Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Qual a aposta de Folha, Globo, Abril e congêneres? É suicídio ou golpe?

Estive lendo uma postagem de Eduardo Guimarães, no blogue Cidadania, que propõe uma questão mais sutil que parece à primeira vista. Ele parte de premissas sólidas, nomeadamente que: meios de comunicação como esses do título fazem campanha franca e agressiva para o candidato José Serra; este candidato, exceto se houver uma surpresa imensa, perderá as presidenciais de outubro próximo, por larga margem; os meios de comunicação mencionados não trabalham para perder mais credibilidade, leitores e dinheiro.

Assumindo-se as três premissas acima, parece totalmente ilógica a postura dessas corporações mediáticas, pois apostam no perdedor claro e, ademais, agridem até criminosamente os futuros vencedores. Isso lhes trará uma perda de respeitabilidade – da pouca que ainda lhes resta – desastrosa para sua própria existência.

Seria de esperar-se que ante a ineficácia de sua campanha retornassem ao jornalismo, ou seja, que deixassem de vender suposições ou puras mentiras como notícias e que deixassem de produzir editorias de propaganda à guisa de darem opiniões isentas. Mas, não é isso que se observa, pois seguem aprofundando sua atuação de propagandistas políticos.

Segundo uma lógica mais ortodoxa, estão a estimular que o próximo governo aja no sentido de democratizar a imprensa, de buscar a punição a quanto configurou crimes e ofensas indenizáveis à honra de pessoas e a fazer os concessionários públicos agirem como tal. Quer dizer, estimulam situações que serão fortemente contrárias aos seus próprios interesses.

Cometem suicídio? Buscam a própria falência? Não é razoável supor isso.

As coisas ficam mais claras – e mais logicamente compreensíveis – se estiverem a apostar em algo mais. Se estiverem a apostar em um resultado final independente daquele apurado na abertura das urnas. Nesse panorama, sua atuação encontra uma motivação logicamente perceptível, pois é instrumental ao golpe.

6 Comments

  1. Julinho da Adelaide

    Sou obrigado a acompanhar essa tese. Ainda mais se observarmos que serra já foi cristianizado pela própria mídia. Se ainda sonhassem em vencer eleições não o fariam. A cristianização do serra serve a outro princípio. Serve para dizer que quem ganhou a eleição não foi o pt. Não foi a comparação entre estagnação e crescimento. Não foi a comparação entre concentração genocida e distribuição de renda. A eles não interessa este debate. Querem vender aos cachorros-loucos a tese de que serra e os marketeiros perderam a eleição. Não souberam explicar ao “povo ignorante” como o governo fhc foi maravilhoso. Que o resultado foi um “efeito colateral” desta tal democracia. Querem o golpe.

  2. Sidarta

    Excelente discussão.
    A tese da preparação do golpe é factível mas acho mais provável que partam para “kennedizar” Dilma, ou seja, que atentem contra a sua vida e a coisa depois fique com o “negociável” Michel Temer.
    Pode ser que isso signifique se começar a queimar Alcorões mas essa turma, no desespero pelo poder a qualquer custo, pode optar por botar fogo no circo e ver o incêndio desde Miami.

  3. Pedro

    Creio que perceberam que ao menos grande parte dos consumidores gosta dessa postura. A Veja, por exemplo, satisfaz uma grande parcela da classe média que realmente acha que Lula continuou o que FHC fez na economia, que o Brasil está virando uma república bolivariana (=inferno na Terra), etc.
    Não bastasse isso, há a questão das verbas de propaganda governamental. Vi reportagem na Carta Capital dando conta de que, no tempo de FHC, as verbas eram concentradas quase todas nesses veículos do título do post. No governo de Lula, a distribuição seria mais equânime. Ou seja, se Dilma ganhar, o PIG continuar a receber sua parcela; se Serra ganhar, o PIG aumenta sua parcela. Não tem nada a perder, pois. Isso não invalida e talvez até reforce a hipótese do golpe.

  4. andrei barros correia

    Julinho,

    Realmente, eles começaram a afastar-se da responsabilidade quanto à derrota, no que me parece falta de caráter até, pois são todos do mesmo lado.

    Todavia continuam a baixar o nível das acusações contra o Presidente e a candidata Dilma e a fazer acusações improváveis. Isso serve ao golpe.

  5. andrei barros correia

    Sidarta,

    Não duvido que partam para a eliminação física, mas apenas se os meios tradicionais não resultarem.

    Acho que essa gente está calculando mal a possibilidade de reações populares.

  6. andrei barros correia

    Pedro,

    Essa percepção, tenho-na também, de que há muito mercado nas classes médias para um direitismo raivoso, intelectualmente rasteiro, profundamente anti-liberal e, principalmente, mentiroso.

    Todavia, a desproporção enorme nas matérias supostamente jornalísticas começa a fazer estragos. Há o sujeito que é direitista bem alfabetizado, liberal, que não flerta com a desonestidade como meio de fazer política e imprensa.

    E esses afastam-se de certos meios. Casos como esse dos sigilos são uma empulhação muito grande até por padrões brasileiros.

    Não há o menor traço de autoria da campanha com qualquer quebra de sigilo, o que seria inclusive burro e desnecessário. Nisso, a imprensa faz ilações criminosas.

    O sujeito relativamente bem informado, seja direita, centro, esquerda ou o escambau, sabe que há uma festa de quebra de sigilos há décadas.

    E eles sabem que uma campanha eleitoral não ia quebrar sigilo com despachante pé-duro, em esquema de faroeste macarrônico. São desonestos na cobertura, portanto.

    A distribuição das verbas, como bem apontaste, democratizou-se um pouco. Mas a imprensa sabe que a eleição está perdida, então não faz sentido aumentar a indisposição com quem vai ganhar. Aí está o ponto.

    Realmente, ainda como disseste, Lula foi muito complacente com a distribuição desse dinheiro, pois modificou pouca coisa. Ele poderia ter sido mais rigoroso, não apenas com verbas publicitárias, pois esse pessoal não sobrevive a uma auditoria séria da Fazenda.

    É por isso que me parece haver algum outro trabalho por trás desse acirramento aparentemente irracional. Perdido já está, mas sempre fazem o acordo depois, para manter alguma coisa.

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