Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

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Arrogância com ignorância. Três norte-americanos bêbados na Índia.

Arrogância e ignorância juntas resultam no seguinte: três norte-americanos à volta dos 40 anos estavam no estado indiano de Tamil Nadu.

Encheram a cara, na comemoração da passagem de ano, e julgaram estar em algum local de gente permissiva e, principalmente, submissa. Se estivessem no Brasil, teria dado certo, porque reunimos essas duas qualidades em altas doses.

Bem, puseram-se a assediar as mulheres que passavam na rua e a tentar agarra-las e beija-las à força.

Eles, em geral, têm por hábito ignorar completamente os costumes dos países que visitam e acreditam serem recebidos como dádivas a serem compreendidas. Mais que isso, pretendem-se destinatários de toda complacência e reputam o mundo não ocidental um grande bordel.

O resultado: foram espancados por pessoas indignadas com a indignidade e, depois, presos…

Desintegração dos Estados Unidos da América.

Proposições inteligentes, e carregadas de obviedade, portanto,  costumam esbarrar em obstáculo trivial: querem ser profecias e daquelas com data certa de acontecimento. Como nunca ocorrem na data que o profeta anunciou, ficam desacreditadas como se fossem bobagens. Mas, acontecem.

Um professor russo, de nome Panarin, disse, em 2009, que os EUA iriam desintegrar-se em 2010. Ele teria começado a pensar nisso em 1998, quando surpreendeu-se em perceber tendências à desagregação. Alinha que os colapsos econômico e moral e a imigração levarão a guerras civis fraticidas. Não sei, realmente, porque Panarin fez a bobagem de falar em 2010, quando podia ter silenciado quanto a datas que, afinal, pouco ou nada importam.

Essa idéia não é nova, como não costumam ser novas as grandes idéias. Elas são, no geral dos casos, o resultado da reunião de muitas informações aparentemente dispersas e a percepção da aproximação do episódio. As profecias, como as previsões sísmicas, ganham precisão na razão direta da proximidade do profetizado.

O tal professor diz que resultarão dessas guerras quatro estados: um da Califórnia, um do Texas, um do meio e norte e um do Atlântico. Afirma que o Alaska voltará a domínio russo e que o estado do Atlântico integrará a União Europeia.

É quase irresistível apontar que o profetizador tem à disposição um modelo relativamente semelhante, que ele deve ter usado mesmo, que é a desintegração do império romano. Alguém mais apressado pode objetar que o modelo não serve, porque Roma ter-se-ia desintegrado de fora para dentro. Isso é bastante discutível, porque os bárbaros estavam dentro do Império e há muito.

A desintegração romana deu origem à Europa e ao Norte da África, divididos em Estados. E deu lugar à formação de um império bizantino, que nada mais era que uma enorme Grécia organizada a partir da ortodoxia.

Essa desintegração dos EUA seria muito mais interessante para o mundo que seu declínio unido e lento. Primeiramente, se ela se desse a partir de guerras civis, como anunciou o professor, seriam evitadas guerras externas, que certamente ocorrerão se o país decair unido. Seria melhor, principalmente para os países habitualmente agredidos e também para os vizinhos das Américas.

Evitaria a difusão de certo fundamentalismo neo-pentecostal, porque estariam ocupados em brigarem internamente e lidarem com o próprio empobrecimento. Ou seja, os inimigos do mundo seriam fracionados em inimigos entre si mesmos.

Um problema grande seria a partilha dos arsenais nucleares, que provavelmente atenderia simplesmente a critérios geográficos, já que as bombas estão por todo o território. Outro problema grande seria o fim do dólar como moeda de reserva mundial, porque um dos estados resultantes não teria condições de manter tal moeda. Do ponto de vista do comércio mundial, as coisas não seriam tão complicadas quanto deverão ser com um cenário de decadência unificada, pois o consumo tende a reduzir-se de qualquer forma.

O certo é que se isso acontece assim, no cenário das guerras civis, deve levar muito tempo e esse tempo será de enorme desarranjo no mundo todo, com a fuga do dólar e o medo que a coisa torne-se em ataques para todos os lados, aleatoriamente…

Obama não resistirá.

