Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Um calor assassino.

Esse texto não tem qualquer pretensão científica e não é uma afirmação do aquecimento global. Ele existe mesmo, com texto ou sem ele. Por não se chegar a um consenso sobre quem pagará a conta, adiamos a abordagem do problema. Enquanto isso, chuvas de mais e de menos, frios de mais e de menos, calores avassaladores vão nos destruindo a vida.

Quero enfatizar é o nível de desconforto que se vive, dia e noite, todo o ano, sem tréguas, aqui nestas plagas. É um calor quase tangível materialmente, como se fosse algo corpóreo, táctil. Provoca uma irritabilidade tremenda, uma indisposição para tudo, uma situação doentia. Não há exagero possível nas adjetivações, com tanto exagero nas temperaturas.

Alguém que viva nas grandes latitudes não compreende totalmente isso que digo. Nelas, há variações, e aos calores sucedem os frios, com etapas intermédias, dando ritmo às passagens do clima e à vida. As pessoas desenvolvem o fascínio do calor, porque ele afasta as dificuldades do frio. Mas, contam com a volta da estação fria e recebem-na satisfeitos, porque afasta a opressão do calor.

Isso aqui é a ante-sala da loucura e da inviabilidade da vida, como seria algum sítio em que fosse inverno todo o tempo. Essa é a comparação adequada, porque aponta o aspecto central. Ou seja, além de estar nitidamente mais quente, está quente o ano inteiro, sempre.

Ao contrário do frio, para o calor não há defesa. Andar nu ou semi-nu não é solução para o calor, é exibicionismo corporal, apenas isso. O mal-estar que se sente com uma camiseta de mangas curtas ou sem ela é o mesmo. Há uma diferença, na verdade, sem a camisa ainda se toma o sol, queimando fundo a pele.

Caminha-se um pouco e transpira-se a ponto de encharcar a camisa e sentir o colarinho pregado ao pescoço. Sai-se de um ambiente refrigerado e corre-se para o automóvel com ar refrigerado, para ir a qualquer canto que tenha também ar refrigerado. Se algum trabalho impõe os trajos completos, camisa, gravata e paletó, então é quase um martírio, além do ridículo, é claro.

5 Comments

  1. Domingos Sávio

    Como diz o velho ditado : urubú tá voando com uma asa só, com a outra ele se abana. Prá completar o prédio onde trabalho, aquele bichano lá da Rio Branco, a central de ar deu pau. Uma nova duas balas. Enquanto não licitam, etc e tal, nós vamos trabalhando com janelas abertas (o correto seria dizer semi-abertas), ventiladores portáteis, em resumo: um inferno. A vantagem é que quando a gente desce para o almoço ou quando encerramos o expediente e vamos para casa não sofremos choque térmico. Tá difícil. A Celpe está gostando muito desse calor…

    • andrei barros correia

      Domingos,

      A procuradoria onde trabalho era sediada em um prédio do INSS, anteriormente. O ar-condicionado não funcionava. Era, sempre insisto nisso, um inferno.

      Mantinhamos as janelas abertas e os papéis voavam! Todo mundo abusado, transpirando, sentindo aquele calor opressivo.

      Agora, mudamo-nos para um prédio próprio, onde os aparelhos de ar-condicionado funcionam. Melhorou bastante, mas, como você apontou, toda saída é um choque térmico.

      Nossos prédios são construídos de forma burra, reféns de certos fetichismos arquitetônicos. A bobagem mais comum é o teto baixo. Serve apenas a ambientes bem climatizados.

      A arquitetura colonial portuguesa foi muito inteligente no seu transplante para o Brasil. Adotou o pé direito alto e as janelas em bandeiras, acima das portas. Mas, hoje isso considera-se anacronismo!

      As coberturas vegetais vão acabando-se, outra estupidez.

      Isso não é mesmo brincadeira, Domingos. Toda uma conjunção de fatores vai destruindo as pessoas no ambiente de trabalho e o clima é um deles.

      No Recife, que além de muito quente, é muito húmido, o ruim torna-se pior. É uma sauna húmida, ambiente propício para o cultivo de fungos e bactérias, mas não de pessoas.

  2. Domingos Sávio

    Perfeito. A minha asma entende-se muito mal com o clima de Recife. E a sabedoria portuguesa infelizmente ignorada. Moramos numa casa assim que ainda está de pé. A descrição lhe cabe bem, é perfeita. Tínhamos um ambiente sadio. Os “antigos” sabiam lidar com a umidade e a necessidade de luz e ar na medida certa. Os modernos entendem-se bem com as centrais gigantescas de ar-condicionado. Embora o clima seja agradável e o trabalho renda, o ar não é de boa qualidade. Uma vez que os dutos quilométricos não são limpos.

  3. maria josé

    O problema do pé direito alto é que não rende .O negócio é espaço para vender e assim vamos perdendo qualidade de vida.

  4. Dee

    And this is the main reason I read apocaodepanoramix.com. Fascinating posts.

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