Já faz uns dias que terminei de ler Conversações com Dmitri e outros fantasmas, mais uma oferta preciosa de Miguel. Antes, nada tinha lido de Agustina Bessa Luís, embora me recorde de ter visto um e outro volume da autora. É facílimo e seguro de recomendar, porque é um bom livro. Despertou-me imensa curiosidade pela obra de Agustina que, andei pesquisando, é muito vasta.

Essas conversações são contos, o último um conto grande, quase uma pequena novela. Têm algo que me lembrou o chamado realismo fantástico, qualificação inexata que tem servido para a obra de Garcia Marquez. Inexata pela inexatidão de todas essas tentativas de apropriação de um estilo por uma ou duas palavras e também porque não há mesmo proximidade com aquilo que ensejou a utilização desses nomes.

Todavia, assim pareceu-me. Talvez mais herméticos que fantásticos. Diretos e econômicos de palavras e explicações para situações aparentemente inusitadas. Aparentemente porque o inusual pode ser um efeito estilístico obtido pelo autor, que trata na verdade de coisas absolutamente triviais.

Outra coisa chamou-me bastante a atenção: a elegância sóbria da escrita. Aqui, convém apontar algo que não deve ser tomado na conta de estabelecimento de relação de causa e efeito e a advertência não é inútil, porque é fácil interpretar o que segue erroneamente. Trata-se da facilidade de perceber-se a extração social da autora. Ela é nobre e culta.

Ser-se de origens nobres ou plebéias não está na origem do bom escritor, nem do escritor excepcional, bastando lembrar de Saramago. Ter cultura formal ampla já é quase um presuposto, mas também não depende necessariamente das origens sociais. O caso é que se podem perceber as origens do escritor bom.

Não é uma questão da elegância do texto – insisto que isso não depende de origens – mas de um estar-se à vontade com certas descrições e abordagens. De ser natural e sem afetação na utilização de personagens de todos os tipos e origens sociais, geográficas e históricas. De manejar sem cerimônias mitos e referências verdadeiramente eruditas e estórias de memórias pessoais a envolverem, inclusive, diferenças sociais profundas.

Enfim, ela, Agustina, é uma autora a ser vivamente sugerida. Eu, de minha parte, aguardo também sugestões de outras obras dela, que são muitas e não sei qual escolher.