A questão dos limites do endividamento público norte-americano são muito reveladoras do nível de avidez da banca. Que os limites devem ser aumentados, é algo quase evidente e simples. A dívida norte-americana é imensa, em termos absolutos, mas não é tão significativa em termos relativos. Há estados que devem muitíssimo mais, como proporção de seus PIBs.

Ninguém minimamente razoável acreditou algum dia que as promessas de pagamento são pagáveis, caso exigidas. Elas são garantidas por inércia e urânio. Dívidas assim não são para serem pagas, o que é óbvio quando lembramos que o devedor imprime a moeda em que as restantes dívidas são denominadas.

Assim, o estado norte-americano tem a enorme vantagem da moeda, embora seja aprisionado pelos credores, que escolhem quanto emprestam e a quê preço. A dívida pública é um programa de transferência de rendas da população para meia dúzia de credores, bancos e outros estados.

Se os republicanos levarem a chantagem ao limite e não recuarem e se Obama, por seu lado, também não recuar, o mundo será outro, depois do calote oficial do que sempre se soube impagável. Seria a quebradeira generalizada, o que me parece uma oportunidade histórica rara.

A questão gira em torno da divisão da conta. Obama quer tributar mais os mais ricos, que há muito não pagam impostos nos EUA. Os republicanos aceitam trocar a aprovação do limite de endividamento pela extinção da pouca assistência social que ainda há no país. Não aceitam qualquer aumento de tributação nas camadas elevadas.

Eles podem levar o mundo à queda financeira – e ao imenso tumulto inicial que haveria – por insistirem na consagração da imunidade tributária absoluta dos muito ricos que, diga-se, já são quase imunes.

Claro que Obama irá recuar, porque não é imbecil e sabe que o destino de quem não recua frente aos interesse dos oito, dez ou vinte é saber finalmente a resposta à questão atormentadora da humanidade: há sobrevida? E claro que vastas massas cada vez mais pobres de norte-americanos pagarão a conta da sucumbência ampla, geral e irrestrita aos interesses financeiros.

O que ainda me chama bastante atenção no caso norte-americano, principalmente pelas imensas proporções que as coisas têm por lá, é a incapacidade de reação popular. Sim, na Europa impõem-se medidas similares, ou seja, em função exclusiva dos interesses de quatro ou cinco banqueiros, mas os pagadores ainda conseguem perceber que estão sendo obrigados a baixarem as calças.

Nos EUA, o nível de envolvimento político e de detenção de informações – além da capacidade de associa-las e dissocia-las – é muito baixo. O fulano reduzido à miséria, que morrerá sem tratamento porque não o pode pagar, ainda fará esforços para julgar-se culpado por tudo, ele, que foi um perdedor, um vagabundo naquele sistema maravilhosamente bem-disposto, que premia os fortes e capazes.

Ele nunca perceberá que não há fortes e capazes, senão os que surfam a inércia da onda social da acumulação. Que isso tudo era discurso viável quando as migalhas abundavam. E ele ficou refém inescapável dessa prisão discursiva e vai, ou penalizar-se, ou tornar-se um vândalo afogado em bourbon ordinário do Tennessee.

Quando essa bomba explodir, não sei se ainda haverá alguém mais razoável, entre os que decidem mesmo, o inner circle, que perceba a única solução, terrível mas a única: algum fascismo. Sim, porque é a forma de controle que a direita tem para massas muito empobrecidas, ignorantes e dispersas. Se não for um fascismo, será a fragmentação.

Precisamos de uma imensa falência.

Precisamos de uma imensa falência mundial, de hordas de novos pobres, com fome. De banqueiros escondidos atrás de muros de dez metros, guardados por soldados.

Precisamos deixar de meias medidas e de idéias imbecis como essas de acalmar mercados. Deixar a crença na possibilidade de eternamente remendar a merda e deixa-la sempre a mesma merda.

Deixar de acreditar na possibilidade de fazer esse sistema ser razoavelzinho, com uma e outra esmolinha e as bestas dos políticos falando ao vento o que seus patrões banqueiros mandaram-nos falarem.

Precisamos de uma catarse, de afundar até o fim do poço, até perder-se qualquer traço de cordialidade, até matar para comer. Até deixar de acreditar em acordos, em coisas razoáveis.

