica desloca-se num Volkswagen Fusca, ano 1987, azul. Um carro velho, comum e que vale nada. Ele não usa este carro para chamar atenção, ele simplesmente não dá qualquer importância a carros, pois se desse poderia ter outro, mais novo, mais tecnológico, mais possante.

Não é possível, numa sociedade massificada, que um presidente da república use um fusca 1987 para seu transporte, exceto se for propositadamente para criar uma mitologia. Se for sinceramente, como Bergoglio usava um Renault mais velho ainda, é algo a ser trazido para o âmbito da excentricidade, para que seja compreendido pelas massas como uma farsa simpática.

Eis que um milionário árabe dispõe-se a fazer o papel que dele se espera. Como milionário embrutecido que é, fazedor de coleções, presta-se a oferecer um milhão de dólares norte-americanos pelo carro velho de Mujica, que não vale mais que um mil dólares.

Isso é coisa própria de guitarras ou carros de astros de bandas de rock. De roupas de artistas de cinema ou de TV. De qualquer coisa de celebridades. Isso de se colecionarem irrelevâncias porque pertenceram a um certo fulano qualquer, célebre por algo que ninguém percebe ou todos percebem bem. Algo do território do despudor e da sociedade do espetáculo, que nivela tudo ao colecionável.

Aparentemente, Mujica respondeu à oferta dizendo que iria pensar a respeito. Diz-se que ele teria afirmado que se vendesse o carro sem valor pelo milhão de dólares doaria o dinheiro para a construção de casas. Espero que tudo seja falso ou que, sendo verdadeiro, Mujica tenha tempo de recuar na aceitação do pourboire.

Não se vende algo de U$ 1000 por U$ 1.000.000. Uma transação assim não faz do comprador um parvo; faz do vendedor um clown vendido. Receber um milhão de dólares pelo que vale nada faria de Mujica um sujeito cuja trajetória esvaiu-se num segundo. Pouco importa que dê o dinheiro para as casas dos pobres, para o Banco do Uruguai ou para um fundo de proteção das missões.

Não é suborno no sentido clássico do termo, evidentemente. É muito pior: a troca da dignidade por uma oferta a princípio incompreensível, a redução do extraordinário ao comum; a entrada na massa do homem que estava fora dela.

Mensalão: a ruína de uma farsa.

Um tribunal de segunda instância de Bolonha desnudou completamente uma farsa judiciário-mediática que comoveu a pequena burguesia brasileira por três anos. Arrisco-me a afirmar ter sido a maior de todas, a mais perversa, a mais celebrada farsa com finalidades políticas já produzida no Brasil.

Um dos réus da ação penal 470 – o tal mensalão – foi absolutamente genial: Henrique Pizzolato, ex-diretor do Banco do Brasil. Ele é cidadão italiano, além de brasileiro, e escapou do linchamento judiciário para a Itália, lá entrando com o passaporte do falecido irmão. Creio que cometeu este pequeno ilícito propositalmente, o que demanda julgamento dele lá.

O interessante é que os partícipes da farsa insistiram para o Estado brasileiro pedir a extradição de Pizzolato, para cumprir a pena que se lhe impôs no juízo de exceção patrocinado pelo supremo tribunal federal. Melhor, para quem queria que a coisa se mantivesse com a aura de restauração da bondade, era não ter feito isso…

O pedido de extradição de um nacional demanda apreciação judicial dos aspectos formais do processo criminal no outro país. Não implica, é verdade, que se entre no mérito do julgamento, desde que se trate de crimes previstos nos dois países. Todavia, verificar a regularidade formal do julgamento foi o que bastou para negarem a extradição de Pizzolato, porque muitas e muito básicas garantias fundamentais foram violadas na farsa.

Verificou-se o que muitos diziam, mas poucos acreditavam, porque a imprensa bombardeou o público diariamente com a noção de que se praticava o maior ato de justiça da história do Brasil. Criou uma comoção moralista que arrastou a classe média a delírios fremitosos de satisfação com o linchamento que se chama julgamento.

