Os fatos históricos ditos relevantes podem ter por trás acidentes e aleatoriedades, mas isso é raro como causas principais.  Lee Oswald é hipótese para o assassinato de John Kennedy digna do nível mental da sociedade de massas triunfante. Ele, nas suas duas variantes, é pueril demais.

Como agente a serviço do comunismo patrocinado pela URSS, seria preciso admitir que fosse capaz de violar as regras da física e que a URSS fosse dirigida por imbecis. Como agente da CIA a serviço desta e da máfia, seria necessário admitir a violação das regras físicas e aceitar a conspiração na sua pior forma: aquela que diz ser possível um alcaguete de polícia fazer algo sem motivações e condições.

A bem da concisão, deixo Oswald de lado, porque é tolo considerar possíveis os três tiros rapidíssimos de longe e porque todos que contam sabem que foram ao menos dois tiros de frente, algo que os marselheses saberiam fazer bem. Ademais, quem se dispunha a tal empreitada sabia ser muito mais seguro contratar gente competente do submundo de Marselha que um vai com o vento, informante dos serviços secretos. E, ao depois, todos seriam mesmo eliminados, como ocorreu com Lucien Sarti no México.

Uma trilha segura é procurar os que se beneficiariam com a coisa. O mais evidente é Lyndon Johnson, que herdou a presidência. Mas, há um menos evidente, que aponta para uma hipótese também plausível, não como o responsável e mandante, mas como um elo para a ação de outros descontentes: Bob Kennedy.

Joseph Patrick Kennedy era um irlandês mafioso e riquíssimo. Seguiu a trilha dos mafiosos riquíssimos e inteligentes, ou seja, visou a esquentar e branquear, tanto o dinheiro, como a linhagem. Tratava-se de abandonar o estigma de mafioso e ele teve bastante sucesso nisso. Primeiro, ele estancou os vínculos mafiosos nele e não os transmitiu aos filhos; segundo, ele mandou os filhos lutarem de verdade na II grande guerra, e perdeu o primogênito e quase perde o segundo.

Embora mafioso, irlandês e católico, ele fora embaixador em Londres e mandara os filhos para a guerra, pelos EUA. Tinha mais que dinheiro, portanto, e tinha muita ambição. Ele construiu a carreira de John, seguindo o cursus honorum à risca e ao custo de muito dinheiro e favores. Valia a pena, porque o sobrevivente era inteligente e simpático, o que é a mistura da sagacidade com a tolerância, temperados pela necessidade e a falta de escrúpulos.

É invulgar que o patriarca tenha percebido as circunstâncias do tempo e planeado incursões em áreas que não seriam comuns. Percebeu que macartismo e radicalismos eram infrutíferos e comprou até um prêmio Pulitzer para John Kennedy, dando-lhe acesso ao campo dos liberais letrados, tolerantes e sedutores, mesmo que o livro fosse escrito por algum escritor fantasma.

A gente descendente de Joseph Kennedy não se assemelhava minimamente ao protótipo do magnata rude do Texas, nem do político semi-alfabetizado dos dois partidos irmãos.

Acontece que para eleger John Kennedy em 1960, Joseph obteve dinheiro, acordos e votos com a máfia do país todo e principalmente de Chicago de de Las Vegas. O pessoal da teoria da conspiração oficial, geralmente a maior imbecilidade disponível, costuma dizer que Sinatra intermediava esses negócios, o que não faz qualquer sentido. Sinatra era empregado da máfia e bem mais novo que o velho Kennedy, que lidava diretamente com os outros chefes, porque ele mesmo fora um deles.

Bob Kennedy, procurador-geral, inventou de acossar a máfia dos jogos e tráfico de entorpecentes e lavagem de dinheiro e venda ilegal de armamentos. E foi mais além que uma simples farsa ou encenação para satisfazer os moralizantes que gostam de conspirações. Parecia que acreditava naquilo, o que deve levar o analista a muitas dúvidas, porque o pai dele o deve ter advertido da insensatez.

Em 1962, falava-se muito de máfia nos EUA, mas nada que recomendasse como estratégia de propaganda política uma pressão real sobre ela, principalmente por um procurador-geral de presidente eleito com a ajuda dela. Ou Bob foi burro, ou ingênuo, o que dá quase no mesmo. Talvez não tenha sido burro e tivesse desenhado tudo para dar em nada, mas esses cálculos sofisticados podem não ser percebidos bem pelos que são obrigados a darem esclarecimentos em comissões inquisitoriais.

Bobby, com a morte de John, tornou-se candidato natural para 1968, mas a história provou que ele errou no cálculo, se de cálculo tratou-se. Pode ter sido a máfia tradicional, aliada com os psicopatas anti-castristas, que mandou matar John, por causa da perseguição do procurador-geral. Minha curiosidade atem-se a quais teriam sido suas razões: ingenuidade, erro de cálculo ou ignorância do alcance dos acordos que seu pai fizera para eleger seu irmão mais velho.

Mesmo que ele tenha calculado tudo corretamente e, consequentemente, apostado na possibilidade de restabelecer o acordo inicial de Joseph, tornou-se inconfiável e foi morto. Claro que não foi morto por outro imbecil agindo por conta própria e motivos insondáveis em Los Angeles, em 1968.

Outra hipótese passa pelo que Israel começava a fazer em Dimona. Com mais história que os católicos, e muito mais que os irlandeses católicos, Israel queria a bomba atômica, porque o sionismo é tudo menos burro. Se a fossem fazer somente com esforços próprios, levariam dez anos. Com a ajuda dos franceses, esse tempo se abreviaria em cinco anos, mas isso para quatro ou cinco ogivas.

No final das contas, tanto os franceses, quanto os norte-americanos, ajudaram decisivamente. Ocorre que Kennedy opôs-se a vender a bomba a Israel. Não sei se por anacronismo, fidelidade a Ialta, medo, sabedoria, preocupação em manter a detenção da bomba apenas pelo grupo que já a tinha, ou seja lá o que for. Certo é que ele tinha poucas ou talvez nenhuma ligação com o lobby que viria a ser o mais importante nos EUA, o sionista.

Era muito arriscado ter pouca fidelidade a este grupo de interesses que viria a ter não apenas o dinheiro, mas as mentes no país dominante do mundo. Estar ligado à famosa máfia, anacrônica, de jogos e tráfico de entorpecentes e armas começava a ser muito pouco na época. Essa gente tinha dinheiro, mas dinheiro pouco relativamente a quem tinha dinheiro muitíssimo e o afã religioso de ter um império a serviço da terra prometida em termos talmúdicos.

Qualquer das duas hipóteses é plausível e ambas complementares, na medida em que os grupos interessados ganharam ambos. Sem receios de parecer ingênuo, creio que perderam os EUA, porque o presidente que não hesitava em ordenar golpes de Estado e consentir em eliminações físicas, foi expurgado para se por em seu lugar coisas piores.

Pode ter sido muita burrice de Bobby ou a reação previsível de um lobby que já era forte, mas ainda não se arriscara à eliminação.