Não acho beleza ou sofisticação nos argumentos tu quoque, que nem argumentos são, a rigor. Entre duas pessoas que tenham algum respeito por si e pelo interlocutor e não dissimulem, raramente uma objeção deste tipo será usada, porque serão improváveis situações limites que a recomendem.

Isso acontece entre particulares que se supõe discutem honestamente e um nível de clareza relativamente alto. Política, todavia, é outra esfera. Não que seja uma esfera onde tudo é permitido, ou onde funcione aquele eufemismo weberiano para o vale-tudo. É outra esfera em relação ao primeiro exemplo porque é pública e porque muitos estão quase sempre dissimulando e mentindo. Então, a objeção tu quoque tem muita serventia.

José Serra buscou fazer terrorismo contra Dilma Roussef dizendo que ela aprovará o aborto no Brasil. A estratégia visa a obter os votos dos religiosos cristãos praticantes.

Ora, o aborto no Brasil é materialmente uma realidade. Ademais, é uma prática virtualmente legalizada, inclusive por atos de José Serra quando era ministro da Saúde!

É infame e profundamente vil que Serra utilize o que ele mesmo normatizou como argumento para fazer terrorismo eleitoral, embora não seja surpreendente, vindo de quem vem.

Essa postura não tem paralelo em algumas acusações que se fazem a Serra. Quando se diz, por exemplo, que Serra pretende vender o que resta de patrimônio público é porque ele e o grupo de que fez parte realmente vendeu o que podia na ocasião. E quem acusa não fez o mesmo, portanto não está sujeito ao tu quoque.

As tentativas de suavizar a patifaria terrorista serrista baseiam-se na superficial idéia de que todos são no fundo iguais, embora não sejam. Idéia aparentada a tolices diversas que pretendem desprestigiar a política, afirmar a inexistência de ideologias e reduzir tudo a um discurso gerencial de manual de graduação.