O mundo é dos tolos ou, talvez melhor dizendo, das tolices. É conclusão desagradável, mas seria desonesto chegar a ela e não no dizer.

A tolice mais agressiva com que me deparo é aquela de tomar a parte pelo todo e pensar por associações primárias de coisas que não se implicam necessariamente. Não foi à toa que Ortega y Gasset disse ser mais difícil dissociar idéias que as associar. É mesmo, porque dissociar implica pensar, ao passo que as associações fazem-se arbitrariamente segundo esquemas de pressuposições improváveis.

Lembremos, por exemplo, que se deu às massas o seguinte esquema: Fulano consome substâncias ilícitas; quem consome tais substâncias é inclinado ao delito; logo Fulano é inclinado ao delito. O silogismo é perfeito, mas as premissas não têm qualquer coisa de provável.

No exemplo precedente podem-se perceber várias ausências de significação. O consumo de substâncias legais e ilegais pode levar ao delito; pode-se delinquir independetemente do consumo de qualquer coisa; pode-se delinquir por necessidade, mais que por inclinação. A premissa vai de improvável a absurda, a depender do grau de lucidez a acuidade de quem a analisa.

É fácil associar porque as falsas relações estão dadas, mais que por manipulação das premissas. Trata-se da oferta de uma ementa pre-estabelecida de relações que trazem sua validade implícita, ou seja, de uma grande petição de princípios.

Por exemplo, se eu digo que não gosto de basquetebol o tolo perfeito acha que não gosto de esportes em geral, porque ele toma a parte pelo todo e é escravo da obrigação de dizer – ou sinceramente crer – que gosta de todos os esportes, como se fossem uma coisa única e sem distinções. Ao tolo perfeito foi dada a obrigação de associar automaticamente o gostar de esportes ao gostar de todos os esportes, mesmo que não goste desse ou daquele.

Quando a tolice associativa chega ao terreno minado da religiosidade o perigo é grande. Aqui, estamos na ante-sala do acendimento das fogueiras, sempre pelos motivos mais justos. A massa queima quem ela não compreende. Principia a queimar com as chamas suaves das palavras simplesmente imbecis e finda por fazê-lo em termos físicos.

A ameaça ao homem-massa – o perfeito tolo –  provém não apenas de quem pense, mas de quem não se possa apreender nos poucos modelos associativos de que ele dispõe. Disseram ao perfeito homem-massa que há fórmulas a serem ditas pelos que são como ele; logo, quem as não disser é diferente. Pelo modelo associativo recebido, não repetir as fórmulas é causa de exclusão, portanto dá-lhe um rótulo, que é a primeira tentativa de exclusão.

A segunda exclusão tarda pouco e é física. O tolo triunfará, isso é um axioma.