Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

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O golpe será no congresso; seu líder é José Serra.

Dos líderes de oposição aos governos nacionalistas recentes o mais capaz é José Serra. Não porque ele seja viável eleitoralmente em nível nacional, mas porque é muito laborioso, tem interlocução direta com os interesses externos e com os chefes da imprensa mainstream brasileira. Ele é o político mais maquiavélico que se viu nos últimos quarenta anos, o que é um elogio.

É óbvia a articulação mediática-judicial para dar as condições do golpe de Estado que deporá a Presidenta Dilma. Por cálculo, percebeu-se o risco da deposição puramente judicial num colegiado. Tanto pode haver minorias contrárias, quanto pode haver conflitos e constrangimentos decorrentes do expurgo baseado em nada.

Soma-se outro inconveniente à deposição por meio de tribunal: quem assume depois do golpe. Nessa modalidade, as hipóteses são muitas, a dependerem do momento e, o pior, a dependerem muitas vezes de nada suficientemente previsível. Hoje, a imprensa conseguiu conduzir as camadas médias a tal loucura, que eleições podem ser indesejáveis, na medida em que, por exemplo, ex-militar nazista do Rio de Janeiro é viável, ambientalista criacionista do Acre é viável.

No início do planejamento golpista, adotou-se uma estratégia muito sagaz, segundo a qual todas as linhas se tentariam e seriam auxiliares umas das outras. Aproximado o desfecho, a coisa seguiria a que se tivesse mostrado mais viável e menos custosa.

O conúbio judicial-mediático foi essencial, mas não como o algoz que empunhará o machado a decapitar a Presidenta. A famosa operação lava-jato, conduzida com tantas violações a garantias constitucionais quanto garantias há na constituição, serviu a muito mais inteligente propósito que envolver pessoas do PT ou mesmo sequestrar por um dia o ex-Presidente Lula.

A lava-jato envolveu quase todo o PMDB e adjacentes partidos de aluguel, bem como boa parte do grande capital nacional. Nisso ela foi uma manobra genial.

Essa gente domina o congresso nacional e vê-se na iminência da humilhação judicial instrumental. Só uma pessoal os pode oferecer socorro eficaz: José Serra. Porque ele pode mandar a imprensa parar de repercutir e alimentar o espetáculo de linchamento judicial tático.

Então, José Serra já está acordado com Michel Temer, que estará bem pago com a faixa presidencial e o título; nunca almejou mais, nem seria capaz de ir mais além, realmente. Para dar provas de seu real poder junto à imprensa, Serra providenciou sinais: uma revista da Globo já detalhou esquemas de Aécio neves; um portal de notícias da Folha de São Paulo fez o mesmo.

Ficou claro que, hoje, a opção é pelo golpe via impeachment e que, portanto, o espetáculo judicial de perseguição a Lula, incessantemente mostrado e reapresentado na imprensa, é jogo de cena e meio de desviar atenções e ganhar tempo para a consumação do golpe parlamentar.

Em um governo Temer, Serra seria o poder de fato e poderia consumar seu sempre acalentado projeto de entregar a maior riqueza do país aos interesses externos: o petróleo. Paralelamente a isto, que é o principal, Serra trabalharia com afinco para a aprovação do modelo sonhado pela classe dominante brasileira: o parlamentarismo.

Aprovado o parlamentarismo, ou seja, a democracia sem povo, os riscos da loucura generalizada estariam minimizados, pois o presidente seria figura meramente decorativa.

Dramático é esse iminente desfecho em que um governo foi sitiado e teve retirada qualquer capacidade de reação pelo assalto em várias frentes com a imprensa a fazer bombardeio diário. E patética é a situação de supostos líderes das hostes oposicionistas que se viram enredados no plano de Serra e sumariamente expurgados pela imprensa na reta final.

Serra e o entreguismo escancarado.

Essa maravilha que são os vazamentos do Wikileaks deixou claro que o entreguismo era a força motora da campanha de José Serra, o corretor do Brasil.

Uma comunicação diplomática de dezembro de 2009, revela que a executiva da Chevron Patricia Pradal conversou com o então candidato José Serra sobre o modelo de exploração do petróleo brasileiro. E que o candidato assegurou-lhe que mudaria o modelo novamente, para diminuir a participação da Petrobrás e, evidentemente, leiloar a festa entre as petroleiras estrangeiras.