O tribunal de Bolonha observou que: não houve duplo grau de jurisdição; houve ocultação de provas favoráveis ao réu, mantidas sigilosas em inquérito paralelo.

São duas violações gravíssimas, a revelarem a aberração que é o estado mental das pessoas que tiveram a idéia e a levaram adiante. Qualquer encenação em que se suprima o duplo grau e se escondam provas favoráveis aos réus é tudo, menos um julgamento.

Esta farsa foi montada visando a dois objetivos principais: primeiramente, afastar o valoroso José Dirceu da vida pública, encarcerando-o e privando-o de direitos políticos injustamente; o segundo, criar um escândalo de grandes proporções e alto conteúdo dramático, a ser explorado pela mafiosa imprensa brasileira contra o governo atual.

Inicialmente, os dois objetivos pareceram plenamente atingidos. Mas, o fascismo moralizante despertado com o linchamento não foi suficiente para evitar a vitória da Presidente Dilma nas recentes eleições, o que era o grande fim visado.

Terrível, nisto tudo, é perceber o nível de vale-tudo a que chegou a parcela fascista da direita brasileira, que serviu-se da imprensa e do maior tribunal do pais para encenar uma farsa imensa, mesmo que isso levasse, depois, ao descrédito dessas instituições, ao menos nas pessoas mais informadas e capazes de pensarem com as próprias cabeça.

Vôo MH17 da Malaysian Airlines: mais do mesmo.

O vôo MH17, da Malaysian Airlines cobria a rota Amsterdam – Kuala Lumpur, na quarta-feira passada, quando caiu perto de Donetsk, no sudeste da Ucrânia. Havia a bordo 298 pessoas, somando-se tripulantes e passageiros e todos morreram. Especula-se que foi abatido quando estava em altitude de cruzeiro, algo à volta de 10.500 metros acima do nível do mar.

A região da queda é território de populações maioritariamente russas, que se querem separar da Ucrânia. A vista desta aspiração à separação, as forças armadas ucranianas têm promovido dura repressão na região. Há grupos armados que oferecem resistência às forças ucranianas, embora em franca desproporção. Houve incidente de derrubada um avião militar ucraniano em vôo baixo por separatistas munidos de mísseis anti-aéreos pequenos, guiados por emissões de infravermelho, disparados do ombro.

No mesmo dia em que se soube da queda do avião, órgãos governamentais norte-americanos e europeus, a OTAN e veículos de imprensa norte-americanos e europeus disseram em uníssono que o avião havia sido abatido por mísseis disparados pelos russos.

Os russos em questão, se forem os habitantes da região ucraniana, não têm condições de abater aviões a 10.500m, simplesmente porque os mísseis Igla, de que dispõem, não tem alcance vertical superior a 3.800m. São misseis pequenos e leves, disparados por um homem, do ombro, que servem para alvos a baixa altitude e a curta distância. Os russos de Donetsk não têm baterias de mísseis terra-as – SAM – guiados a radar ativo e com médios e grandes alcances.

Como era absurdo demais até para quem tem a imprensa a favor incondicionalmente, os russos que abateram o avião passaram a ser os propriamente ditos, que o teriam feito desde o território russo. A tese, avançada rapidamente e sem fundamento em qualquer coisa concreta, é tão absurda quanto a primeira. Disseram os governos e repetiram os media, que a coisa tinha sido obra de mísseis Buk, russos, de médio alcance.

O local da queda do avião fica a aproximadamente 60 Km da fronteira com a Rússia. Os mísseis das baterias Buk têm alcance total de 42 Km para aviões e podem atingir alvos voando até a 25.000m. Mesmo que houvesse uma bateria exatamente na fronteira, seria dificílimo um míssil destes conseguir abater o avião. Basta considerarmos o afastamento horizontal de 50 a 60 Km, mais a altitude de 10 Km para percebermos que estava fora do alcance.

