Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Posso chamar Fernando Henrique Cardoso de patético? Ou de farsante?

Não o posso chamar de ladrão – e não o faço aqui – porque não tenho provas e porque seria um tanto vulgar além da medida. Mas, de patético ou de farsante, posso?

Bem, o sujeito é acadêmico das academicices franco-brasileiras. O termo qualificativo, assim junto, é de significação complexa, pois vai além da mistura dos dois adjetivos gentílicos.

Se fosse só acadêmico francês, na idade dele, poderíamos supor leituras de Levi-Strauss, de Lefebvre, dos franquefurteanos tão aparentemente franceses; poderíamos supor um grande intelectual, contemporâneo de Gilles Deleuze, Félix Guattari, Michel Foucault. Poderíamos até decepcionarmos-nos por não ter resultado em obras como as desses últimos. Poderíamos achar natural uma e outra cópia, que esses franceses copiavam-se muito…

Se fosse só acadêmico brasileiro, com a idade dele, com o prestígio biográfico que tem, poderíamos supor que serviu ao governo de João Goulart, ou até, por precocidade que a grandeza permite imaginar, ao de Juscelino. Mas, não.

Se fosse só o filho do General Leônidas Cardoso e sobrinho do General Felicíssimo Cardoso, Fernando seria mais facilmente apreensível. Quanto a isso, quem quiser procure saber o que os tais Generais achavam de filho e sobrinho, em episódio sobre a campanha O Petróleo é Nosso.

O problema é que Fernando Henrique era e é precisamente um acadêmico franco-brasileiro, assim mesmo com o qualificativo gaulês na frente. Curiosamente, tanto francês, como brasileiro, revelam seu embuste, sua inclinação para a farsa calcada na superficialidade intelectual paralela à extrema objetividade política. Ele é cálculo, e tão bem-feito, que não foi para Harvard ou Yale. Só tinha que ser em Paris!

Muita gente sociologizava e filosofava nas grandes universidades brasileiras, antes do golpe militar e civil de 1964, que instaurou uma ditadura reticente em aceitar o nome. Antes do golpe, essa gente falava e escrevia coisas que seriam repudiadas pelo pessoal que se instalaria no poder, por vinte e um anos. Parte deles ficou no país, parte saiu. Uns, saídos, voltaram logo. Dos que voltaram logo, muitos apegaram-se ao fato de terem saído, após a chamada redemocratização: era uma boa marca a se vender.

Alguns saíram porque podiam, e era mais aprazível viver em Paris ou em Boston que aqui. É difícil imputar certos comportamentos apenas ao cálculo, porque significaria supor inteligências maiores que eles mesmos acreditam ter e fizeram o público crer. Mas, sinais de farsa não faltam.

Fernando Henrique era o sujeito que voltou ao Brasil com a lei de anistia, a lei de auto-anistia do regime ditatorial. Caberia pensar se teria saído obrigado, ou se apenas foi viver em locais mais agradáveis, ou acrescentar ao seu currículo trabalhos em universidades mais famosas. Mas, o principal é que era um retornado e isso contava pontos.

Era, mas deixou de ser, rapidamente. Ele rompe com a imagem do esquerdista que foi banido pela ditadura e assume as vestes do moderno sem coloração ideológica. E, fá-lo antes do tempo em que isso era óbvio politicamente. Nisso, é profundamente sagaz.

A sagacidade na escolha do disfarce revela, todavia, um sujeito sempre pronto à mutação. Ou, talvez, ao retorno sem riscos à posição de sempre ou, quem sabe, revela o que teriam achado pai e tio…

Pois bem, Fernando Henrique foi grande acadêmico franco-brasileiro, foi morador de Paris, é filho e sobrinho de Generais do Exército Brasileiro, foi político que se aproveitou do ter-se exilado e foi Presidente da República. Neste último posto, disse que introduzia o Brasil na modernidade do capitalismo que não precisa de Estado. Vendeu o que deu tempo de vender.

Faz nove anos que Fernando Henrique deixou de ser Presidente da República. Está pelos oitenta anos, pois nasceu em 1931. Podia estar quieto, não pela idade, mas pelo tempo, que são coisas diferentes. Mas, não.

O ex-Presidente escreve um livro chamado A Soma e o Resto, que é uma biografia dele, por ele. Curioso, Henri Lefebvre escreveu uma autobiografia chamada La Somme et le Reste, em 1958. Uma coisa é certa, Fernando Henrique sabe francês…

5 Comments

  1. Severiano Miranda

    Pare meu irmão, pare, que se apertar ele cita Picasso!!!!!!
    “Bons artistas pegam emprestado. Grandes artistas roubam”!!!!!!
    Ai fudeu.

  2. Samuel Xavier

    Disto tudo já sei, nos fez pagar a conta da ditadura, salvou os bancos tirando dinheiro da Previdência Social (PROERD), 08 anos de arroxo salarial e recessão, assim é fácil equilibrar as contas. Deixo claro, que sou apartidário, e esse traste privatizou e vendeu a preço de banana a seus pares.

  3. CLEBER

    QUEM VENDE A PREÇO DE BANANA SÃO OS PTRALHAS, AEROPORTOS QUE VALEM 40 BI OS PTRALHAS VENDEM POR 20 BILHOES AEROPORTOS QUE DEVERIAM VALER 40 BILHOES A PETROBARS ENDIVIDADA ATÉ O PESCOÇO PREVIDENCIA PAGANDO MUITO PIOR OS APOSENTANDOS DO NO TEMPO DO FHC, CONTINUA, DIVIDA INTERNA DE 700 BILHOES HOJE 2,2 TRILHOES, SAUDE DE PESSIMA QUALIDADE, EU COMO MEDICO NÃO VI ISSO NO TEMPO DO SERRA MINISTRO! OU SEJA ESQUERDA PUERIL E INFANTIL! QUISERA TODOS PRESIDENTES TEREM A CULTURA DE UM FHC!

    • Andrei Barros Correia

      Cléber,

      Vosso comentário foi aprovado porque, embora superficial e repleto de erros factuais, não chega ao ponto de corte aqui adotado por níveis baixíssimos. Ou seja, fosse um pouco pior e teria sido glosado.

      Aeroportos não foram vendidos; foram concedidos por prazo certo e obtiveram-se ágios extraordinários nos lances.

      A Petrobrás valia, em mercado bursátil, em 2002, 15 bilhões. Hoje, ela vale 214 bilhões. Seria eu tão tolo quanto os meios que o instruem se perdesse tempo a comnetar esta pequenina diferença.

      Ao aumento da dívida interna corresponde a extinção de externa. Três neurônios em conexão permitem saber que dever na própria moeda é muitíssimo menos arriscado que o fazer em moeda estrangeira. Sem mais, porque revelas semi analfabetismo econômico.

      A saúde melhorou muito, notadamente com maior oferta de assistência mediante a importação de médicos que pensam mais nas pessoas que nos honorários. Compreendo a raiva corporativa…

  4. Severiano Miranda

    Impressionante ressuscitar esse post assim… Tinha que ser ano de eleição…
    E os comentários… Puffffff
    =D

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