Era bom que o congresso norte-americano fosse até ao final na sua chantagenzinha estúpida e não aprovasse o aumento do endividamento deles. Ou seja, que provocasse a quebra imediata, que se espalharia por todo o mundo, acabaria com referências, medidas de valor, com tudo.

Seria o rompimento de um abscesso, a jorrar pus e aliviar a infecção…

Soldados dos EUA brincam com cadáveres de afegãos!

Não feche os olhos, olhe! É feio como nós somos feios internamente. Não é só matar, é divertir-se a matar e ter o cuidado de registrar a diversão. Não é novidade, mas não deixa de ser escandaloso apenas por faltar originalidade.

Eles não compreendem porque são vastamente odiados. Não compreendem que já se percebeu a profunda hipocrisia de seus discursos de direitos humanos ou democracia ou qualquer outra merda destas.

Adiante, o exército norte-americano levando o bem-estar, a democracia, os direitos humanos e uma mensagem de paz aos afegãos:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Um brasileiro em Washington, nos anos 70.

Por Sidarta

 

Sou mais afro-brasileiro do que judeu iberico brasileiro. Por conta disso, nos tempos em que estudei e estagiei nos USA não era preto nem branco… não era nada, só um latinoamericano pretensamente mais bem educado social e tecnicamente falando. Isso facilitou, de certa maneira, a não obrigação de tentar ser “compliant” com algum grupo racial ou hierarquicamente dominante no trabalho e poder ver que a democracia racial existia obrigatoriarmente dentro do trabalho mas só até terminar o expediente do dia.

Na primeira semana em Washington fui colocado junto com outros brasileiros, vietnamitas, salvadorenhos e outro “subdesarrollados” para “attent a lecture” sobre como não se sentir hostilizado pelas exibiçoes dos pretos nas ruas, principalmente com os latinos. Não tinha nenhum preto puro, aluno ou instrutor, na sala: “Andem sempre bem vestidos, sejam cordiais e não encarem os pretos direto nos olhos; voces não são americanos e eles não se sentem mais compelidos a os respeitar”. Disseram também que os cachorros americanos nas casas latiam pouco e raramente partiam para morder … mas que deixassemos que eles nos cheirassem.

Lendo atualmente um livro sobre o processo de ascençao (briga de foice) dos militares aos altos postos das forças armadas americanas, junto com parlamentares que são assessorados pelos militares e que agem junto aos fabricantes de armas, deparei-me com uma expressão dita por um almirante branco sobre um almirante preto de que, “desde a segunda guerra, os objetivos dos militares pretos não tinham mudado mas que agora eles estavam sabendo se aproveitar melhor de ONG’s, legislações contra o racismo, quotas e acusações de discriminação para alçarem vôos mais altos nos escalões militares e politicos”.

O alto comando militar americano adora receber ordem para matar mas parece gostar mais quando essas ordens saõ dadas por um presidente branco. Vai ser dificil mesmo para Obama ser o que não é ou não ser o que é…

Penso que é a rearticulação dos republicanos em cima das oscilações e do evidente oportunismo de Obama.

Obama não passará de quatro anos.

Bye

 

Obama elegeu-se presidente dos EUA a partir de um discurso de renovação e rompimento com políticas levadas a cabo polo antecessor Bush. Evidentemente, não se tratava de rompimento abrupto, nem profundo, porque isso não é possível na democracia de modelo ateniense que vivem os EUA, a democracia da Boulé, de quatrocentas famílias.

Tratava-se de suavizar a extrema truculência dos anos Bush, tarefa fácil considerando-se que os limites do razoável em mentira, violência, captura do Estado por financistas, petroleiras e industriais bélicos, e falta de sutileza haviam sido rompidos por larga margem.

Tratava-se de estancar o processo de empobrecimento do norte-americano médio, prover-lhe alguma ajuda estatal, como a saúde, por exemplo. Tratava-se de impor alguma regra aos mercados financeiros, apenas o suficiente para evitar que leve o mundo à ruína, especulando com dinheiro de mentira.

Tratava-se de reduzir a beligerância e as agressões perpetradas em todo o globo, contra quem não se pode defender, feitas para roubar recursos naturais e dar fluxo de caixa ao complexo industrial-militar.

Tratava-se de ser menos unilateral e imperialista, porque essa postura vai, a pouco e pouco, tornando-se inviável e profundamente antipática. De dar um pouco de inteligência às relações internacionais, reduzindo-se a percepção de arrogância desmedida.