Aquela região tem sido evitada por vôos comerciais há algum tempo. Curiosamente, ou estranhamente, dois vôos anteriores da mesma Malaysian, com as mesmas origem e destino, nos dois dias imediatamente anteriores, descreveram rotas ao sul da Ucrânia, por sobre o Mar Negro. O MH17, contrariamente ao que ocorrera dias antes, descreveu uma rota a passar exatamente sobre Donetsk…

As forças armadas ucranianas têm várias baterias de mísseis Buk, como as têm quase todas as ex-repúblicas soviéticas. Especula-se, a partir de comunicado do governo russo, que baterias destas foram deslocadas precisamente para os arredores de Donetsk no princípio desta semana. O ministro da defesa da Rússia afirmou taxativamente que foi detectada atividade de radar de bateria Buk na região.

Baterias de SAM guiados por radar têm algo em comum. Ao contrário de mísseis guiados por buscadores de calor, passivos, os SAM guiados por radar implicam a busca e iluminação do alvo. Ou seja, é preciso ligar o radar de busca, que é bastante potente e tem um padrão de emissões bem conhecido. Esse ativamento do radar de busca da bateria é impossível de ser escondido e os russos certamente o captaram.

Há um boato interessante a dar conta que o avião Boeing 777 da Malaysian foi escoltado por dois caças ucranianos. Pode ser algo a induzir a crer no perigo de voar ali, ou seja a reforçar a tese de que foram as forças armadas russas que abateram o avião. Mas, a ser verdade, já teriam revelado as informações de vídeo e radar dos calças de escolta. Especulando dentro deste boato, se houve mesmo escolta, pode ter sido ela mesma a abater o avião com mísseis IR.

Ao fim e ao cabo, bastaria uma simples pergunta para constatar a absurdidade da atribuição do abate à Rússia: o que ganharia a Rússia abatendo um avião comercial sem finalidades de espionagem e fora de seu espaço aéreo? Nada, evidentemente.

Ou seja, é preciso supor que os russos são absolutamente imbecis para fazerem algo que nenhuma vantagem lhes traz. Ao contrário, os obriga a esforço imenso para dar combate à máquina de desinformação e calúnia que é a imprensa mainstream norte-americana e europeia.

No sentido inverso, é interessante perguntar-se quais vantagens adviriam para os EUA e seus asseclas europeus deste abate: vantagem, no sentido mais imediato, nenhuma, mas dentro de sua habitual lógica, sim. Dá-lhes, como sempre ocorre, um pretexto para escalar a tensão, a instabilidade e, no limite começar uma guerra.

Assim agiram no Iraque, em busca de armas de destruição em massa que não havia. Para justificar a brutal invasão, deixaram ou ajudaram a derrubar edifícios nos EUA, por exemplo. Sempre precisam de um pretexto, porque os mais canalhas andam sempre à espreita de algum argumento moral.

Genocídio de palestinos: hipóteses de cessação.

Que a minha mão direita definhe, ó Jerusalém, se eu me esquecer de ti!
Que a língua se me grude ao céu da boca, se eu não me lembrar de ti, e não considerar Jerusalém a minha maior alegria!
Lembra-te, Senhor, dos edomitas e do que fizeram quando Jerusalém foi destruída, pois gritavam: “Arrasem-na! Arrasem-na até aos alicerces! ”
Ó cidade de Babilônia, destinada à destruição, feliz aquele que lhe retribuir o mal que você nos fez!
Feliz aquele que pegar os seus filhos e os despedaçar contra a rocha!

(Parte do Salmo 137)

É permitido tirar o corpo e a vida de um gentio.

(Talmude – Sepher ikkarim III c 25)

Há uma gente a viver entre o mediterrâneo e o deserto que antecede ao Levante fértil e que muito honra o profeta Josué, homem profundamente distinguido pelo Deus dele, que parou o curso do sol para que matasse sem impiedade, pois ainda havia inimigos a liquidar. Essa mesma gente prefere perder a mão direita e ter a língua pregada ao céu da boca se porventura esquecer-se de Jerusalém.

