Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Detalhe chinês.

Era comum, quando se mandava um carro para ser lavado, polido e aspirado por dentro, que ele voltasse com folhas de jornal a recobrirem os tapetes. O hábito, arraigado, tem sido abandonado aos poucos, mas ainda persiste aqui e acolá.

Onde levo o meu carro para lavar, a folha de jornal sempre está lá, a cobrir pelo menos o tapete do assento do motorista. Nem me agrada, nem me desagrada, embora sempre tenha pensado na inutilidade do jornal, que deve ser logo retirado, pois é um incômodo e pode causar um acidente. Não é indicado dirigir um carro com enorme folha de papel a escorregar a cada mudança de marchas, a cada pisada nos pedais.

Imagino que a raiz desse costume está na indicação de que os tapetes de borracha foram realmente lavados e para evitar que se sujem imediatamente após limpos. Bem, eles ficarão sujos de qualquer forma…

Hoje levei o carro para lavar, porque estava imundo e não posso fazer isso no prédio, embora fosse dos meus prazeres mais triviais de fim de semana. E ele estava lá, com o indefectível jornal a proteger o tapete recém lavado. Baixei-me para apanhar a folha, fazer dela uma grande bola e jogá-la do outro lado, o do passageiro.

Surpreendi-me com uma folha de jornal inteiramente em chinês! Se alguém indagar-se como posso distinguir entre caracteres chineses e japoneses esteja certo que não posso, é uma simples questão de probabilidade.

Que há chineses em toda parte é algo óbvio e sabido por quantos vejam e escutem as coisas nos centros das cidades. Mas, esta é uma cidade de 380 mil habitantes, no interior do nordeste brasileiro. Não é pequena, evidentemente, mas não é grande para padrões brasileiros, nem o lugar mais provável para se encontrarem folhas de jornal chinês.

Jornal chinês não tem outro público senão aquele apto para ler no idioma e não é algo que venha de muito perto, até porque não são publicados aqui. A conclusão é que já há chineses em número suficiente a justificar a importação de jornais, o que me parece excelente.

Muito longe de ter fobias com estrangeiros, lamento muito que sejam em tão reduzido número por estas bandas. Há um e outro português, a arriscar-se no comércio e principalmente com negócios de restaurantes e bares. Há um punhado de indianos, professores de física, engenharia e matemática na universidade federal. Há os novos chineses, todos comerciantes. E deve haver meia dúzia de pessoas de outras nacionalidade.

É auspicioso que venham pessoas de fora para um lugar como este, sempre muito fechado sobre si mesmo e desconhecedor profundo de tudo quanto sejam costumes e formas de viver diferentes dos modelinhos de sempre.

5 Comments

  1. Sidarta

    Elementar meu caro Watson, é a globalização chegando !!!

    Mas também o seu jornal pode ser coreano, como disse um locutor esportivo de Porto Alegre quando falou: “esse juiz safado quer agradar a gregos e a coreanos !!!”.

    A respeito da lingua coreana, um dono de um restaurante por aqui, também pastor presbiteriano depois do expediente no restaurante, me disse que o alfabeto coreano era todo fonético e, segundo ele, bem mais fácil de aprender do que o chinês mandarim.

    Falando sério, sempre tive um certo fascínio pela capacidade de uma criança japonesa de aprender o alfabeto KANJI simplificado com somente 200 e poucas letras; o alfabeto russo, uma derivação do latino e do grego, tem 36 letras e não sei o som de pelo menos 10 delas… as que não são iguais às nossas. Mas sei que “B” é “V”, “P” é “R”, “S” é “C”, “Y” é “U”.

    Alias parece que russo é similar ao português de trás-dos-montes: quando perguntado o porquê daquele povo trocar o “B” pelo “V” o prefeito respondeu: “ah, isso só o fazem os vurros”.

    No México o “B” e o “V” soam quase que igualmente; tanto faz VACA como BACA, é a mesma coisa e supõe-se que dê leite.

    • Andrei Barros Correia

      Caro Sidarta,

      Percebi umas coisas interessantes em Montevideo. Não com relação à forma de falar, que é muito semelhante à argentina.

      O caso é que no hotel estava a Orquestra Filarmônica da Venezuela, que daria função em Montevideo, com temas populares venezuelanos. Infelizmente, para ir ver, seria necessário comprar um tuxedo…

      Bem, mesmo com dificuldades auditivas, pude perceber que o castelhano falado pelos venezuelanos é bastante mais fonético, por assim dizer. Ou seja, não é todo Y ou LL que se torna V.

      Mas, isso já tinha percebido no Equador, onde, dizem, fala-se o castelhano mais bonito e correto.

      O que me impressionou foi escutar dizerem obrigado, ao invés de gracias.

      Claro que posso ter me equivocado e a possibilidade é bem plausível, mas acho que ouvi mesmo.

      • Sidarta

        Eu estive por uns dias em Montevideo em 1972 e depois nao mais fui la. O espanhol tinha muitos rrr e jjj como o da Argentina.
        Falaste do bom espanhol do Equador. O do Mexico, do Panama e da Venezuela, com que estou mais acostumado no trabalho, tem o som do ll como lh, y nao é j, o c de concepcion nao é de labio leporino. Entende-se muito bem. No Paraguay, em ciudad de leste, fala-se uma mistura de portugues com espanhol, com as vendedoras conversando entre elas em guarany. Trabalhei com uns argentinos de Mendoza e ai deu trabalho para entendê-los, mas gostaram do que fiz e pagaram bem.
        Nao sabia do obrigado no Uruguay. Na Venezuela às vezes sai um “gracias mil”.

        • Andrei Barros Correia

          Os uruguaios falam quase igual aos argentinos. A diferença fundamental é que não são argentinos. Claro que os argentinos deixaram a arrogância que os caracterizava e adotaram uma polidez correta com a turistada brasileira, mal educada e com ares de comprar tudo.

          Mas, os argentinos, mesmo polidos, não estão à vontade com a invasão, têm todos ares de muita pressa e pouca paciência.

          Os uruguaios de Montevideo são absolutamente surpreendentes, pelo menos aqueles com quem falei. É uma gente que, em geral, sai do trabalho, lá pelas sete da noite, com a cara aberta. Isso é impressionante, porque trabalho é das piores coisas do mundo!

          Pedir alguma informação, explicação, é algo absolutamente não traumático. Eles falam, numa boa, sem qualquer arrogância, por um lado, nem subserviência, por outro. Ô gente simpática e normal…

          Os obrigados que escutei foram de venezuelanos, não de uruguaios.

  2. Daniel

    Tem indianos dando aula de física na UFCG? Eita.

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