Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Dilma e os acordos e escolhas errados.

É inútil pagar a quem recebe e não entrega, bem como celebrar acordos com partes desleais. Há incompatibilidades incontornáveis e nem tudo está disponível para se resolver com dinheiro ou boa vontade e concessões.

A presidente Dilma parece ter-se deixado guiar pela tolice de crer nos acordos. Ordenou ou deixou que se adotassem medidas altamente concentradoras de rendas, a bem de agradar aos mais aquinhoados no Brasil, para que estes recuassem nos seus impiedosos, desmotivados e constantes ataques ao governo.

Eles não recuarão. A única coisa que os faria acalmar-se seria a privatização da Petrobrás, mas não creio que Dilma chegasse ao ponto do crime de lesa-pátria.

Subjacente a muitas parvoíces praticadas está a idéia de que a economia de um país nada mais é que a economia de um lar em escala ampliada. Esta crença, evidentemente muito apreciada – na proporção direta de sua estupidez – leva ao fetiche e histeria da austeridade, assumida como dogma.

Nesse sentido, o governo brasileiro, sem que o país viva qualquer crise relevante, nem cambial, nem fiscal, anunciou aumentos drásticos de impostos sobre a gasolina e o diesel, ao mesmo tempo que aumentou os juros pagos pelos títulos da dívida pública.

Não é preciso ter frequentado os bancos da escola de economia, de engenharia ou de matemática pura por quatro anos para perceber que as medidas visam a aumentar a arrecadação para exatamente pagar mais juros, na outra ponta, a meia dúzia de detentores de títulos.

A piorar, o principal aumento de imposto deu-se sobre a gasolina e o diesel, algo que todos têm que comprar, mesmo que na forma de um pacote de bolachas, porque tudo é transportado por alguma máquina movida a diesel.  Ou seja, o aumento de impostos foi profundamente regressivo, pois atingindo indistintamente a todos, atinge os mais pobres mais intensamente.

Para piorar, a medida foi erroneamente percebida como uma recomposição de preços dos combustíveis derivados do petróleo, como forma de ajudar as contas da Petrobrás que, segundo a imprensa, estariam ruins. Mas não foi isso absolutamente o que ocorreu, porque o aumento dos preços da gasolina e do diesel foi apenas nos impostos.

Além de algo regressivo e destinado a arrecadar para concentrar rendas mediante pagamento de juros a poucos, ainda alimentou o discurso de destruição da Petrobrás.

Os beneficiados com estas formas de retirar do todo para repassar a poucos não terão qualquer gratidão pelo agrado recebido do governo, na medida em que são predadores consumados e se creem merecedores de tudo. Não adianta agradar essa gente e desagradar a quantos escolheram este governo.

Para aumentar a arrecadação por impostos havia várias alternativas menos regressivas e que só desagradariam aos que já estão desagradados e tem raiva atávica do governo que melhorou mais a vida dos mais pobres.

Poderiam ser elevados tributos sobre a importação de espelhinhos, sobre cigarros e bebidas, poderia ser instituído um imposto sobre grandes fortunas, poderiam ser criadas novas faixas de imposto sobre a renda, poderia haver mais rigor nas aduanas. Seria interessante, por exemplo, abrir todas as malas dos passageiros provenientes de Miami…

Isso do parágrafo acima acirraria o ódio de quem já o nutre em doses elevadíssimas. Mas, seria menos ruim que desagradar o grande número e, pior, sem agradar realmente a maioria. O governo precisa conduzir-se com mais inteligência estratégica.

2 Comments

  1. Alcides

    É, mestre, não se pode servir a dois senhores, pois odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro.

  2. Bira

    Ótima análise, Lapa. As medidas regressivas – em incríveis três meses desde a eleição – já custam muito caro ao governo. Tenho a impressão de que, em pouco tempo, os folhetins requentarão a discussão sobre o marco regulatório, para alimentar a histeria dos passageiros provenientes de Miami. E aí, caba véi, o caldo vai engrossar ainda mais…

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