Piedosíssimos, tiveram ofertada uma coleção de interpretações rabínicas que os governam, atualmente, em que várias passagens aconselham a morte dos goyim e os comparam a cães, em algumas ocasiões, e a nada, noutras.

Ademais de tão sábios e mansos ensinamentos a serem seguidos, receberam a titularidade de algumas terras diretamente de um zeloso Deus, o mesmo, não convém esquecer, que deteve o curso do sol, porque não deixaria seus escolhidos matarem à noite, porque seria impiedade.

Hoje, constituem um Estado pseudo-moderno: Israel. O exército de Israel, noutra coisa muito simbólica, jura por Masada, a fortaleza onde todos morreram a resistir aos romanos, que reprimiam mais uma confusão feita no seio do Império.

Honraram a promessa e a exortação contidas no Salmo 137. Vingaram-se dos de Babilônio, impondo a esta florescente zona califados maníacos e, por fim, impondo-lhe o caos, a desagregação e a pobreza. Vingaram-se de Tito Flavio Vespasiano e de Roma por meio de um preconceito emanado do judaísmo, que entranhou-se no Império, impôs-lhe a massificação, destruiu o pensamento, introduziu a moralidade do escravo e desmembrou-o.

Nenhum outro grupo invoca a propriedade de terra por outorga divina; pelo menos ninguém o faz sem corar de vergonha se for instado a falar a sério desta invocação. Os grupos humanos detém terras porque nelas estão há tempo, porque as conquistaram pondo a correr os anteriores detentores, porque as acharam vazias e etc. Por mandato divino é realmente tão atrevido quanto ridículo.

Pois bem, hoje o sionismo que dirige a política de Israel promove nova etapa do contínuo genocídio dos palestinos, que ocuparam aquelas terras por mil anos antes do estabelecimento do Estado de Israel. O sionismo é engraçado, pois ao mesmo tempo que se serve da parvoíce do mandato divino, serve-se da desfaçatez total no afã matador.

São profundamente eficazes, pois matam palestinos na razão de 10:1, o que é um êxito sob qualquer critério. E este êxito objetivo é tornado em êxito moral na chamada opinião pública, porque eles detém a comunicação de massas, não apenas por meio da imprensa, mas principalmente por meio da indústria do entretenimento, o que significa a produção cinematográfica e televisiva norte-americanas.

Em termos vulgares, os assassinos que matam dez dos seus inimigos enquanto morre um dos seus são os coitados do mundo. Isso deve-se a ter a indústria de comunicações, como acima dito, deve-se a terem o Holocausto – o fato que mais ajudou o sionismo – e deve-se a terem mais ou menos 50% do sistema bancário mundial. Com tais condições, é possível matar a dez para um e ser vítima para o homem vulgar que se alimenta de jornais e séries televisivas e filmes de Holywood.

Mas, além do objetivo seriamente perseguido de tanger ou eliminar todos os não judeus de Israel, há quem veja nisso a oportunidade de divertir-se de maneira um pouco mais sutil. Eles levam o mundo a discutir seriamente formas de cessar o morticínio e a pensar em todas as maneiras inúteis de estancá-lo.

Só há, em condições limites, uma maneira de cessar alguma belicosidade profunda: a liquidação total de um dos lados. É precisamente o que busca Israel e quando o atingir o problema terá acabado, assim como se terão acabado os palestinos. Claro que a solução, em termos abstratos, poderia dar-se também no sentido inverso, mas isso, em termos práticos, é impossível, porque Israel tem 250 bombas atômicas e os palestinos nem exército têm.

