A pequena-burguesia brasileira foi levada a crer que é importante, ou seja, que é o centro das atenções, o ponto em torno a que tudo gira, que suas opiniões são importantes e principalmente que ela tem algo relevante a dizer sobre tudo, como sói acontecer com Caetano Veloso. Essa obra de ilusionismo deve-se à imprensa mainstream, naturalmente.

Esse tipo de fantasia ajuda bastante a imprensa, na sua cruzada incessante contra qualquer governo que desconcentre, ainda que pouco, a apropriação de riquezas no Brasil. Além de imbecilizar as classes sociais suas clientes, a imprensa consegue aumentar a já enorme auto-referência. O narcisismo exacerbado, por seu turno, retroalimente a imbecilização.

As classes médias altas acham que ganham pouco dinheiro e querem que o dispêndio com programas sociais para os mais pobres seja-lhe dirigido. Por isso, com raivinha da atual presidenta da República, marcham em ordem unida com as outras duas candidaturas viáveis: a de Marina Silva, financiada pelo banco Itaú, e a de Aécio Neves, da direita de longa data e não aventureira.

Acontece que nenhum dos dois, nem a do Itaú, nem o queridinho da imprensa, suprimirá, caso eleito, dinheiro de programas sociais para entregá-lo às classes médias altas. Esse dinheiro, a parte do que for suprimido, será destinado ao grande capital, nomeadamente por meio do pagamento de juros remuneratórios de títulos públicos.

 Mas isso, que não é tão difícil de perceber para quem pensa sem se colocar como centro do mundo e sem recorrer a veículos de imprensa, não ocorre à maioria da pequena-burguesia e principalmente àqueles que são funcionários públicos. Mais extraordinária é a ausência de memória desta gente, que apagou os registros de como foi tratada no exemplo anterior mais próximo à candidata do Itaú e no exemplo eloquente que foi o governo do patrono do queridinho da imprensa.

Nada obstante, o ódio a que foi conduzida larga parcela da pequena-burguesia pela imprensa brasileira cegou-lhe totalmente a vista e obstou-lhe qualquer rasgo de sensatez, ainda que eventual e rápido. Se é verdade que o exemplo ensina, também é que se lhe esquece rapidamente…

Assim, pensando com o fígado e alguns poucos neurônios, muitos votarão contra si mesmos e contra o maior número, porque acham-se injustiçados por não receberem o que se acham merecedores, como centro do mundo que são.