É comum haver surpresa com a cooptação dos intelectuais provenientes da academia pelos think tanks mantidos pelo capital financeiro deslocalizado. Mas, esta cooptação não deveria surpreender, quando se percebem os locais social e psíquico do intelectual de academia. É terreno propício, desde a origem, na verdade.

Por causa das eleições presidenciais francesas, o assunto volta-me à mente. O que um dia foi partido socialista, hoje é um disfarce de partido, dominado por prepostos do sistema financeiro. Alguns migraram para formação de agremiações mais airosas ainda, daquelas que se dizem não agremiações e veículos de um novo todo feito de velho.

Os políticos precisam de discursos estruturados, articulados a uma narrativa maior, que não podem perder tempo a elaborar. Há quem desempenhe esta tarefa de compor os discurso e a narrativa, evidentemente, e que por isto receba paga, também evidentemente. Esses são os intelectuais da academia, que têm a vantagem de parecerem desinteressados.

Mais que serem os sujeitos capazes de estruturar a narrativa, eles são um meio de a estruturar a partir do mito da imparcialidade, porque são científicos. A narrativa política precisou tornar-se negativa da política, fazendo-se forte na ausência de escolhas, ao invés de na sua substância real, que são as escolhas. O impossível de ser diferente entrou nos discursos políticos, por meio das invariáveis teses econômicas e sociais.

O produto oferecido pelo intelectual de academia é axiomático e parcial, por mais que tenha camadas de falsa dialética e de considerações de opostos ou diferentes. A tese serve a um propósito e este é, na imensa maioria das vezes, de concentrar mais e mais a apropriação do que é produzido.

O intelectual de academia – e não precisa provir da ENA – é, antes de tudo, um ser vaidoso e certo de estar a ser constantemente injustiçado no que concerne ao reconhecimento do seu talento e capacidades. Essas características fazem da maioria penas de aluguel potenciais, munidas, sim, de boas capacidades discursivas.

É frequente o encontro dos banqueiros, dos patrões de imprensa e dos intelectuais de academia ávidos por jantares bons…