Ou seja, Israel eliminará ou expulsará do território que Deus lhe deu todos os não judeus; isso é questão de tempo. E pouco importa que seja uma matança crudelíssima, a vitimar inicialmente crianças pequenas com bombas de fósforo branca. Os que saberão disso serão tão poucos quanto os que lerão este texto. O vulgo verá foguetes caseiros caindo na periferia de Tel-Aviv e não verá gente a banhar-se tranquilamente nas praias perto de Haifa, nas águas quentes do Mediterrâneo.

Já me permiti cogitar se a detenção da bomba atômica pelos persas não estancaria o afã matador de Israel e cheguei à conclusão que não. Na hipótese de vizinhos tão capazes belicamente, eles não atenderiam ao convite da sensatez, prefeririam levar à destruição do mundo inteiro. Israel, como se sabe, tem mísseis nucleares apontados para Moscou, Berlim, Teheram, Roma, Nova Iorque.

A perder Jerusalém, eles preferem que percamos o mundo

Manipulação mediática.

Primeiramente, deve-se dizer que a imprensa mainstream tem lado, trabalha para os interesses plutocráticos e não leva a sério a tolice da imparcialidade. Não é indústria de divulgação de fatos, mas de construção de discursos de suporte político dos grupos que defende.

A imprensa mainstream não conhece realidade e não trabalha com qualquer aspecto de empirismo. Ela constrói discursos com finalidades precisas, à revelia de qualquer coisa que se aproxime do que se chama realidade. Na verdade, ela desconstrói a realidade nessa sua indústria de construí-la segundo conveniências propagandísticas.

A imprensa nem educa, nem informa, embora esta segunda finalidade ela a declare a primordial. Não é. Ela ensina a pensar de uma certa forma e liquida as possibilidades de qualquer outra forma de pensamento. Fornece os pontos e contrapontos pré-estabelecidos, extremos que delimitam o vai-e-vem esquizofrênico dos seus dominados.

Afirma-se liberal, mas não é. Nem é indiferente ao Estado, nem contra ele. Ela depende do Estado ser leniente com a concentração e com a fraude e depende dos recursos do Estado, usurpados imperialmente da maior parte da população. Ela, mesmo quando opera no espaço da concessão pública, como dá-se no uso do espectro de rádio difusão, preda os recurso públicos em troca de publicidade.

É necessário, para a imprensa, que avance a imbecilização sem recuos. Isso não é somente o estabelecimento de baixos níveis de cultura formal, mas a incapacitação para qualquer pensamento autônomo. Este último é o mais destacado meio da imprensa mainstream e sua finalidade precípua é defender a plutocracia.

A manipulação das massas tem de ser bem feita, porque a missão de capturar a democracia implica levar as maiorias a votarem contra seus próprios interesses. Em condições ideais, ou seja, abstraindo-se de fatores externos, seria missão dificílima, daí que a primeira coisa a ser feita é inserir muitas coisas na vida do sujeito comum, todas elas estranhas a ele e às suas circunstâncias, e fazê-lo crer que são todas muito pertinentes à sua vida.

Isso é técnica de dissolução de identidade, tanto pessoal, quanto de classe. Ampara-se no fornecimento de uma moralidade que supostamente é invariável e permeia todas as classes. Nisso há fraude porque a plutocracia, o 01%, não tem moralidade nem honra, as pessoas de exceção tem honra e não moralidade e o restante, da burguesia para baixo, tem moralidade, mas ela é fortemente cambiante.

A par com o fornecimento de uma moralidade supostamente estável e universal – que fará o papel de critério de julgamento de tudo – despejam-se quantidades imensas de informações dispersas, incompreensíveis e, principalmente, inúteis como pontos soltos. O manipulado saberá que houve um abalo sísmico em Sumatra e logo depois que o exército de Israel matou palestinos com munições de fósforo.

Incapaz de relacionar as notícias com qualquer conceito ou abstração, pois não sabe o que são acomodações tectônicas, nem o que é sionismo, terá recebido dois fatos desconexos, atemporais, sem relações com quaisquer outras coisas. Apenas entulho informativo a baralhar as idéias, ocupar espaço nas poucas prateleiras cerebrais e conduzir à desintegração da identidade.