A representante da Chevron relatou as conversas ao Cônsul norte-americano no Rio de Janeiro, que as repassou ao Dep. de Estado. A preocupação dessa gente é o modelo de partilha, adotado para a exploração das imensas reservas do pré-sal brasileiro. Eles temiam que a Petrobrás assumisse papel muito destacado na exploração e queriam, como sempre querem, espaço para o saque.

Que José Serra representou os entreguistas, todos sabem, embora nem todos queiram aceitá-lo. Agora, o que sempre se soube está documentado sem eufemismos em uma correspondência oficial da diplomacia norte-americana, com aquela clareza de identificar os nossos e os outros.

E voltando pra política… Vídeo do projétil lançado contra Serra!

Tomara que Serra passe a andar de capacete, ou pelo menos tenha medo daqueles que jogam sapatos a partir de agora. “Marcha soldado, cabeça de papel…”

Desse episódio ficam algumas frases colhidas a dedo pelo Twitter sob a hashtag de #serrarojas (alusão ao goleiro chileno Roberto Rojas, que por temer a desclassificação do Chile nas eliminatórias da Copa do Mundo de 1990, fingiu ser atingido por um sinalizador):

* – Exame de “bolística” determinou que o projétil saiu de uma resma de papel A4…

* – Serra, o único ser humano que é avisado por telefone que está sentindo dor de cabeça.

* – Ainda bem que foi uma bolinha de papel, se fosse bolinha de sabão, Serra diria que o PT usa armas químicas.

* – Serra mandou balas, bombas, gás de pimenta…nos professores. E se faz de vítima com uma BOLINHA DE PAPEL???

* – Atenção, médico diz que Serra está contaminado depois da agressão sofrida, a bolinha era de uma página da Veja!!!

* – Será q @joseserra_ enfrentou a ditadura com a mesma bravura que enfrenta bolinhas de papel?

* – Exclusivo: imagem da tomografia do Serra após ser atingido pela bolinha de papel:

Imagem da tomografia de Serra
Imagem da tomografia de Serra

Mitos Tucanos 3: A vulnerabilidade externa

Recebi por email, não por acaso do próprio Andrei, a seguinte carta do professor Ricardo Carneiro* com tema já descrito no título.

Costumo, por via das dúvidas, sempre verificar a veracidade dos correios que recebo, para que não aconteçam coisas como essa: “Arnaldo Jabor” escreve um texto, que não é dele e tem que se desculpar ao vivo pela CBN… E ainda há quem aceite o referido texto muito bem. Não querendo defender Jabor claro, mas o texto não é dele, simples assim. Parece que as pessoas pensam que se escondendo por trás de qualquer nome de artista vão dar mais credibilidade ao que escrevem, sentindo-se livres para escrever qualquer bost… Bom, de forma que pelo menos o Ricardo Carneiro é realmente professor da Unicamp… E como o texto também está disponível no Blog de Nassif, que considero sério, resolvi publicar na íntegra. Espero que esteja tudo nos conformes.

Dentre os vários mitos alardeados pelos tucanos nos últimos anos está aquele que afirma que o Governo Lula recebeu como herança uma economia sólida e sem fragilidades, sobretudo no front externo. Nada mais falso. Há vários indicadores que podem mostrar isto. Escolhemos o mais sintético deles, o das reservas internacionais possuída pelo país.

O gráfico abaixo reconstitui o valor das reservas desde 1998. Faz uma distinção importante entre o que de fato eram reservas próprias e disponíveis e aquelas reservas que correspondiam aos empréstimos do FMI – as reservas emprestadas. Essa distinção era, aliás, uma exigência do Fundo com base no argumento de que na prática esses recursos deveriam ser devolvidos a curto prazo.

Como se pode constatar o volume de reservas é relativamente baixo, para uma economia aberta como a brasileira durante todo o segundo mandato de FHC. O dado mais significativo, porém é que essas reservas são declinantes. Elas eram de US$ 34,4 bilhões em 1998 e caem a menos da metade ao final de 2002. Ou seja, o Governo Lula herda desse ponto de vista uma situação crítica: reservas de US$ 16,3 bilhões, além de um acordo com o FMI.

A recuperação das reservas se faz de maneira continuada e significativa desde o primeiro ano do Governo Lula. Foi isto que permitiu já no terceiro ano do primeiro mandato pagar o empréstimo do FMI e, mesmo assim, manter um nível muito mais elevado de reservas próprias de cerca de US$ 53,8 bilhões. Apenas para ficar mais claro o significado desses números, o Brasil pagou em 2005 cerca de US$ 25 bilhões que devia ao FMI e ainda ficou com US$ 53,8 disponíveis, cerca de quatro vezes mais do que o herdado de FHC.

