Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Marcos Valério na Rua Toneleros. Pequena parte 1.

A única coisa a que o capital esteve ameaçado, no Brasil, foi a dividir um pouco menos selvagenmente seus ganhos. Pouquinho menos selvática divisão e permanência de ganhos no país, isso foi tudo quanto bastou para sentir-se ameaçado e partir para golpes de Estado.

Os golpes foram atentados à mais elementar lógica. Sempre se deram a bem da democracia, suprimindo-a. Puríssima lógica do Estado de exceção esteve e está por trás do golpismo brasileiro. Não repitirei detalhadamente pela milésima vez o exemplo de Lacerda e Castelo, mas devo lembrá-lo.

Incapaz de ganhar a presidência nas urnas, Lacerda foi o golpista mais tenaz desde 1950 até 1964. Fez Getúlio suicidar-se, fez o hábil Juscelino servir-se de Lott, fez o honrado Jango servir-se de seu medo de provocar a guerra civil.

Fez, enfim, Costa e Silva presidente da república e fez sua própria cassação vir à realidade. Carlos Lacerda percebeu que o golpe seria uma ditadura tão rapidamente quanto Jango e Juscelino o perceberam. A diferença era que ele tinha estimulado o golpe e Juscelino apenas aceitado, satisfeito por poder concorrer em 1965. A estas alturas, Jango apenas sofria a depressão do exílio uruguaio.

Lacerda foi cassado por aqueles que ajudou a dar o golpe. Dez anos antes, ele era mais inventivo; levou Getúlio Vargas ao suicídio por meio de acusações inverossímeis, na esteira de uma campanha moralista.O episódio da Rua Toneleros – cheio de nuvens – é de se lembrar, porque esta infâmia levou Getúlio à morte.

Um atentado estranhíssimo resultou na morte do major Rubens Vaz e no ferimento de Carlos Lacerda no pé. Os homens estavam juntos, mas um foi morto com tiros no tórax e outro foi ferido com tiro no pé. Particularmente, creio que Lacerda daria um pé pelo poder…

Envolver Getúlio era a finalidade principal. A versão oficial, construída pela imprensa, dava conta da vontade de Getúlio, por meio de Fortunato, seu chefe de segurança. Nunca houve provas disso, mas provas eram o menos neessário, como hoje.

2 Comments

  1. Sidarta

    Eu era pequeno e lia nas revistas da ocasião , o cruzeiro, as reportagens sobre o atentado a Lacerda. Lembro-me da foto dele caminhando com o pe enfaixado.
    Talvez um Serra de hoje seja um Lacerda de ontem. Valerio pode tambem ter sido uma subrepticia aquisicao recente dos Lacerda’s na luta para tirar Lula&Cia de uma perpetuacao mais longa estragando os seus negocios…. mas nao ha como reconhecer que a turma do Zé nao foi de todo competente na operacao, que todo governo tem que fazer com o congresso para sobreviver (Collor tentou nao dividir o bolo com o congresso….), e se deixou apanhar. Tinham muitos lugares para planejar as operacoes e usaram os mais visados.

    • Andrei Barros Correia

      Acho que o governo atual devia dar proteção integral a Marcos Valério. Claro que alguém atentará contra ele e não será o PT, que já perdeu o que tinha que perder. Ele ruma para ser um Rubens Vaz.
      Esse teatro a que se chama mensalão nada mais é que o prenúncio do golpe à 1954.
      Todos os elementos estão presentes: moralidade de superfície e altamente seletiva, histeria plebéia de uma classe média que, no fundo, nunca se incomodou com corrupção nenhuma.
      A sede, agora sem disfarce algum, de apanhar Lula, custe o que custar.
      Marcos Valério evidentemente sabe de muita coisa, mas de gente que prepara o golpe.

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