Daí advém a incapacidade de distinguir o relevante do irrelevante, porque tudo é lançado sucessivamente, coisas depois de outras, em desconexão evidente. As diferenças estarão somente na maior ou menor ênfase moralista dada a uma ou outra notícia. Assim, se as coisas apenas se diferenciam a partir da ênfase moralista, tudo é igualmente relevante ou irrelevante, ou seja, a relevância é dada pelo emissor, pois o recetor é já incapaz de perceber diferenças.

Outros característicos da imprensa mainstream no campo tático – porque os acima referidos são mesmo estratégicos – são oportunismo e mesquinheza dignas de um bom funcionário público. Não há pudores em cambiar sentenças taxativas da noite para o dia, assim como não há limites mínimos para desfaçatez e ataques pessoais baseados em baixezas.

Qualquer análise da imprensa mainstream que não esteja comprometida com ela própria, ou seja, com o objeto da análise, concluirá que lhe falta absolutamente algo: coerência. Não haveria nisso problema algum se não insistisse a imprensa nessa estória de coerência, como a criar um novo e universal valor a ser cultivado. Coerência é uma mistificação que parte da suposição absurda da existência da liberdade sempre e incondicionada e, portanto, algo sem muito sentido.

Ocorre que a imprensa cultua e repete o termo continuamente, ao mesmo tempo em que professa uma incoerência profunda. Guiada por oportunismo de fazer inveja a funcionário público, ela é capaz de esgueirar-se por todos os lados e apropriar-se de coisas que atacava um dia antes. E o público recetor, anestesiado, vê a banda passar… O caso que me vem à mente é precisamente o do Mundial de Futebol do Brasil.

A imprensa mainstream brasileira, o que significa dizer basicamente Rede Globo, TV Bandeirantes, SBT, Rede Record, Grupo Abril, Estado de São Paulo, Folha de São Paulo e Diários Associados atacou a realização do mundial de futebol energicamente, como forma de atacar a Presidente Dilma. Eles são contra o governo e isso não é segredo para quase ninguém, até para quem não pensa com a própria cabeça.

Associaram fraudulentamente toda a realização do Mundial ao governo, desde a construção de estádios até a mentirosa isenção tributária dada à FIFA. Disseram que haveria o caos, que os aeroportos seriam ante-salas do inferno, que os transportes não funcionariam, que seria a vergonha nacional frente a um mundo abismado com nossa incompetência total.

Previram que haveria manifestações generalizadas contra o mundial e mentiram muito sobre a construção dos estádios – muito até pelos padrões elásticos da imprensa brasileira – tanto quanto à origem dos dinheiro, como quanto aos preços e possibilidades de atraso nas conclusões. Não houve tempo nem meios de desfazer as mentiras puras e simples, mas o discurso do caos e do fracasso mostrou-se totalmente suicida e informado pela realidade.

Eis então que o mundial é um sucesso, os aeroportos funcionam muito bem, os estádios estão prontos e são muito bons, estão sempre repletos, assim como hotéis, bares e restaurantes. Ou seja, o caos não houve, a vergonha não houve, protestos houve meia dúzia de pequenos burgueses menininhos satisfeitos. O que faz a imprensa? Cambia o discurso imediatamente e só fala do mundial, agora totalmente dissociado do governo.

Se houvesse fracasso e caos, seriam imputados ao governo; se há êxito, foi por conta de qualquer coisa sobrenatural ou mesmo uma novidade de efeito sem causa. Seria ingenuidade demasiada esperar qualquer pudor desta gente, mas esses câmbios são muito súbitos e embutem algum risco de se perceber o oportunismo que abre a porta a tamanha incoerência.