De lá para cá as reservas internacionais só tem aumentado; os últimos números apontam um valor em torno de US$ 270 bilhões. Elas constituem um importante seguro contras as turbulências externas como, aliás, se pode observar em 2008 e 2009. Não só inibiram um ataque especulativo contra o real como possibilitaram a reconstituição das linhas de financiamento do comércio exterior brasileiro. A conclusão desses números é portanto inequívoca: o Governo lula herdou uma economia fragilizada do ponto de vista das suas relações com o exterior e, reduziu substancialmente essa fragilidade.”

Grafico reservas internacionais

Grafico reservas internacionais

* Ricardo Carneiro é professor livre-docente do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (Cecon) deste instituto.

O jogo sujíssimo do Serra. Um caso de absoluta falta de escrúpulos.

Não vejo televisão desde o mundial de futebol, a copa da África do Sul. Isso não é algum exagero, é que não vejo mesmo, pois não me apetece. Passo bastante tempo conectado à internet, por outro lado, embora ande por poucos sites.

Uma postura da campanha de Serra eu não tinha visto ser anunciada em qualquer site, até hoje, embora supusesse que aconteceria.

Realmente, na semana passada, dizia a Olívia: acho que vão espalhar que Dilma é lésbica, porque essa gente não tem qualquer limite, porque pouco importa que seja verdade ou não e porque uma boa parcela das pessoas é profundamente estúpida e acha que isso é importante.

Ela disse-me que isso já anda circulando por aí. Ontem, falei o mesmo com Severiano e ele me disse: rapaz, já estão fazendo isso, tem até vídeo de uma mulher que afirma ter-se relacionado com Dilma.

Era previsível, bastava saber da falta de qualquer escrúpulo do Serra e da mentalidade estreita de parte da população. Mas, aqui, a coisa é tão vil que a melhor estratégia é mesmo não repercutir, não responder.

O Brasil se parece muito com os EUA em algumas coisas e uma delas é essa profunda estreiteza mental – burrice, mesmo – que se reflete na preocupação das pessoas com as vidas sexuais de políticos e candidatos. Ora, isso é do âmbito privado e devia ser colocado no rol das desimportâncias. É um desassunto, pura e simplesmente.

Não convém deixar-se contaminar pela noção de que as diferenças quantitativas são irrelevantes e que as qualitativas são as únicas e absolutas a serem tomadas em conta. Essa noção deformada é uma variante da tolice despolitizante segundo a qual todos são iguais, segundo a qual não há ideologias e segundo a qual a falta de escrúpulos dos políticos é a mesma.

Isso é falso e existem, sim, relevantes diferenças, qualitativas e quantitativas. O caso de Serra é revelador de uma baixeza muito grande até para padrões políticos brasileiros. No nível em que se encontra a campanha de Serra, percebe-se que não se trata somente de jogo sujo instrumental. É jogo sujo como único resultado possível de uma mente suja, ou seja, é o produto natural da origem natural, muito mais que algo milimetricamente pensado.

É autofágico e sem barreiras. É, enfim, como o sujeito que abre a caixa de Pandora porque quer ver sair de lá o que sabe estar lá.

A UDN tinge-se de verde, mas não é suficiente para provocar segundo turno.

Uma mistificação política antiga, porém de razoável eficácia prática, são os candidatos auto-anunciados de terceira via. Em eleições majoritárias, com dois turnos de votação, caso seja necessário o segundo, evidencia-se que não há o terceiro alternativo. Não apenas porque evidentemente só disputam dois, mas porque o terceiro alinhar-se-a a um desses dois. No fundo ele era menos terceiro que dizia.

Claro que não se trata de afirmar a impossibilidade de três candidaturas competitivas, que podem existir. Todavia, quando uma terceira via é sabidamente incapaz de êxito final, ele serve a uma das duas viáveis. Pode servir voluntária ou involuntariamente, mas é pouco razoável acreditar em movimentos eleitorais involuntários, vindos dos jogadores.

