Um belo espetáculo de dança contemporânea, Lua Cambará, do grupo Ária Social, abre o Festival de Inverno de Campina Grande, no reformado Teatro Municipal Severino Cabral.

O tema é de inadequação social, peso de convenções, falta de amor e o penar de almas a vagarem, em resultado da desagregação inevitável. O penar é trágico, por inevitável. O espetáculo é muito bem produzido e envolve sessenta artistas, entre bailarinos, cantores e músicos.

Para mim, de certa forma, a personagem mais interessante é o Teatro Municipal, agora reaberto; talvez o prédio mais bonito de Campina Grande. O teatro compõe uma bela paisagem urbana, harmonioso com o sítio onde localiza-se, algo raríssimo nessa cidade de poucas belezas urbanísticas. Visto desde a Avenida Floriano Peixoto, quer dizer, de cima, está em perspectiva perfeita.

É pena – e estava para falar nisso há tempo – que uma de suas mais belas partes seja alvo de agressão imensa e pouco percebida. Nas costas do teatro, ou seja, na parte que dá para o Parque do Açude Novo, há imenso painel em cerâmica. Este painel tem uma libélula, uma tartaruga, um peixe e uma garça. A obra, como todo o teatro, é tombada, por ser patrimônio artístico.

Embora tombada, foram levantados dois prédios atrás, a impedir a visão completa do belíssimo painel. Absurdo e ilegalidade óbvias, tolerados como se nada estivesse a acontecer, nessa terra de pouco apreço pela beleza e pelas legalidades.

O tombamento impede que se retirem as possibilidades de contemplação da beleza do prédio, mas foi sumariamente desprezado com as construções de dois prédios desprezíveis, contiguamente.

Hoje, se alguém diz isso é obrigado a ouvir o argumento do fato consumado. Por tal argumento, um absurdo ilegal consagra-se porque se fez e pronto. Estão lá os feios e ilegais prédios, deviam ser postos abaixo, mas ficarão onde estão, a impedir a visão do painel bonito, simplesmente porque lá estão.

Ninguém se lembrará desses prédios, excepto por terem enfeado o teatro. Deste último, qualquer pessoa que tenha algum senso estético lembrar-se-a.