Tratava-se de harmonizar o discurso às práticas e reduzir a imensa percepção de hipocrisia norte-americana no que se refere aos direitos humanos. Como um país sai arrogantemente a gritar acusações de violações contra os outros – e a matá-los por isso – e mantém um campo de concentração repleto de presos arbitrariamente, sem direito de defesa, sem acusação formal?

Essas suavizações não foram realizadas. Obama sentou-se no colo de Wall Street, do complexo industrial-militar, das petrolíferas. Deixou tudo como estava e piorou outras, como no caso da transferência de dinheiro de toda a população para os bancos de investimentos que, inclusive, não deixaram de pagar bônus milionários aos seus gestores.

Ora, para fazer isso, ou melhor, para não fazer o que prometeu e esperava-se, havia o candidato republicano! Obama guia-se pelo roteiro perfeito da auto-destruição política.

Para os que confiaram e puseram suas esperanças nele, é um traidor. Para os que o cooptaram é um que se entregou, como muitos, ao depois e, por isso, não é realmente um deles. Ficará em apenas um mandato, porque esse programa tem como donos verdadeiros os republicanos.

Todavia, essa continuidade vai acelerar a decadência norte-americana, que será profundamente dramática. Vai implicar em cada vez mais guerras, para dar vazão à produção bélica e para obter por saque o que não se obtém mais por produção. Vai aprofundar o fosso que separa as práticas dos discursos, ou seja, vai aprofundar a hipocrisia.

Não tenho muitas dúvidas de que terão que voltar-se para o Sul, ou seja, para a América do Sul. Mas, não será para simpatias e relações simétricas. Será para roubar-nos, no caso dos brasileiros, o petróleo, os minérios sólidos, a força de trabalho. Claro que o leitor de revista Veja – escravo cego e voluntário – dirá que isso é teoria da conspiração, mas é o futuro cristalino.

Zapatero e Clinton na encruzilhada dos discursos.

José Luis Rodríguez Zapatero, Presidente de Governo da Espanha, disse que apoia uma intervenção militar na Líbia, desde que haja respaldo em Resolução do Conselho da ONU e apoio da Liga Árabe, para não parecer que estão apenas a querer roubar o petróleo. E para não parecer que se trata de neocolonialismo.

Ora, mas é precisamente disso que se trata, de garantir o petróleo e de continuar o colonialismo com tons suaves. Não se cuida de evitar morticínios ou violações a coisa alguma, porque eles acontecem diariamente em locais pobres de recursos e não despertam qualquer atenção.

A questão é que os limites estão muito próximos e invocar as desculpas formais habituais pode ser invocar o nada. Resoluções da ONU há delas para todos os gôstos e inclinações, para justificar o que se queira, conforme os interesses de quem as podem propor e, principalmente, segundo os de quem as podem vetar.

A Liga Árabe existe, ainda? É aquela de Mubarak e de meia dúzia de reis bancados por interesses não-árabes? É isso o que Zapatero acha justificação suficiente? Quantas pessoas de verdade, no Norte da África e na Península Arábica estão preocupadas com Resoluções da ONU ou papéis de Mubaraks e Al Sauds?

A Senhora Rodham Clinton ofereceu, recentemente, um comentário mais interessante que a simples desconexão formal de Zapatero. Este último deixou perceber o real motivo no que dizia ser a aparência a ser evitada. A primeira partiu para a análise errada, para a posição de recomendar aumento da dose de um remédio que já compromete o paciente de morte.

Hilary Clinton disse que os EUA estão perdendo a comunicação. Pode ser, mas não será por falta de bombardeio mediático e, sim por esgotamento da fórmula. Ela disse com a comunicação o que alguns franceses diziam com a manteiga: se algum prato não está ideal, mais manteiga.

Ela, a Sra. Clinton, está errada. Eles podem estar a perder prestígio e respeitabilidade, mas não é por falta de comunicações. Os EUA e a Europa monopolizam as comunicações – sejam elas jornalísticas, sejam culturais ou de entretenimento – para que sempre veiculem mensagens favoráveis a si.