Uma característica marcante das candidaturas terceira via é parecerem opção intelectualmente mais sofisticada e, por isso mesmo, menos abrangentes e aptas a seduzirem menos pessoas. Isso dá conforto ao eleitor que acha a real marca por trás da terceira via muito truculenta ou estigmatizada. E um conforto duplo, porque ele sabe que não trai os objetivos reais, no fundo.

Uma comparação possível – e precária como todas as comparações – é com a prática relativamente comum de montadoras de automóveis terem marcas de prestígio, em que carros feitos sobre as mesmas plataformas da marca mais popular têm um destaque, maiores preços e menores vendas. Um automóvel Lexus é e não é um Toyota, ao mesmo tempo.

As eleições presidenciais brasileiras, do próximo dia 03 de outubro, têm uma candidadura muito festejada de terceira via. Trata-se de Marina Silva, ex-ministra do meio ambiente do governo do Presidente Lula. Quando ainda ministra, ela era constantemente acossada e até ridicularizada pelos media dominantes, jornais e TVs e revistas semanais pseudo-informativas.

Após deixar o ministério e anunciar sua candidatura verde, passou a merecer uma abordagem mediática suave, quase ingênua. Criou-se a figura da candidata idealista, lutadora quixotesca pelo valor ecológico supremo. Passou a ser cortejada pelos mesmos media que a atacavam, convidada a entrevistas em que as opiniões propriamente políticas eram favoráveis à candidatura udenisto-ornitóloga e as opiniões programáticas eram quase o vazio.

O meio ambiente é parte de qualquer programa político governativo, seja em um sentido, seja em outro. Além de ser algo sumamente importante, os tempos não permitem deixar o assunto de lado. Contudo, não se sustenta uma postulação cuja única matéria tratada é o meio ambiente, como não se sustentaria uma que girasse exclusivamente em torno às comunicações, ou à educação, ou à justiça.

Uma parte não se confunde com o todo que integra e as pessoas percebem isso e os próprios candidatos também. A candidata sabe, que não é tola, que é preciso mais que um discurso ecológico para vencer eleições presidenciais. E sabe que não pode acusar o eleitorado de ser tolo por não se preocupar com a ecologia.

O eleitorado preocupa-se cada vez mais com a ecologia, embora de forma difusa e superficial, a partir das informações distorcidas que recebe dos meios de comunicação, que alternam desde a ecologia de plantação de alfaces até a de endeusamento de plantas geneticamente modificadas.

Resulta que a oferta de informações superficiais, cambiantes e, às vezes, claramente compradas por algum interesse leva o público a perceber que há uma questão, mas também a percebê-la como um detalhe imerso em muitas outras coisas mais imediatas. O discurso restringe-se e torna-se sedutor ao cidadão que, embora ignorando quantos litros de água descem numa descarga sanitária, acha sofisticado e up to date votar verde e só verde. Mas, o verde está no azul, no vermelho, no amarelo, basta um prisma para constatá-lo.

Hoje, a candidata Dilma Roussef tem 10% de vantagem sobre os outros somados, em três dos quatro grandes institutos de sondagens eleitorais. Em um deles, que parece ajustar seus resultados obedecendo a uma lógica astrológica, ela tem 04% de vantagem. Em qualquer deles, portanto, com ou sem astrologia, ela venceria as eleições na primeira volta.

Por isso a aposta neo-udenista – a variante que acresce os pássaros aos mamíferos – no crescimento da terceira via, porque seria a única forma de levar a decisão para a segunda volta, sem a terceira via na disputa, é claro. Assim, e em política não há o assado, está claro a quem interessa falar de crescimento da candidatura verde e tentar aumentar esse crescimento.

Curioso seria se desse certo e a embalagem verde acarretasse a segunda volta e passasse a ela. Não sei realmente como se comportaria a congregação neo-udenista. Imagino que se esforçariam para superar a estupefação e tomar o controle da surpresa eleitotoral, como donos dela que são.

Imagino, contudo, que seria pior que se conseguissem ir à segunda volta com seu próprio Toyota. Porque a decisão entre Dilma Roussef e Marina Silva permitiria apostar em resultado francamente favorável à primeira. Uma decisão entre Dilma e José Serra seria mais imprevisível e por margem mais apertada, porque a nitidez é mais vantajosa no jogo sem empate.

O segundo turno é muito remoto, mas convém lembrar que tipo de estratégia utilizou-se para tentar fazer com que ocorresse. E lembrar que a estória de terceira via não passa de estratégia eleitoral de um dos lados, considerando quem serviu a quem.

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