Evidentemente que se a seleção brasileira afinal não for campeã, retornara o estabelecimento de fantasiosas relações de causa e efeito, a por no caldeirão da frustração o governo. Isso é previsível como o escurecer após por-se o sol. Assim como previsível será a volta dos ataques aos estádios e a acusação de não conclusão de obras.

Eles nunca se preocuparam com mundial de coisa nenhuma, exceto pelo que ganham a vender espaços publicitários, nem nunca se preocuparam se foi ou não gasto dinheiro público em estádios, se haverá ganhos em infraestrutura depois, se muita gente ganhou dinheiro com serviços, nada disso. Eles estão preocupados em servir aos desígnios da plutocracia e evitar a qualquer custo a reeleição de Dilma, porque representa um pouco de redistribuição na apropriação das rendas.

E qualquer meio serve, por mais vil, mais incoerente, que seja.

Segregação por aparência.

Toda lógica de atuação social tende a tornar-se inercial e, portanto, autoreplicar-se sem que os agentes percebam claramente o que fazem e porque o fazem de tal ou qual maneira.

O domínio de poucos sobre muitos depende bastante deste tipo de inércia percebida como um estado natural de coisas. Claro que isso tudo, de tempos em tempos, é temperado com pequenas pitadas de razoabilidade e de aparência de igualdade formal.

Em junho, acontece algo extraordinário nestas bandas do nordeste do Brasil: festas de São João que levam quase o mês inteiro. Em Campina Grande, precisamente, há um espaço dedicado à realização desta farra de trinta dias, que hoje pouco tem de tradicional, na verdade.

Como é intuitivo, o espaço fica cheio de gente, e nos finais de semana fica tão repleto que é quase intransitável. Esse tipo de aglomeração é ideal para a prática de pequenos furtos e alguns roubos. Assim, são tomados certos cuidados com a segurança.

Todo o amplo espaço é fechado no seu perímetro, a partir das cinco horas da tarde, e há quatro ou cinco locais de entrada e saída. Nestes pontos, há dois corredores de entrada, um para mulheres e outro para homens.

Neles, fiscais passam rapidamente aqueles detectores portáteis de metais, em busca de armas brancas ou de fogo. Caso os detectores acusem metais, o que quase sempre ocorre, por causa de moedas e chaves, faz-se uma rápida revista com as mãos. Realmente, não é nada constrangedor, nem invasivo.

Não gosto de multidões concentradas, nem gosto dessa música ruim que o atrevimento sem fim da indústria de entretenimento achou de chamar de forró, nem gosto de pagar caro por coisas ordinárias. Assim, só vou lá bem cedinho, pelas seis, sete horas, para uma brevíssima volta, pois nesta altura há pouquíssima gente e apenas trios de forró de verdade.

Eis que entrava e o detector de metais apitou. Claro, tinha um bolso cheio de moedas e no outro as chaves de casa. Parei e fiz menção de meter as mãos nos bolsos e retirar o que lá se encontrava, para provar ao sujeito da segurança. Ele balançou a cabeça e disse: nada, pode entrar, vocês são gente de bem… 

O maluco concluiu que éramos gente de bem – o que quer que isso signifique – e não fez em mim a revista com as mãos, que é de praxe quando o detector apita. Tudo bem, segui em frente. Mas, detive-me brevemente, apenas o suficiente para entrever uma cena que daria uma tese de doutoramento.

Atrás, entravam pai e filho, sendo este último uma criança à volta de quatro anos de idade. O detector de metais apitou quando o pai entrou e ele foi rapidamente apalpado nas pernas. Em seguida, entrava o menino, que devia ter qualquer coisa metálica no bolso e foi revistado manualmente.

A revista não teve nada de agressiva, intrusiva, humilhante, nada disso. Foi rapidíssima e superficial. Acontece que um menino de quatro anos foi revistado e eu não fui, mesmo que o detector de metais tenha apitado nos dois casos.

O menino de quatro anos e o pai eram pretos, assim como o sujeito da segurança…

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