Até os aparentes contrapontos são aqueles permitidos e escolhidos para manter-se uma coleção previsível de objeções binárias. Objeta-se nos limites propostos pelos próprios objetados. Faz-se oposição ao imperialismo nos termos em que os imperialistas acham divertido.

Ocorre que a realidade, vez por outra, revela-se mais forte que a aparência. Imagine-se, por exemplo, que décadas de pobreza em um país rico em petróleo um dia fazem as pessoas ficarem com raiva. E mais litros de tinta ou mais tempo de falação em televisões não adiantarão mais. É uma questão de aliviar-se a pressão, mais que de tentar escamotea-la.

Os EUA perdem prestígio no mundo porque são, objetivamente, os maiores agressores que há no globo. Por conta de suas necessidades internas, sejam de fluxo financeiro para seu complexo industrial-militar, seja para suprir suas necessidades de consumo, distribuem tiros e bombas como nunca se fez.

Assassinam em qualquer parte, aleatoriamente. Iniciam guerras que somente podem trazer lucros a quem vende armas. Criam conflitos antes inexistentes apenas para desviar a atenção para algum escândalo de política interna. São, enfim, um elefante desgovernado, que podem liquidar com vastas quantidades de pessoas ao sabor de uma pisadela aqui ou acolá.

Porém não conseguem livrar-se das explicações dentro de seu próprio modelo. Com relação às revoltas que se alastram desde o noroeste da África até às arábias, insistem nessa tolice de facebook e twitter, como se todos estivessem conectados a essas coisas. Como se os seus meios de inatividade confortável fossem os grandes intermediários das ações dos outros.

Ora, quem estava na rua, aos gritos, a trocar tiros, a incendiar carros, não estava em casa a escrever mensagens de 140 caracteres! Se isso fosse verdade – essa estória de revolução graças à internet – todas as anteriores teriam se devido ao papel! As revoltas devem-se às insatisfações, não aos meios destas propagarem-se.

Acontece que o paciente vai continuar a tomar os mesmos remédios, em doses cambiantes, até morrer ou curar-se por ele mesmo. Na verdade, os médicos não podem ver a doença, porque então teriam somente duas opções: rasgar suas licenças de médicos ou aceitarem-se assassinos.

 

Alegoria da decadência norte-americana.

Texto originalmente publicado aqui, em 27 de abril de 2010, sob o despropositado nome de A morte de uma estrela.

Dois processos de morte distinguem-se, conforme sejam as estrelas grandes ou pequenas. Tanto as grandes, quanto as pequenas, vivem da fusão de núcleos leves, de hidrogênio e de sua variante, o hélio. Ambos são muito longos, na escala de biliões de anos, e têm desfechos grandiosos. Em comum, têm na raiz o esgotamento do combustível, mas as diferenças quantitativas implicam nas qualitativas.

Uma estrela pequena, como o sol que vemos, morre a caminho de tornar-se uma anã branca ou uma anã negra. No início do esgotamento do seu hidrogênio fundível, seu núcleo começará a contrair-se, sob a ação da enorme gravidade, mas ainda haverá fusão de hidrogênio nas camadas mais exteriores. Essa contração do núcleo acarretará um aumento da temperatura que se refletirá também nas porções externas e acarretará uma expansão da estrela.

Em pleno processo de morte, ela se expandirá, tornando-se uma gigante vermelha. As temperaturas do núcleo estarão tão elevadas que o hélio transformar-se-á em carbono. Então, acabando-se o hélio, o núcleo começará a esfriar e as camadas externas a se deslocarem ainda mais, terminando por explodirem numa vasta ejecção de matéria, que formará uma nebulosa de planetas.

Uma estrela grande inicia seu fim semelhantemente a uma pequena. O núcleo vai ficando sem hidrogênio e o hélio vai se transformando em carbono, por fusão, em decorrência das elevadíssimas temperaturas e pressões. Mas, aqui, após o esgotamento hélio, o processo continua, porque as massas são enormes. A fusão segue seu curso e o carbono torna-se em elementos mais pesados, como oxigênio, silício, magnésio, enxofre e ferro.

