Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

O jantar de Dilma em Lisboa e a mediocridade ativa da classe média brasileira.

Carlos Lacerda, que sabia ler e escrever bem, estaria entre encantado e estarrecido com os seus atuais rebentos. Encantado, porque a classe média alta brasileira é-lhe à imagem e semelhança no que diz respeito ao moralismo oportunista e à tenacidade anti governista, sempre que se tratar de governo que aumenta o preço dos escravos.

Estarrecido ficaria ao perceber que sua descendência é bastarda no que diz respeito ao nível intelectual. É preciso alguma inteligência e alguma cultura para ser de qualquer lado ativamente, sob pena de repugnar tanto à direita, quanto à esquerda que se alfabetizaram. Da mesma forma, é preciso não ser estúpido para ser ladrão…

Vamos às circunstâncias que deram ao prototípico brasileiro de classe média alta a oportunidade para reproduzir o que a imprensa disse-lhe e achar que pensara por si : a Presidência da República Brasileira tem um avião para os deslocamentos do chefe de Estado. Este avião não tem autonomia para cumprir a rota que vai de Genebra a Havana. A presidente Dilma estava em Davos, na Suiça, para o encontro do grande capital, e ia a Havana, para o encontro dos países sul-americanos.

Esse deslocamento implicava uma paragem. Ela foi feita em Lisboa, o que é mais que óbvio em todo vôo de longo curso que cruzará o Atlântico. Chegada em Lisboa, a comitiva brasileira pernoitaria e sairia no dia seguinte, como aconteceu.

Eis que a histeria propagou-se relativamente aos preços das hospedagens, porque a comitiva da presidente passou a noite em hotel de cinco estrelas, em Lisboa. Qualquer pessoa que não tenha empenhado seus lobos frontais na casa de penhor do fascismo brasileiro sabe que isso é um nada. Qualquer um – e são poucos – dos médio classistas que tenha memória sabe que os presidentes não se hospedaram em pensões no andar de cima de uma casa de fados na Mouraria.

A histeria, por lógica, permite concluir que os histéricos nem têm memória, nem sabem o que é um presidente da república. Além dessas ignorâncias, os histéricos revelam sua vontade íntima de agredir uma governante que cometeu crime: agiu marginalmente a favor dos sempre escravizados, e nada mais.

O lacerdismo mal alfabetizado atinge preferencialmente uma camada social composta de gente que ignora o conflito de interesses – embora acuse no governante que não lhe agrada coisas que consente em si.

A gente que se escandaliza com os preços das diárias dos hotéis em que a presidente hospeda-se gostaria de neles se instalar à custa do Estado, desde que ninguém soubesse. Gostaria de neles se instalar recebendo diárias mesmo no gozo de férias, como fez um campeão da moralidade nacional.

A gente que fez do preço da diária de hotel da presidente da república um assunto recebe descontos na aquisição de automóveis por conta dos cargos que exerce na função pública. Essa gente, quando exerce a profissão médica, aceita prendinhas de viagens à custa de indústrias dos produtos que constarão de suas prescrições.

Essa gente vende-se a acreditar não se ter vendido, o que é atentado duplo contra a honra. Ora, aprendemos que não convém nos vendermos, mas que, se o fizermos, convém entregarmos. O pessoal da classe média alta brasileira vende-se e faz-de-conta que se não vendeu.

O duplo da desonra é vender-se e não entregar. Mas, aí, se for para um alto médio classista brasileiro perceber, é demais…

1 Comment

  1. Aureliano José da Silva

    Esses senadores do PSDB ficam procurando chifre em cabeça de cavalo. Tentam a todo custo desmoralizar o governo que não teve suas origens na elite brasileira. Para quem não acreditava que isso pudesse acontecer, realmente deixa aquela sensação de que alguém está ocupando indevidamente o seu lugar. Vão morrer de caxumba. Quanto mais alfinetam Dilma, mais ela cresce nas pesquisas. Álvaro Dias é um tonto. Queria que Dilma e sua comitiva ficassem hospedados em um albergue de periferia em Lisboa? Procurem o que fazer. Reações dessa natureza demonstram que nível de congresso nós temos.
    O senador Roberto Requião outro dia reclamou que coloram na pauta de votação do Senado, que peso as sacolas dos meninos de colégio podiam suportar para não prejudicar a saúde das crianças. Besteirol.

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