Tornado o núcleo de ferro, a fusão não é mais possível e, sob o efeito da gravidade – enorme à vista da massa e da densidade – ele se contrai tão violentamente que prótons e elétrons tornam-se em nêutrons. Essa contração rápida gera um tremendo aquecimento e a precipitação das camadas exteriores sobre o núcleo que, então, se aquece muito e explode, criando uma supernova. A ejeção de matéria é vastíssima e pode dar lugar à formação de outras estrelas. O que resta do núcleo pode tornar-se uma estrela de nêutrons, ou um buraco negro, conforme a quantidade de matéria.

Analogia, etimologicamente, é a falta de lógica ou, melhor dizendo, a negação dela. Forma-se com a partícula negativa grega a e a também grega lógica. Consagrou-se utilizar analogia para comparação entre situações distintas mas, sob algum aspecto, similares, visando-se a realçar pontos comuns entre o que não obedece a relações de causa e efeito. Não é um formato de argumento, portanto, limitando-se a ser um recurso comparativo.

Um domínio político-econômico de uma nação, ou grupo social assemelhado, morre, como morrem as pessoas, os bichos, as árvores e as estrelas. E pode morrer de maneiras diferentes, lançar matéria cultural e econômica de formas diferentes, manter ao final um núcleo maior ou menor.

O domínio norte-americano começa a morrer e interessa saber como o fará, porque esse processo pode destruir muitos vizinhos, mais e menos próximos ao moribundo de longa agonia. Morre porque a teoria que a vida não se apressa a confirmar – que a vida imita a arte, não as teses – finda por ser bastante exata até para teoria. Esse suporte teórico não foi propriamente construído por indução, mas por dedução. Aqui deixo claro que a mania de comparar os EUA à Roma do final da República e do período Imperial não me guiou, embora seja mais uma de várias analogias possíveis. Ou seja, um recurso comparativo, sem lógicas, que leva a muitas coisas plausíveis e outras nem tanto.

Não acabará de morrer amanhã, nem depois de amanhã, nem de cem anos, mas morre. As condições para ser a maior potência mundial são compreensíveis a partir de quanta pouca ciência econômica e social se disponha: ter a dianteira da inovação tecnológica, ter a moeda de conversão universal e, por conseguinte, a possibilidade de importar poupança, e a maior delas, poder evitar o desconto das promissórias.

O mesmo suporte teórico avaliza a percepção do início do processo de morte. Perder a dianteira da inovação tecnológica, perder o monopólio do meio de troca e ver a possibilidade de, no limite, evitar o desconto das promissórias ser difundido. Ora, o suporte teórico econômico ficou desacreditado não porque a teoria seja ruim, mas porque a prática não se dava segundo seus postulados, embora isso fosse constantemente afirmado. A teoria era e é boa.

Não é possível gastar ilimitadamente, nem investir também sem limites a partir de poupança externa. Assim como não é possível evitar inflação mantendo os aumentos da renda do trabalho inferiores aos aumentos de produtividade indeterminadamente, a partir da apropriação das produtividades crescentes de terceiros. Um dia, a conta deve ser feita segundo parâmetros ortodoxos.

Quando a falta de hidrogênio e a concentração do núcleo forem muito grandes, as explosões começarão e atingirão quem está mais perto, a América do Sul e a Ásia que ainda não gira totalmente em torno à China. Esses viverão grandes desestabilizações, políticas e econômicas, passearão da extrema direita à extrema esquerda, irão da falência à riqueza, em uma confusão tremenda.

As analogias com a morte do Império Romano são, sim, significativas, embora não me pareçam o protótipo do que pode acontecer. Roma, acabando-se, continuou na Grécia, como tinha, de certa forma, nascido dela. Bizâncio continuou por mil anos, falsa herdeira de Roma, mas na verdade um império grego meio orientalizado e meio eslavo, afinal. E a Europa não romana enriqueceu nos despojos romanos. A confusão não foi pouca, como sabe quem se acostumou com o termo idade média, até suave frente ao também comum idade das trevas.

Acontece que a China não é Bizâncio e se fosse não seria qualquer alento em comparação analógica. Pois Bizâncio tornou-se em outra coisa e não organizou a situação próxima ao morrente Império Romano. Nós, na América do Sul, seremos golpeados por jatos de matéria e confusão cultural resultantes dessa morte lenta e afinal explosiva, que nenhum outro centro de poder poderá evitar. A Europa, essa resolverá o problema com um pouco de empobrecimento, o que é traumático, mas menos que a confusão de quem ainda é pobre.

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